Saudações, mancebos! Sejam
todos muito bem-vindos a mais programa dominical de críticas do Mundo Virtual.
Tudo bem com vocês?
Bem, apesar de uma crise
alérgica própria desse planeta que me acomete todo ano desde os milhares de
anos que aqui estou, me encontro bem o suficiente para não faltar mais esse
domingo e entregar uma nova crítica a vocês. Ah, e não pensem que me esqueci, em
breve teremos sim o programa com crítica dupla. Será no próximo? Ainda nesse
mês? No final do ano? Aguardem. Mas vamos logo ao que interessa.
E a crítica de hoje é sobre
Rico Coração, escrita por Diego Silva e exibida no Ranable Webs. Confiram a
sinopse:
“Luis Carlos é um
empresário rico, proveniente de uma família nobre, a família Perez Huerta. Ele
é filho de Estela e Raul, uma mulher voltada para a riqueza. Luis Carlos
tem três filhos: Marcelo, o mais velho, Catarina, a do meio, e Enzo, o mais novo,
todos passando por conflitos, principalmente após a morte da mãe. Tudo muda
quando Luis Carlos conhece Amanda, mãe solteira do pequeno Nicolas e secretária
da Empresa Huerta. Leôncio é o irmão invejoso de Luis Carlos e arruma um plano
para conquistar seu lugar na Empresa, pois o testamento de Raul o retirou de
todas as propriedades. Vocês irão se divertir nessa história repleta de
intrigas e comedia.”
Quem acompanha o Primeira
Impressão desde a temporada passada sabe bem que o que me atraiu na cultura escrita
humana, dos papiros e páginas aos posts de Internet, foi nada mais, nada menos
que a terrivelmente divertida esperança humana. “Divertida”. Há de ter uma
razão para que esse adjetivo seja utilizado por mim ao caracterizar tal marca
da humanidade, e de fato há. Para além do claro significado de entretenimento e
lazer, “diversão” também está ligada à mudança de uma determinada direção, do
ódio à raiva, da rivalidade à união, da derrota à persistência no caso da
humanidade e, no nosso caso, da tristeza ou indiferença à alegria.
E qual é o objetivo dos
autores e realizadores de uma comédia – seja ela em audiovisual ou literatura –
senão trazer a alegria para o seu público? Algumas obras vão além e na verdade
utilizam a comédia para adentrar os terrenos das discussões ideológicas, dos
temas sociais, das causas em pauta, ou seja, para passar uma mensagem que seus autores
julgam relevante. Mas, com ou sem uma causa maior, a comédia precisa, acima de
tudo, fazer rir. Quão grande fracasso é para um comediante, ao invés do
som arrebatador de uma plateia se dobrando de gargalhar, ouvir o mais absoluto
e cruel silêncio. Alecrinus, um sujeitinho pretensioso da Roma de 102 d.C., se
suicidou após 3 piadas nada pretensiosas que fizeram metade do público do
Coliseu cochilar; trágico. Mas podem também as webproduções se encaixar no
gênero da Comédia e fazer seus webleitores rirem? Bem, ao menos é essa a
principal proposta de Rico Coração, webnovela cuja estreia analiso hoje.
O autor, Diego Silva, já
marcou presença aqui no programa por duas vezes, a primeira com Força de um
Sonho e a segunda com Páginas do Amor, e já de início é possível notar um
terceiro degrau de evolução percorrido pelo mesmo, uma vez que o capítulo
começa apresentando uma noção de linguagem cinematográfica um tanto mais
avançada, já que o intuito do autor com suas obras é que os leitores imaginem
algo próximo a uma obra filmada, como se utilizasse dos recursos da mesma. Por
outro lado, apesar de a obra ser “vendida” como tendo uma história original,
ao final da estreia fica claro como água qual será o mote principal, o que é um
ponto positivo para a apresentação de premissa, mas também deixa escancarada
uma história clichê a ser contada. Querem ver só? Luis Carlos, que no prólogo é
apresentado perdendo a esposa Daniela para uma grave doença, e que quando os
anos se passam é introduzido como presidente da empresa da família e de boa
índole, certamente terá um interesse amoroso com a mocinha e protagonista Amanda,
que no prólogo enfrenta as acusações do pai e o apoio da mãe após descobrir que
está grávida e que será mãe solteira, e que anos depois, insatisfeita com seu trabalho
em um açougue onde precisa atrair clientes fantasiada de galinha, procura
emprego justamente na empresa onde preside Luis Carlos. O autor ou quem
leu/lerá o restante da novela pode me cobrar.
Aliás, essas cenas iniciais
que compõe o prólogo – que se passa em 2009 – acabam por deixar na verdade um
sabor agridoce na mente degustativa do leitor, já que os últimos momentos de
Luis Carlos com a esposa Daniela são uma das coisas mais tristes que já li no
Mundo Virtual. E alguns de vocês podem até dizer que isso é subjetivo, mas como
podem negar um nó na garganta diante de uma cena em que o marido, pensando que
a esposa está cochilando ou até dormindo profundamente, a elogia?... Tudo bem
que pouco antes o mesmo Luis Carlos deixou a entender que a necessidade de
Daniela ficar viva era “tomar conta dos nossos filhos”, mas prefiro pensar que
isso foi apenas uma falta do autor, que não expressou seu personagem de forma
apropriada naquele momento. Bem, ao menos não é essa triste cena a inicial, e
sim a de Amanda descobrindo que está grávida. Aliás, é ela quem tem mais presença
nesse prólogo; ainda bem, não é mesmo? Apesar de suas cenas ali serem
conduzidas com leveza, a comédia ainda não se mostra tão presente.
E a bem da verdade é que não
há nenhum momento nesse capítulo que faça o leitor rolar de rir, mas é inegável
a presença de situações cômicas ou absurdas que soam divertidas e engraçadas, e
o melhor: sem comprometer a narrativa. Por exemplo: parte da história de Amanda
após o salto temporal é sua insatisfação em seu atual emprego. E o conjunto da
fantasia de galinha com as cobranças do chefe caricato compõe a situação
absurda com potencial cômico. Outro momento, o mais divertido da estreia, é
quando os 3 filhos adolescentes de Luis Carlos se acotovelam para o atazanarem
com seus pedidos e anseios, culminando na “explosão” do pai à la Quico do
Chaves. A importância do momento para a narrativa? O estabelecimento de que
Luis Carlos ainda encontra dificuldade em criar sozinho seus filhos, e que
obviamente ele está solteiro – o que abre um caminho direto para a minha aposta
de que ele se envolverá com Amanda no futuro próximo.
Mas se esse salto temporal é
importante para a trama, pois a situa no tempo em que a história precisa ser
contada, igualmente deficiente o é em termos de clareza acerca do tempo exato
que se passou desde o fim do prólogo, que se situa em 2009. Nicolas, o filho de
Amanda, é introduzido sem ter sua faixa etária revelada, o que impossibilita a
existência de qualquer pista acerca da quantidade de anos saltados. Estamos
vendo uma criança ou um mancebo no auge da adolescência? Aliás, falta de
apresentação dos personagens é uma constante aqui, não só como nas duas obras anteriores do autor que analisamos como também
na maioria das produções do Mundo Virtual. Mas é agora que eu quebro as
expectativas de vocês, mancebos, pois pela primeira vez desde o início do
programa eu arrisco dizer que essa característica, exclusivamente nessa estreia,
não compromete de todo a obra, e o motivo é muito simples: tal problema é
compensado pelo contexto de cada cena e pela ambientação da mesma (excetuando,
é claro, a cena em que aparece o garoto Nicolas). Por exemplo: uma mulher numa
clínica relacionada à gestação, um homem na presidência de uma empresa, um
adolescente em uma escola, etc. São casos em que conseguimos ter uma boa noção
de como os personagens são fisicamente, alguns desses funcionando como arquétipos.
Salvo? Sim, mas por um triz.
Outro livramento por pouco
que ocorre nessa estreia é o dos diálogos, que aqui ainda carregam aquele
estilo expositivo visto nas duas obras anteriores que criticamos, estilo esse
onde coisas óbvias para os personagens são ditas apenas para que o leitor tome
conhecimento; uma técnica nada orgânica e, por isso, equivocada. Mas esse
problema aqui é um pouco amenizado por se tratar de uma comédia. Não que
exemplares do gênero sejam naturalmente inferiores, que aceitem problemas, mas
há algumas características que, destoando em um drama realista, por exemplo,
soam mais localizadas quando vistas em uma comédia, soam como parte da proposta
da obra.
Essa estreia também traz algumas surpresas, como o ótimo nível da ortografia, nesse quesito superior a obras consagradas do MV; e a pontuação não fica muito atrás. E, no final das contas e diante disso tudo, o capítulo se mostra uma estreia leve e com núcleos melhor organizados que naquelas obras anteriores do autor. Núcleos esses que, ao final da leitura, o leitor sabe quais são suas relações uns com os outros, de forma que não haja núcleos de personagens avulsos. E todo esse conjunto de acertos apontados na crítica também permite que mais da verdade e da alma do autor apareça nas linhas da obra. Bem, senão em humor, ao menos rica do que está no coração do autor podemos dizer que essa estreia é.
Novela: Rico Coração
Autor: Diego Silva
Capítulos: 20
Emissora: Ranable Webs
Clique aqui para ler o 1° capítulo
Agora vocês me contam: já
leram essa novela? O que acharam da mesma? E concordam ou não com a crítica?
Gostaram? Digam tudo nos comentários.
Bem, vamos ver agora o
comentário do autor da obra criticada no programa passado. Vejamos:
Por nada, Vitor. Eu é que agradeço pela
obra que proporcionou nossa análise e também pelo retorno como réplica, algo
sempre bem-vindo nesse programa. Sobre a questão das características físicas
dos personagens... O que acontece é que muitas-- não! Diversas obras do
Mundo Virtual “constroem” a primeira aparição de vários de seus personagens
apenas dizendo algo como “João levanta da cama e vai ao banheiro”, sem um
mínimo de descrição sobre essa figura, no caso chamada João. E lendo apenas
algo como essa frase o leitor não consegue visualizar se João é um mancebo, um
adulto ou mesmo um homem de meia-idade, por exemplo. Quando temos sorte ainda
conseguimos pescar, como leitores, pistas que aí sim nos possibilitam ter um
vislumbre melhor da figura cuja história estamos acompanhando. E entendo que na
página da websérie há um espaço para que os leitores confiram os atores que
você, como autor, imaginou interpretando os personagens, o que realmente
facilita a imaginação. Mas uma obra precisa se sustentar individualmente, por
si só, assim como, por exemplo, uma adaptação cinematográfica não pode exigir
de seu público conhecimento prévio do livro no qual se baseia – a não ser que
fosse o caso de algo mais experimental, onde obra e outros meios
se complementassem, mas aí haveriam avisos, indicações de links em
ambas, e não é o caso. Bem, quanto a Emerenciano, de fato se mostrou um
personagem com muito potencial, acredito que fará uma oposição interessante ao
protagonista Domênico. E em relação às cenas de sexo, fico contente que hoje
tenha uma visão mais crítica. Como eu disse no texto: não se trata da natureza
dessas cenas, mas da sua utilidade para a narrativa. Pois a última cena do tipo
nesse capítulo de estreia realmente ajuda a história a ser contada, está
intimamente ligada à trama (ao menos é o que parece). Vitor, muito obrigado
pela participação e aguardo novas obras suas. Foi um prazer!
Bem,
e se alguém perdeu o programa passado, basta clicar aqui para lê-lo. E qualquer
sugestão de novas obras para analisarmos aqui no programa podem ser feitas nos
comentários abaixo.
Mas
por hoje é só, queridos. Fiquem bem, fiquem tranquilos, se mantenham seguros e
até o próximo domingo com mais um Primeira Impressão!
Obrigado pelo seu comentário!