Capítulo 02:
- No capítulo anterior:
IGOR: Adivinha quem é? (Perguntou Igor cobrindo os olhos de Malu).
MALU: O amor da minha vida! (responde Malu para logo em seguida beijá-lo). Precisamos conversar, tenho algo para contar.
IGOR: O que houve amor? É sobre aquilo? Ainda não veio?
MALU: Não. Estou apavorada, com muito medo. A minha mãe vai me matar, ela jamais vai aceitar que fiquemos juntos. Ela quer que eu me case com o César, filho do coronel, mas eu não o amo, não me importo com o dinheiro e que sejamos pobres, eu quero ficar com você, eu quero amar e ser amada, só isso.
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MARLENE: Você tá grávida, Maria Lúcia?
MALU: Que absur...
MARLENE: Me responde garota! (Marlene agarra Malu violentamente pelos braços). Diz pra mim que você não cometeu a estupidez de engravidar agora, diz!
MALU: Tá bem! (Grita). Eu estou grávida.
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MALU: Que lugar é esse? Mãe, isso é sequestro. A senhora não deu uma palavra o caminho inteiro, o que vai fazer comigo? Que lugar é esse?
IRMÃ FELÍCIA: (Abre o portão e caminha em direção ao táxi) Bom dia Dona Marlene, é ela não é? (pergunta olhando pela janela do táxi).
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MALU: O que vocês vão fazer comigo? (Malu chora enquanto continua ao chão).
IRMÃ FELÍCIA: Vejo que a sua mãe não te educou muito bem e também não te contou onde você está. Esta casa recebe moça como você, que deram um mau passo. Aqui você permanecerá durante a gravidez e depois...
MALU: Depois... O que acontece depois?
IRMÃ FELÍCIA: Depois nos livramos da criança. Damos para adoção, vendemos para algum casal mais necessitado, se é que me entende! (Conclui).
MALU: (Observa a freira incrédula e horrorizada com o que acabara de ouvir).
- Fique agora com o capítulo de hoje!
Cena 01 – Casa Santa Clara [Interna/Manhã]
IRMÃ FELÍCIA: Bom, agora que estamos esclarecidas e você já se prestou a esse papelão, uma irmã trará alguns lençóis e toalhas limpas, o almoço será serviço ao meio dia, não se atrase. Você não quer ser uma gestante sem almoço, quer?
MALU: Não senhora.
IRMÃ FELÍCIA: Ótimo, se você se comportar desse jeito, iremos nos entender muito bem. Te vejo no refeitório, esteja lá na hora acordada. (Sai do quarto, deixando a porta entre aberta).
(Irmã Fátima entra sem ser vista e sem fazer barulho)
IRMÃ FÁTIMA: Não chore minha querida. Levante-se do chão, eu me chamo Fátima e vou te ajudar a ter uma estadia mais amena nesse local.
MALU: Eu não quero entregar meu filho, o pai sequer imagina que estou aqui. Ele quer assumir, casar comigo, minha mãe está fazendo isso em nome de sua ambição. (Responde enquanto se levanta com ajuda da irmã).
IRMÃ FÁTIMA: Vamos ter muito tempo para conversar nos próximos meses. Agora você deveria tomar um banho, trocar de roupas e se recompor até a hora do almoço. Lá atrás tem um pátio com outras moças, você pode ir até lá e conversar com quem quiser. Não fique triste, tudo vai ficar bem!
Cena 02 - Jardim – Casa Santa Clara [Externa/Tarde]
IRMÃ FELÍCIA: Bom, agora você já está mais tranquila e aproveitando o sol do fim de tarde, cheque sua agenda com a Irmã Fátima, temos médicos especialistas que farão seu pré-natal. Não é proibido que se relacione com as outras moças, pode se enturmar, afinal... Você vai passar muito tempo aqui. (Irmã Felícia atravessou todo o pátio, até entrar na casa).
MALU: Oi! (Disse ao se aproximar de uma moça sentada num dos bancos do grande jardim da Casa Santa Clara, era Amélia, que estava a tricotar).
AMÉLIA: Oi, você é nova aqui, não é? É a primeira vez que te vejo aqui. O meu nome é Amélia, e o seu?
MALU: Meu nome é Maria Lúcia, mas todos me chamam de Malu, cheguei há poucos dias. Com quanto tempo você está?
AMÉLIA: Quase seis, é um menino. E você?
MALU: Estou com quase três, ainda não passei num médico para acompanhar, sabe? Como você veio parar aqui?
AMÉLIA: A minha história não é muito diferente das outras moças que estão aqui. O meu pai é candidato a prefeito na minha cidade, acha que seria viável para os interesses políticos dele uma filha grávida e abandonada pelo namoradinho? Ele me jogou aqui e fez toda cidade acreditar que fui estudar na Suíça, ele disse que é mais elegante. (As duas permanecem em silêncio por alguns segundos).
MALU: Meu caso é um pouco diferente, é quase um sequestro. Minha mãe queria que eu me casasse com um homem rico, mas eu me apaixonei por um que era pobre, mas incrível e muito honesto, ele quer esse filho tanto quanto eu e quer casar comigo. Minha mãe ficou enlouquecida quando soube da minha gravidez e me trouxe para cá, sem sequer me dizer para onde estávamos vindo e agora estou aqui, incomunicável, sem saber como estão as coisas e o que o Igor está pensando.
Cena 03- Rodoviária [Interna/Noite]
(Igor está sentado num banco da rodoviária, enquanto encara sua passagem e pensa em Malu)
- Passageiros com destino a Santa Catarina, embarque pela plataforma dezenove em dez minutos. (A voz saía de uma caixa de som próxima ao teto).
IGOR: É, você me deixou, preferiu casar com outro só por conta do dinheiro, esqueceu do amor que tínhamos e matou o nosso filho. (Igor fala enquanto olha foto de Malu que tirou da carteira). Eu não consigo te odiar mesmo com tudo isso, mas eu também preciso seguir minha vida.
(Igor recolhe a mochila, coloca nas costas e caminha em direção a plataforma de embarque sem olhar para trás).
Cena 04 - Consultório Médico [Interna/Tarde]
MÉDICA: Vejamos o que temos aqui... (A médica acabara de colocar gel na barriga de Malu e começa a realizar o primeiro exame de ultrassonografia, até ficar em silêncio).
MALU: O que foi doutora? Tem alguma coisa errada com o bebê? Ele está bem?
MÉDICA: Está sim. (Vira o monitor de modo que Malu consiga ver). Está vindo isso aqui? Este é o coração do seu bebê...
MALU: Sim, eu consigo vê.
MÉDICA: Isso aqui, é o outro coração. Você está grávida de gêmeas univitelinas, idênticas!
MALU: Gêmeas? Eu vou ter gêmeas? (Se emociona).
MÉDICA: Não fui clara? Não ouviu querida? (A médica limpa o abdômen de Malu e retira as luvas). Acabamos por aqui, você pode pedir para que a próxima paciente entre, por gentileza?
Cena 05 – Casa de Rosana e Francisco [Interna/Tarde]
FRANCISCO: Não deveríamos ter voltado para casa hoje, o médico só iria te liberar amanhã. (Francisco apoia Rosana e ajuda a sentar num sofá).
ROSANA: E o que queria que eu fizesse? Aquele lugar estava me deprimindo, me enlouquecendo. Eu não conseguia parar de pensar no que aconteceu. Como acha que estou me sentindo? Eu me sinto impotente, incapaz. Nem um filho eu consigo te dar, esse foi o terceiro que perdi, fico me perguntando a Deus que mal eu fiz para pagar na terra dessa forma, eu só queria ser mãe.
FRANCISCO: Jamais volte a repetir isso, você é uma mulher incrível. Se você quer tanto me dar um filho, existem outros meios, nós podemos adotar e amar uma criança da mesma forma, pois amor não falta no nosso lar. (Beija Rosana). Eu te amo!
Cena 06 – Casa Santa Clara [Externa/Tarde]
Meses Depois...
MALU: (Corre desesperadamente pelo pátio em direção ao interior da casa) Irmã Fátima, Irmã Fátima! (grita).
IRMÃ FÁTIMA: Menina, olha o tamanho da sua barriga, você não deveria correr no seu estado. Qual o motivo desse nervosismo?
MALU: A Amélia, a bolsa dela estourou, ela está sentindo muitas dores. Eu acho que o bebê vai nascer, venha comigo! (Malu e Irmã Fátima caminham apressadamente em direção do local onde Amélia está).
(Amélia começa a dar a luz ao seu filho, enquanto Malu e Irmã Fátima rezam na capela)
IRMÃ FÁTIMA: Ave Maria cheia de graça, o senhor é convosco...
MALU: Bendito é o fruto do vosso ventre Jesus... (Continua a oração).
(Na sala de parto)
AMÉLIA: (Grita quando sente uma nova contração, em uma das mãos segura um sapatinho de crochê que fez para o filho).
MÉDICA: O bebê está quase nascendo, as contrações estão intensas e a dilatação está total, a próxima contração que sentir, faça força para baixo. Vamos lá!
AMÉLIA: (Sente uma nova contração e empurra, como a médica pediu).
(Na capela)
IRMÃ FÁTIMA: Santa Maria mãe de Deus, rogai por nós pecadores...
MALU: Agora e na hora de nossa morte, amém... (Conclui, nesse momento um vento percorre toda a capela e apaga a chama das velas).
(Na sala de parto)
MÉDICA: Nasceu! (A médica corta o cordão umbilical enquanto a criança chora).
AMÉLIA: Meu filho, ele está bem? Deixe eu segurá-lo, eu quero vê-lo, eu quero tocar, beijar... (Amélia sente a vista embaçar).
MÉDICA: Enfermeira, leve o menino! (A médica entrega o bebê a uma enfermeira envolto numa manta, ainda sujo do sangue de Amélia). Você sabe o protocolo querida, não se pode ter contato com a criança.
AMÉLIA: Meu filho, eu preciso ver o meu filho... Meu filho... (As palavras começam a desaparecer junto da voz de Amélia). Meu... Filho... (Amélia desfalece, deixando o sapatinho que segurava cair)
Cena 07 – Casa Santa Clara [Interna/Manhã]
Dias depois...
(Malu observa carros partirem pela janela, enquanto chove intensamente numa manhã sombria de inverno).
IRMÃ FÁTIMA: Os pais de Amélia acabaram de partir. A pobre mãe dela estava desconsolada, já o pai parecia mal se importar, tampouco quis se despedir da filha, se recusou a levar o corpo e lhe dar um enterro junto ao seio familiar, eu vi quando entregou uma grande soma em dinheiro para a Irmã Felícia e disse para ela se livrar do corpo e que na cidade diria que a filha tinha morrido num acidente aéreo.
MALU: (Permanece observando a chuva através da janela) Eu não quero esse final para a minha história...
IRMÃ FÁTIMA: O que disse?
MALU: Esse final, a Amélia seria uma mãe incrível e sequer pôde conhecer o filho. Morreu e seu corpo foi deixado para trás, ficando para um passado que fazem questão de esquecer. Eu nunca quis vir para esse lugar, eu não tenho vergonha da minha gravidez e o pai das minhas filhas jamais me abandonou, pelo contrário, ele queria esse filho tanto quanto eu. Tenho certeza que o Igor não me esqueceu e permanece me procurando até hoje.
IRMÃ FÁTIMA: Você ama mesmo esse rapaz não é?
MALU: Eu tomei uma decisão irmã e vou precisar da sua ajuda.
IRMÃ FÁTIMA: Decisão? Qual foi minha filha?
MALU: Eu não vou entregar as minhas filhas, eu vou fugir com elas, preciso que me ajude a fugir.
IRMÃ FÁTIMA: Fugir? Mas isso é uma loucura menina. Jamais uma moça conseguiu escapar desse lugar, muito menos não entregar a criança.
MALU: (Se aproxima de Irmã Fátima e segura suas mãos) Por isso mesmo, a senhora precisa me ajudar, eu não quero perder as minhas filhas, sem elas eu morreria. Eu até já escolhi os nomes dela, eu vou fugir e procurar o Igor, juntos nós iremos para outro lugar e teremos elas bem longe daqui.
IRMÃ FÁTIMA: Não sei se isso é uma boa ideia, me parece muito arriscado. (Senta na cama de Malu).
MALU: (Senta ao lado da Irmã) E é arriscado, eu sei. A senhora tem o coração bom, nobre, eu tenho a certeza disso. A senhora concorda mesmo como que fazem com essas moças nesse lugar? Não existe uma crueldade como essa, se livrar de uma criança como se fosse um objeto, eu amo as minhas filhas e quero ficar com elas.
IRMÃ FÁTIMA: Não, eu não concordo. A Irmã Felícia ameaça todas as irmãs desse lugar, vivemos isoladas nesse fim de mundo e somos obrigadas e acobertar essas barbaridades. Tudo bem, eu não sei como, mas irei te ajudar... Que Deus nos ajude!
MALU: (Abraça Irmã Fátima) Obrigada, a senhora não vai se arrepender.
IRMÃ FÁTIMA: Assim eu espero, mas fiquei curiosa... Qual nomes você escolheu?
MALU: Os nomes das bonecas que tinha quando era criança, Ingrid e Isabela.
Cena 08 - Padaria [Externa/Tarde]
(Marlene caminha em direção a padaria onde Igor trabalhava que atualmente é administrada por um parente distante).
MARLENE: Boa tarde, me vê duas baguetes de pão francês por favor.
PADEIRO: Boa tarde senhora, pode deixar. Estão fresquinhas, acabaram de sair do nosso forno, eu vou pegar.
MARLENE: Escuta, você tem noticias daquele rapaz que trabalhava aqui? É que minha filha e ele eram muito amigos, desde que ela se casou e foi viver em outra cidade, eles perderam o contato.
PADEIRO: Ele está muito bem, acabei de receber essa carta dele com algumas fotos, esteja lendo bem na hora que a senhora chegou.
MARLENE: Ah, que jóia. Posso dar uma olhada nessas fotografias?
PADEIRO: (Faz um sinal com a cabeça, consentindo que Marlene olhe as fotografias).
MARLENE: Ele está estudando? Que coisa boa. E essa moça que está com ele em várias fotos? É namorada dele?
PADEIRO: Sim, ele disse na carta que conheceu essa moça na faculdade e que eles estão se conhecendo. (Entrega a sacola com os pães).
MARLENE: Que notícia maravilhosa, fico muito feliz por ele. Posso ficar com uma fotografia dessas? Ele mandou tantas, tenho certeza de que a minha filha ficará muito feliz em ter notícias dele.
PADEIRO: Pode ficar sim.
MARLENE: Obrigada pelos pães e pela foto, pode ficar com o troco. (Diz Marlene ao pagar).
Cena 09 – Casa Santa Clara [Interna/Noite]
Uma semana depois...
(Malu começa organiza seus objetos pessoais que irá levar na fuga)
IRMÃ FÁTIMA: (Entra no quarto de Malu com um envelope nas mãos) Já está com quase tudo pronto não é?
MALU: Sim, fugirei amanhã mesmo. O que é isso nas suas mãos?
IRMÃ FÁTIMA: A Irmã Felícia pediu para te entregar, foi a sua mãe que mandou junto com o dinheiro do pagamento.
MALU: Estranho, minha mãe nunca me escreveu durante todos esses meses. Me dá aqui, deixe-me ler. (Malu abre a carta e começa a ler).
IRMÃ FÁTIMA: (Percebe uma mudança na expressão de Malu) O que foi menina? O que diz nessa carta?
MALU: (Nervosa, amassa a carta e abre o envelope com violência até encontrar a fotografia) Minha mãe diz aqui que o Igor se casou e me mandou uma foto dele e a esposa, felizes e em lua-de-mel. Ele me esqueceu, ele não quer saber de mim e nem das minhas filhas, eu estou sozinha.
IRMÃ FÁTIMA: Se acalme, você não pode se emocionar demais, pode fazer mal aos bebês.
MALU: Eu estou sozinha, Irmã Fátima, sozinha. (A bolsa de Malu estoura).
IRMÃ FÁTIMA: Veja, sua bolsa estourou. As suas filhas irão nascer Malu!
MALU: (Segura a barriga).
(A imagem foca nas mãos de Malu apertando a barriga, a cena congela e o capítulo encerra com o som de uma câmera fotografando).
Trilha Sonora Oficial – Destinos Ligados (Spotify): http://twixar.me/Jk21
*Caso o link não funcione*: https://open. spotify.com/playlist/ 7yknDhMBsVgJPVe4KbOWhN?si=4p4_ NfOhQYe9TAJM6UHvDg
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