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Primeira Impressão com o Senhor X - Crítica "Contos Contemporâneos da Violência Urbana" - Programa 15


Saudações, mancebos, sejam todos bem-vindos ao Primeira Impressão de hoje!

E é com muita alegria que lhes anuncio que meu julgamento, se é que posso assim chamar, diante do Alto Conselho de meu povo finalmente chegou ao fim. Mas... só lhes conto no que deu depois da crítica. Vamos lá!

E a crítica de hoje se trata do primeiro conto de Contos Contemporâneos da  Violência Urbana, escrito por May Margret e exibido na WebTV. Confira a sinopse da antologia:

Crimes no motel, na rua, em casa, em qualquer lugar. Bares sujos. Personagens brutos, covardes ou guerreiros. Atos repugnantes. Cheiro de vulnerabilidade saindo das entranhas da cidade. Quem, de fato, está livre da violência urbana? Essa já se tornou parte do cenário das nossas cidades, e é tema dessa Antologia. Autores exploram o lado mais sórdido do ser humano, seus medos, anseios e crimes. Do mais torpe até os mais cruéis, sobrando, no final, a certeza da impunidade ou da descrença na sociedade. Não espere um final feliz. A felicidade não habita em lugares e mentes onde a violência fez seu lar, seja ela moral, física ou psicológica”.

E a sinopse do conto:

Ele é um maníaco estrangulador de prostitutas. Ela uma policial em seu primeiro caso. Eles se encontram. Quem levará a melhor?”.

Um dos temas mais abordados no gênero policial na história do Cinema e da TV é o assassino em série, ou serial killer. Mas não foi nas obras audiovisuais que tais monstros humanos viram a luz do dia no universo ficcional. Dezenas de livros anteriores ao surgimento do Cinema como o conhecemos já narravam histórias do tipo, e não é difícil constatar o sucesso do tema, visto que até hoje temos filmes e séries contando essas histórias. Então, depois de centenas de abordagens sobre esse mesmo assunto, precisamos mesmo de uma nova história sobre isso?

De início precisamos dizer que a história do conto – intitulado “Castigo” – , sobre um assassino de garotas de programa e uma jovem policial em sua caça, não ousa sair da estrutura clássica de obras do tipo: o mistério de uma série de assassinatos com muito em comum, o assassino que passa despercebido aos olhos da sociedade, a polícia cada vez mais perdida e a “heroína” que, no papel de caçadora, se deixa vulnerabilizar e se aproxima demais de sua caça, o verdadeiro predador nesse jogo de gato e rato. Mas, se essa história já é especialidade do audiovisual, não podem também os contos serem ao menos experientes? As obras escritas do Mundo Virtual? Então talvez a resposta para a pergunta do final do parágrafo anterior seja outra pergunta: por que não?!

“Por que não?” deveria também ser um questionamento em relação à possibilidade de em qualquer um que nos rodeia – de todos os lugares que frequentamos –  habitar um monstro silencioso, uma força maligna capaz dos mais sórdidos atos que um ser vivo dotado de consciência é capaz de realizar. Ricardo, nosso maníaco, é um desses tipos admirados e bem-vistos pelos amigos e vizinhança, distante de qualquer estereótipo ameaçador e acima de qualquer suspeita. E é interessante notar como seu nome, Ricardo, é mencionado pelo texto apenas uma única vez, lá no início. Talvez a intenção da autora até não tenha sido essa, mas o efeito alcançado está em perfeita harmonia com a ideia do monstro próximo a nós, pois a todo momento a narração se refere a Ricardo por “ele”. Ele... E o leitor se sente desconfortável. Ele pode ser seu pai, seu marido, seu tio, seu amigo... Quem é ele?

Como o conto é naturalmente uma narrativa curta, é esperado que o desenvolvimento de personagens não ocorra com a dimensão que pode ocorrer em um romance, por exemplo. Mas não está e nunca esteve na natureza do conto a desculpa para que os autores não cativem os leitores com seus personagens, e aqui a autora soube fazer isso muito bem ao empregar as falas e opiniões dos mesmos em meio à narração, dando mais personalidade aos mesmos e enriquecendo a narrativa como um todo. Só às vezes que, por estar falando de mais de um personagem, fica um pouco confuso saber de qual boca sai determinada fala.

Como era de se esperar, a autora também investe na origem do mal, ou seja, em como Ricardo se tornou ele. Em uma série, essa sequência seria um episódio do terço final da temporada. E o excelente trecho descrito é pesado, impactante, sujo e um tanto chocante, mas faz todo o sentido com a natureza maligna dessa criatura que dia após dia se disfarça de cidadão comum. Porém, uma aparente contradição ou uma evolução em oculto na saga dele tira um pouco do brilho da história, pois logo após executar sua primeira vítima, Ricardo é descrito como “quase feliz”. Mas, cronologicamente à frente, especificamente no início do conto, com já pelo menos 5 vítimas em seu histórico, o texto o introduz a nós dizendo que quando ele acabava o ato, se sentia horrorizado e até mesmo desesperado. Se realmente trata-se de uma linha de progressão de Ricardo, cada vez mais viciado em matar, mas, por outro lado, cada vez mais afetado pelos próprios atos, faltou um pouco mais de clareza por parte do texto, e isso certamente teria enriquecido ainda mais essa figura.

Para quem não sabe ou não se lembra, séries antológicas, ou de antologia, são séries em que a cada episódio ou temporada é contada uma história fechada, com começo, meio e fim, e sem relação com as histórias dos episódios ou temporadas seguintes, a não ser o tema. É o caso dessa produção, em que a cada conto uma trama diferente é narrada, tendo todas elas em comum a violência urbana. Portanto, para uma produção brasileira, é questionável a escolha de abrir a antologia com uma história sobre um assassino em série, algo quase comum nos Estados Unidos e enraizado na cultura pop através das obras daquele país. Nas poucas vezes em que esses psicopatas agem no Brasil na vida real, são chamados de maníacos, perdendo esse tratamento soft do Cinema e TV americanos. Sim, é uma realidade, mas um pouco distante do dia a dia, do cotidiano. A violência urbana é constante, mas, ao menos no Brasil, se apresenta de forma mais expressiva nos assaltos a cada esquina, na presença de milícias em bairros, nos sequestros, na violência policial, nos roubos de carros de trabalhadores que só querem voltar em paz para suas casas, nas queimas de arquivo, na ganância de políticos desviadores de verba, nos crimes de homofobia e injúria racial, nos casos de violência doméstica... Claro que isso não cai nas costas da autora dessa estreia, trata-se de um trabalho de curadoria, de organização dos contos. Mas temos que tocar nesse ponto pois essa não se trata de uma crítica do conto como peça isolada, mas de uma estreia de algo maior.

No mais, o clima sufocante das metrópoles e de seus infinitos problemas contemporâneos de violência é passado com maestria pelo texto, e se isso continuar nos contos seguintes, teremos aí uma provável peça rara no Mundo Virtual. A vocês caberá trilhar essa jornada e descobrirem o quanto disso é verdade, a mim caberá seguir através de outras obras, deixando para trás essa excelente estreia. Pena que, uma vez que eu esteja de volta à Terra e ao Brasil, a violência urbana contemporânea nunca poderá ficar realmente para trás.





Antologia: Contos Contemporâneos da Violência Urbana

Autor: Vários

Autora do conto: May Margret

Contos: 24 (2 temporadas)

Emissora: WebTV

Clique aqui para ler o 1° conto

Saiba mais sobre a antologia


Bom, agora finalmente posso lhes contar no que deu minha segunda e última audiência com o Alto Conselho aqui de meu planeta. Depois de muito falatório, questionamentos, respostas, réplicas, tréplicas, pouca água e muita fumaça dos cachimbos Pewerrell fumados por aqueles soberbos, o Conselho chegou à seguinte conclusão: meu trabalho aqui no programa, incluindo tudo o que lhes conto acerca de meu passado nesse planeta ou na Terra, não afetam e nem comprometem a segurança de meu povo. Pelo contrário, levo cultura e conhecimento a um povo que, dada suas atuais condições político-econômicas, necessita exatamente disso. Sim, mancebos, eles não só me inocentaram de todas as acusações como elogiaram meu trabalho dominical.

Acham que acabou? Rum, se assim fosse, eu já estaria nas nuvens. Acontece que um dos Conselheiros, com o consentimento dos demais, encomendou de um ourives que ele desenhe e construa sabem o quê?! O Troféu Galáxia! De ouro puro! Sim, muito em breve pegarei novamente minha nave e retornarei à Terra, levando comigo os troféus que serão entregues aos melhores criticados ao longo do programa. Os vencedores terão a honra de segurarem um design e uma peça de ouro forjada a 100.000 anos-luz de distância.

Mas enquanto isso não acontece, vamos ao momento de responder o autor da obra criticada no programa anterior. Dessa vez é a autora Selma Dumont, que respondeu a crítica de sua obra Ouro Blindado. Vejam:

Boa noite, Selma. Bom, como não li e não leio os capítulos/episódios 02 e seguintes, não posso dizer nada sobre, minha análise é estritamente sobre estreias, apenas. Porém, mesmo quando você discorda sobre a estreia, não há problema algum. O importante é todos termos oportunidade de falarmos e nos expressarmos. Até gosto quando vocês replicam, como fez, pois o debate é uma das coisas mais saudáveis e interessantes que há. Como disse lá mesmo, essa é a graça (e beleza) da democracia. E tenho certeza de que está em constante evolução, Selma, pois a diferença que vi entre a obra anterior e essa foi gigantesca. Continue assim, e sou eu quem agradeço!

Queridos, na seção de comentários do programa anterior também um mancebo se manifestou elogiando meu trabalho e pedindo uma crítica para uma determinada obra escrita por ele. Quanto à congratulação, eu agradeço, coerência é o que tento usar em minhas análises sempre. Quanto ao pedido, poderei adicionar a webnovela em minha lista devido à indisponibilidade de uma determinada obra que originalmente estava listada. Portanto, a lista foi reorganizada. Estou dizendo isso para que ninguém estranhe quando a webnovela solicitada por esse mancebo aparecer aqui nos próximos programas, já que há alguns domingos eu disse que a lista estava fechada até o final da edição 2020 do Primeira Impressão.

Mas por hoje é isso, meus queridos mancebos. Depois dessa vitória aqui em meu planeta, é hora de comemorar (semana que vem lhes conto como) e me preparar para retornar, pois a viagem mui longa é. O que acharam da crítica de hoje? Digam nos comentários. E a obra em questão, já leram? Digam tudo nos comentários. Caso tenham perdido o programa anterior, basta clicarem aqui e lê-lo.

Tenham uma excelente semana e até o próximo domingo!

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