Débora
CAPÍTULO 22
uma novela de
FELIPE LIMA BORGES
escrita por
FELIPE LIMA BORGES
baseada nos capítulos 3 a 5 do livro
de Juízes
poesia de clamor e adoração adaptada
do capítulo 10 do livro de Salmos
FADE
IN:
CENA 1: INT.
CASA DE DÉBORA – QUARTO – NOITE
Débora, um tanto ofegante, encara o
nada preocupada. Logo Lapidote se mexe, percebe-a acordada e se senta.
LAPIDOTE
Amor...
Ainda não dormiu?
Ela olha para ele.
DÉBORA
É o
sonho... Agora eu tenho certeza de que ouvi meu nome. A voz... disse o
meu nome.
LAPIDOTE
Tem
certeza?
DÉBORA
Parecia
estar aqui mesmo, no quarto...
Ele franze a testa. Ela então se
ajeita e põe-se de pé. Sob o olhar confuso de Lapidote, vai até a janela,
abre-a e olha lá fora. As ruas, fracamente iluminadas pelas chamas das tochas
penduradas nas paredes, estão completamente vazias.
Então ela fecha e volta. Mas uma
ideia grandiosa parece passar pela mente de Lapidote.
LAPIDOTE
Meu amor...
E se...?
Ela o encara; entendeu exatamente o
que ele pensou.
DÉBORA
Vou falar
com o ancião sobre isso!
CENA 2:
INT. CASA DE ADÉLIA – SALA – NOITE
LAILA (25 anos), sentada à mesa,
toma chá em seu copo de barro. Então a porta se abre e Adélia, com seu cesto
pendurado ao pescoço, entra.
ADÉLIA
Shalom,
minha irmã...
LAILA
Shalom,
Adélia. Hoje você chegou mais tarde...
Adélia fecha a porta, tira o cesto
e o coloca na mesa.
ADÉLIA
Foi, Laila.
Tentei ficar mais um pouco na rua para ver se conseguia vender tudo. A praça
ainda tinha um pouquinho de movimento.
LAILA
Mas não é
necessário vender tudo.
ADÉLIA
Eu faço
questão. Você sabe. Quando consigo vender todos os doces e bolos eu volto bem
pra casa. Me sinto até mais leve... Tenho certeza de que emagreço um pouquinho.
Elas riem..
LAILA
Hum...
ADÉLIA
Ai, Laila,
está sendo um sucesso!
LAILA
(sorrindo) Eu
imagino, irmãzinha. Você faz essas receitas com tanto carinho... É natural que
as pessoas amem.
ADÉLIA
Carinho e
uma pitadinha de amor!
LAILA
(rindo) Sim, você
e a sua pitadinha de amor.
Adélia respira fundo e se
despreguiça.
ADÉLIA
Você não
quer vir me ajudar na rua não, Laila? Seria bom nós duas juntas! Podemos
conversar, o tempo até passa mais rápido...
LAILA
Adélia, me
desculpe, mas eu não tenho paciência para andar o dia todo de rua em rua.
ADÉLIA
Laila! Olhe
para mim! Toda cheinha! E ando por aí tudo com muito vigor!
LAILA
Eu sou
diferente, Adélia. Sou... toda estranha, sempre fui assim... Você sabe.
ADÉLIA
Ai, você é
exagerada, isso sim. Não precisaria ser dessa forma. Na verdade... eu até
prefiro que fosse...
LAILA
Ah,
claro... A tal loja.
ADÉLIA
(animada) Sim!
Mas se contém ao ver o semblante de
desânimo no rosto da irmã.
ADÉLIA
Eu não
entendo essa sua rejeição à ideia da loja. Até a Débora, mulher do sapateiro
Lapidote, me recomendou isso hoje cedo.
LAILA
Adélia... Essa
é a casa que o papai e a mamãe deixaram para nós... Sempre fomos tão zelosas
com essa casa... Não me agrada a ideia de tanta gente frequentando aqui.
ADÉLIA
AS pessoas
serão cuidadosas, organizadas... Pegarão os doces, sentarão e depois sairão. Simples,
irmã.
Laila, um pouco menos desanimada,
levanta as sobrancelhas enquanto pensa.
ADÉLIA
Laila,
minha irmã, imagine também a quantidade de moços que poderia se reunir aqui! É isso!
Quem sabe não está aí a forma de finalmente arranjarmos um bolinho fofo
de tâmaras pra nos casarmos, hummm...
LAILA
Adélia,
você já é vista em toda a cidade.
ADÉLIA
Mas aqui é
melhor! Tem mais conforto... Eles virão por esse motivo. E então seremos
vistas. E finalmente conseguiremos arranjar um marido!
Laila controla a tentação.
LAILA
Hum... Eu
vou pensar na ideia.
ADÉLIA
Pois pense
com cuidado, hum?
CENA 3:
INT. CASA DO AMOR – QUARTO – NOITE
Em um dos quartos da Casa do Amor,
Sísera e HANNA (48 anos) se beijam na cama segurando taças de vinho
HANNA
Hummm...
Sísera...
SÍSERA
(beijando o
pescoço dela) Cale a boca...
HANNA
Sísera...
Por favor... Me ajude...
Sísera então a olha nos olhos.
SÍSERA
Isso é
hora?!
HANNA
Eu preciso,
Sísera! Estou necessitada! O que te custa me ajudar?! Preciso pagar essa dívida
o mais rápido possível!
SÍSERA
Não é minha
função nesse negócio salvar seus investimentos fracassados. Sou apenas o seu sócio.
HANNA
Sócios se
ajudam.
SÍSERA
Eu não
tenho culpa se você não soube administrar a sua parte! E quer saber?! Todo esse
seu falatório me deu vontade de ir atrás de uma de suas meninas.
HANNA
Minhas
meninas podem ser mais novas, mas eu te garanto que não dão o prazer que eu
dou. Pois fui eu quem as ensinou tudo o que sabem.
SÍSERA
Pelo menos
elas ficam quietas e simplesmente me obedecem! E está na hora de você aprender
com elas e fazer o mesmo!
Enquanto ele vira seu vinho, ela se
aproxima mais.
HANNA
Se você não
me ajudasse, bem que eu poderia, num dia desses, tropeçar no palácio e denunciar
ao rei que um dos oficiais estaria envolvido na compra e administração de uma
casa de meretrizes.
Sísera então larga a taça vazia e
segura Hanna pelos ombros.
SÍSERA
Você é só
uma prostituta. Nunca passará pelos portões do palácio. Agora vire-se!
Sísera a vira de costa para ele com
força e a empurra, deixando-a de quatro.
SÍSERA
Conversaremos
sobre negócios depois.
E
abaixa a sua roupa.
CENA 4:
EXT. BETEL – TEMPLO – PÁTIO – DIA
A noite passa e amanhece.
Débora e o ancião ALIÃ (80 anos)
conversam sentados à sombra de uma grande figueira. Ela acabou de lhe contar
sobre os seus sonhos e a voz, e ele está impressionado.
ALIÃ
Que
interessante!... Não há dúvidas de que há algo aqui para ser observado com
muita atenção.
DÉBORA
Eu não
quero ser apressada e nem tender a uma interpretação específica, mas, depois
desses sonhos, confesso que não paro de pensar no que o falecido juiz Sangar me
disse em minha mocidade. Ele disse que via em mim... um brilho diferente. E não
se admiraria caso Deus me escolhesse... como juíza de Israel. O senhor
acredita? Juíza...
Aliã sorri.
ALIÃ
Só de
pensar na possibilidade de você ocupar um cargo de destaque em nossa nação, o
meu coração já se enche de alegria!
DÉBORA
O senhor
não estranha o fato de o juiz Sangar ter dito isso para... uma mulher?
ALIÃ
Débora, eu
apenas me alegro, pois você tem o dom da profecia.
Interessada, Débora presta atenção.
ALIÃ
Dom esse da
parte de Deus. Um dom com o qual nasceu. Não é?
Débora está um pouco confusa.
DÉBORA
Acho que
sim... Algumas pessoas me procuram para que eu possa resolver seus casos. Vêm
até mim em busca de ajuda... E é como se eu me ligasse ao Senhor Deus, como se
a resposta aparecesse em forma de imagem em minha mente. É algo divino, sim, é
algo do Senhor. Mas nunca vi como um dom... Dom da profecia. Então muitos
hebreus poderiam ter esse dom se também buscassem a Deus como eu busco. Ao
menos é o que tento recomendar ao povo... Não são muitos, mas já há gente
buscando ao Senhor. No entanto, para esses sonhos que tenho, não recebo nenhuma
interpretação.
Aliã sorri alegre.
ALIÃ
Minha
filha, sobre esses sonhos, busque ao Senhor e tente mais uma vez usar de
seu dom para ouvir de Deus qual é a vontade Dele para a sua vida. Qual é o seu
chamado. Pois precisamos buscar e também estar desejosos de ouvir o que o
Senhor quer de nós. Com o coração aberto. Seja lá o que Ele tenha a nos dizer.
Débora,
já decidida, faz que sim.
CENA 5:
INT. PALÁCIO – SALÃO DE REFEIÇÕES – DIA
Sísera e Jabim desjejuam sentados
diante de uma mesa repleta de preparados.
SÍSERA
Que comida
maravilhosa, meu rei. Pelos deuses... Mais uma vez agradeço pelo convite. É uma
imensa honra desjejuar com meu soberano.
Jabim faz um aceno com a cabeça e
levanta uma taça de vinho para Sísera. Após os dois beberem, Jabim olha para
ele.
JABIM
Sísera,
também o chamei aqui porque quero que visite a Fortaleza e me traga um
relatório completo de como anda o meu projeto.
SÍSERA
Assim será
feito, soberano. Mas, se me permite uma contestação, gostaria de saber se o rei
não acha que esse projeto é uma tarefa arriscada.
JABIM
(arrancando
um pedaço de carne com o dente) E qual seria o risco?
SÍSERA
Crias são o
que motivam qualquer ser vivo na face da Terra.
JABIM
Você teme
uma rebelião dos hebreus, Capitão? Logo você, o homem que comanda 900 carros de
ferro?
SÍSERA
Perdão,
senhor, mas qualquer movimento daqueles malditos pode nos atrasar, diferente
das tarefas comuns que controlamos com certa facilidade.
JABIM
Você é quem é o
Capitão. Portanto garanta que tudo saia certo e que nada se atrase. Só
isso que eu quero.
Acatando,
Sísera faz que sim.
CENA 6:
EXT. CAMPO – PALMEIRA – DIA
Débora chega à palmeira pela qual
tem tanto afeto com um sorriso tranquilo. Por um momento sente a brisa contra
seu rosto... Então abre os olhos, se aproxima da árvore e se ajoelha ao lado
dela.
Ela respira fundo. Se prepara para
falar com o Senhor... Engole em seco, fecha os olhos e vira o rosto para cima.
DÉBORA
Senhor
Deus... Criador dos Céus e da Terra... Deus de Abraão, Isaque e Jacó... Meu bom
Pai... Entro à Sua Santíssima presença... para abrir o meu coração. Pois há
tempos... venho tendo sonhos que penso ser da Sua parte... e uma voz... que
penso ser a Sua poderosa voz, meu Senhor. E todos os dias busco-o
incansavelmente, com todo o prazer da minha alma. Sinto que sou usada por Ti,
recebendo divina sabedoria, para ajudar e aconselhar os meus irmãos, o Teu
povo. Porém... com esses sonhos... eu sinto que o Senhor requer algo a mais de
mim. Algo maior... Faça-me entender qual é a Sua vontade para a minha vida,
Senhor. Faça-me saber... Pois o meu coração se alegra em servi-Lo e fazer o que
me pede. Estou aqui, aos Seus pés, unicamente para servi-Lo de todo o meu
coração, de toda a minha alma e por toda minha vida!
Ela abre os olhos molhados e encara
o céu por alguns instantes. Então os fecha novamente.
DÉBORA
Buscarei
por Sua resposta incessantemente. Amém.
Ela então se levanta, se escora no
caule da palmeira, respira fundo e aprecia a paisagem relvada cheia de
palmeiras e os montes e morros ao redor.
DÉBORA
(NAR.)
Uma
habilidade que desenvolvi durante aqueles anos, e essa provavelmente não se
tratava de um dom, foi o canto. Talvez tenha sido a escravidão que a despertou
em mim, como uma forma de buscar alento na beleza de Deus em tempos tão
difíceis e sombrios. Ainda que às vezes tratava-se mais de uma poesia criada e
declamada na mesma hora.
Encostada ali na palmeira, Débora
começa a declamar. Não é uma canção, em função da falta de melodia, mas há uma
sutil musicalidade com tons melancólicos.
DÉBORA
Por que te
conservas longe, Senhor? Por que te escondes nos tempos de angústia? Os ímpios,
na sua arrogância, perseguem furiosamente o pobre... e blasfema do Senhor. Por
causa do seu orgulho, o ímpio não investiga; todas as suas cogitações são: Não
há Deus. Os seus caminhos são sempre atormentadores: os teus juízos estão longe
dele... trata com desprezo os seus adversários. Diz em seu coração: Não serei
abalado, porque nunca me verei na adversidade. A sua boca está cheia de enganos
e de astúcia; debaixo da sua língua há malícia e maldade. Nos lugares ocultos
mata o inocente. Arma ciladas em esconderijos, como o leão no seu covil...
Encolhe-se, abaixa-se, para que os pobres caiam em suas fortes garras.
Débora limpa as lágrimas que brotam
de seus olhos. Um soldado hazorita chega ali perto e a nota; sorri... Então aproxima-se
devagar, mas ela não o vê.
DÉBORA
Levanta-te,
Senhor! Oh! Deus, levanta a tua mão; não te esqueças dos necessitados! O Senhor
é Rei eterno; da sua terra serão desarraigados os gentios. Senhor, tu ouvistes
os desejos dos mansos; confortarás os seus corações; os teus ouvidos estarão
abertos para eles; Para fazeres justiça ao órfão e ao oprimido, a fim de que o
homem, que é da terra, não prossiga mais em usar da violência... para com os
Teus.
O soldado para perto dela. Débora o
percebe e, assustada, vira para ele, que sorri.
SOLDADO
O que está
fazendo, escrava?
DÉBORA
Apenas
cantando...
SOLDADO
Eu ouvi...
Essas palavras... parecem de adoração ao Deus invisível.
DÉBORA
É
exatamente o que elas são.
Ele sorri e se aproxima mais dela.
SOLDADO
O Deus
invisível... Aquele que abriu o Mar Vermelho... Que interrompeu as águas do
Jordão... Que é o centro de tantos causos... Cadê Ele? Onde está? Por que não
aparece e salva novamente o Seu povo?
DÉBORA
Você não
entenderia.
Ele então ri, ri bastante na frente
dela.
SOLDADO
Uma
mulher... (ri) falando isso para mim... E uma rata hebreia, escrava,
ainda por cima!
Débora nada diz enquanto encara o
soldado rindo.
Quando se recupera das risadas, ele
se ajeita e a olha com descontração.
SOLDADO
Escute...
Eu vou te dar um tapa bem no seu rosto. E vai doer.
Débora permanece parada. O soldado
então abre a mão e desfere uma forte bofetada no rosto dela, que se segura na
palmeira para não cair.
SOLDADO
(rindo) Aproveite
que está mandando adoração ao seu Deus e peça para que preste mais atenção
em você, porque parece que Ele não foi rápido o suficiente. E olhe que eu
avisei que te bateria... Ainda assim, nada te impediu de levar um bom tapa.
Débora se recupera da agressão e se
endireita.
SOLDADO
O que foi?
Não vai dizer nada? Para uma cantora você está muito quieta.
DÉBORA
Com
licença. Tenho muito o que fazer ainda.
SOLDADO
Será mesmo?
Pois vi você aqui bem tranquila enquanto cantava...
DÉBORA
Aproveitei
apenas um momento para descansar. (saindo) Mas agora preciso ir.
O soldado faz que sim.
SOLDADO
Antes,
preciso fazer algo.
Ela para e olha para ele.
De repente ele levanta a mão e
desfere outra forte bofetada no rosto de Débora, que cai no chão.
Com um sorriso no rosto, ele a olha
caída.
Débora então se esforça e, devagar,
põe-se de pé.
SOLDADO
Agora sim
você pode ir, escrava.
Débora sai dali...
Em outra parte do campo, ali perto,
Débora encontra Isabel.
ISABEL
Prima?
DÉBORA
Isabel...
ISABEL
Prima, você
está bem?
DÉBORA
Sim, estou
sim.
ISABEL
Pois eu
não. Éder não para de reclamar, de se lamentar... É só chegar em casa que
começa!
DÉBORA
O que
aconteceu?
ISABEL
Bem... É complicado.
É uma questão de um pedaço de terra... Já estou cansada, não sei mais como
resolver aquilo. E esse estresse está sendo passado para o Mireu... Coitado do
meu filho. Pelo menos ele é maduro, mais do que Éder e eu juntos. Débora, por
que seu rosto está vermelho? Tem certeza de que está tudo bem?
DÉBORA
Sim, tudo
bem, prima.
Nesse momento uma mulher, passando
ali perto com um menino de uns 5 anos, nota Débora.
MULHER
Ah, ali
está ela!
Débora e Isabel olham para a mulher
e o menino, que vão até elas.
MULHER
(um tanto
desesperada) Você é Débora, filha de Elian, mulher de Lapidote,
o sapateiro?!
DÉBORA
Sim... Sou
eu.
MULHER
Ouvi sobre
a sua fama de ser uma mulher de Deus... Mulher profetisa...
Débora fica meio sem jeito e Isabel
olha curiosa para a prima.
MULHER
É verdade?!
É verdade que conseguiu resolver a disputa de dois irmãos por uma herança? Que
com conselhos conseguiu unir um casal que vivia em brigas? Que resolveu--
DÉBORA
(interrompendo) Sim. (sorri
suavemente) É verdade.
MULHER
Este... é
meu filho. Está febril, sente dores nos braços, nas pernas, nos olhos...
Devolve tudo o que come e sua pele descasca nas regiões íntimas. Já procurei os
curandeiros, mas não conseguem descobrir o que ele tem... Por favor, Débora,
faça algo por ele. Ao menos diga que enfermidade o meu menino tem!
DÉBORA
Senhora...
Eu não sou curandeira.
MULHER
Mas eu confio
na senhora! Use do mesmo dom que usou para com os outros e ajude o meu filho! Eu
lhe imploro!
Débora então faz que sim e se
ajoelha na frente do menino. Olhando-o nos olhos, sorri. Ele parece tranquilo.
Carinhosamente ela passa as mãos no rosto do menino.
DÉBORA
Qual é o
seu nome?
MENINO
Eliéber.
DÉBORA
Eliéber. É
um lindo nome.
Débora passa as mãos nos braços do
menino. Depois segura a mão esquerda dele e coloca sua própria sobre a cabeça
de Eliéber. Fecha os olhos e começa a orar a Deus em silêncio, enquanto apenas
seus lábios se mexem. A mãe do menino observa apreensiva. Olha para Isabel, que
assiste com curiosidade e certa ansiedade.
Por fim, Débora abre os olhos e
encara o nada por alguns segundos.
MULHER
E então?!
Débora respira fundo e se levanta.
DÉBORA
Eu senti
que há nesse menino uma grave enfermidade no sangue.
A mulher empalidece.
MULHER
No
sangue?!... Como curá-lo, senhora?!
Débora olha para um lado... para o
outro... e aponta para uns arbustos.
DÉBORA
Prima...
Por favor, pegue um pouco daquelas ervas.
Isabel olha para onde Débora aponta
e de volta para ela.
ISABEL
Aquelas? Mas
são só mato...
DÉBORA
Aquelas
mesmas. Por favor, pegue um pouco e traga.
Estranhando, Isabel vai até lá e
arranca um pouco do mato. A mulher observa com ansiedade. Isabel volta
carregando as folhas.
DÉBORA
Faça um chá
com essas folhas e dê a ele. Sinto em meu coração que é isso que a senhora deva
fazer para curá-lo. Se fizer com fé, a doença sairá e nunca mais voltará.
Estranhando, a mulher pega as
folhas das mãos de Isabel.
MULHER
Senhora...
Chá de mato?
DÉBORA
Foi o que
eu senti em meu coração ao orar ao Senhor. Faça assim, ore a Deus também e dê a
ele.
Olhando para o mato que segura, a
mulher faz que sim.
MULHER
Tudo bem.
Farei conforme a senhora me disse. Vamos, Eliéber. Shalom, senhoras.
DÉBORA,
ISABEL
Shalom.
A mulher sai apressada puxando o
filho.
ISABEL
Prima, o
que foi isso?
Débora olha para Isabel.
DÉBORA
Não foi
coisa minha, mas dos Céus. Foi dessa forma que o meu coração sentiu de fazer.
Sei que é da parte de Deus.
ISABEL
Mas e se
não der certo?
Débora
apenas a olha e sai. Um tanto preocupada, Isabel aperta o passo e a alcança.
CENA 7:
EXT. BETEL – PLANTAÇÃO – DIA
Em uma das plantações, ÉDER (45
anos, alto, magro e loiro) e alguns homens, entre eles Jaziel, conversam
enquanto trabalham na colheita.
HOMEM
É o que
dizem...
JAZIEL
Então é
mesmo verdade?
HOMEM
Não tem
como saber, mas...
HOMEM 2
Muitos
estão falando... Crianças sumindo por toda a fronteira, principalmente ao
norte. É bem provável que seja verdade.
ÉDER
Tenho
certeza de que isso tem a ver com os malditos.
JAZIEL
E por que
os hazoritas iriam roubar nossas crianças?
ÉDER
Não sei. Os
malditos fazem de tudo para nos destruir. O que der na cabeça do Capitão
Sísera, Jabim aceita.
HOMEM
(olhando
para os capatazes) Fale baixo, homem.
CAPATAZ
Vocês aí!
Estão com muita conversa! Trabalhando!!!
ÉDER
Rum.
Eles ficam quietos e continuam a
trabalhar.
Pouco tempo depois começa um
burburinho entre os trabalhadores. Algum capataz manda eles se calarem, mas
logo Jaziel, Éder e seus companheiros percebem que outros homens ali na
plantação estão olhando e apontando para o horizonte. Eles então olham e veem
uma grande fumaça escura no horizonte, como se algo atrás dos morros ardesse em
chamas.
JAZIEL
O que é
aquilo?!
Os hazoritas também olham com
estranheza, mas não demoram a mandar os hebreus voltarem ao trabalho por meio
de gritos e chicotadas.
CAPATAZ
Quem ficar
olhando não vai para casa! Vai passar a noite toda aqui!
Disfarçando enquanto mexe na terra,
Jaziel vira apenas os olhos para a fumaça negra.
JAZIEL
É na
direção do vilarejo...
Os homens olham disfarçadamente
para ele, sem entender.
JAZIEL
O vilarejo
mais próximo de Betel... Parece ser lá...
Também
um tanto preocupados, os outros dão uma olhada para a fumaça, mas logo tentam
se concentrar em seu trabalho. Jaziel permanece preocupado.
CENA 8:
EXT. HAZOR – OBRA – DIA
Sísera, escoltado por 2 soldados e
acompanhado de um homem, o arquiteto, passa supervisionando uma obra sendo construída
por hebreus e vigiada por capatazes hazoritas e soldados em posição.
Quando ele se aproxima, os homens
hebreus param de trabalhar e abaixam a cabeça.
SÍSERA
(observando
a obra) Até que os selvagens estão fazendo um bom trabalho.
ARQUITETO
É verdade,
Capitão. Pena que isso acontece apenas sob a sombra do chicote.
Com um leve sorriso, Sísera faz que
sim.
SÍSERA
Muito bem.
Vam--
Um barulho o interrompe e faz todos
olharem: um dos hebreus fugiu da obra e corre para longe dali.
SÍSERA
Mas o que é
isso?!
Soldados o perseguem e não demoram
a captura-lo. Metem-lhe um soco no estômago e o carregam até a presença do
furioso Sísera.
SÍSERA
O que foi
isso?! O que estava fazendo, escravo?! Como ousa se mexer diante da minha
presença, em minha visita?!
O homem, segurado pelos soldados,
começa a chorar.
HEBREU
Senhor... É
o meu filho... Meu pequeno está desaparecido há quase um mês!...
SÍSERA
Nós estamos
investigando esses desaparecimentos, e vocês já foram avisados sobre isso! Por
que insistem em nos desobedecer quando deveriam estar tranquilos diante da
melhor investigação que esse caso poderia ter?!
HEBREU
(chorando) Eu
queria... procurar o meu filho...
SÍSERA
Acha que a
sua busca é mais eficiente que a comandada por mim?
HEBREU
Não, meu
senhor... Eu só--
SÍSERA
(interrompendo) Acha que
nós hazoritas estamos com o seu filho?
O homem chora mais...
HEBREU
Sim...
Sísera não gosta do que ouve. Então
faz sinal para os soldados soltarem o homem, e assim eles o fazem. O hebreu,
surpreso, olha para o Capitão.
SÍSERA
Você quer o
seu filho?
HEBREU
Sim!...
Claro, meu senhor...
SÍSERA
Pois então
olhe para trás.
O homem então olha para trás, mas
não há nada ali. Quando vira de volta para Sísera, esse mete-lhe um soco no
rosto e ele cai.
Sob os olhares tensos dos soldados,
e dos assustados hebreus da obra, Sísera monta em cima do homem e começa a lhe
aplicar uma série de socos no rosto. Um atrás do outro, sem parar. O sangue
espirra e ele continua. Alguns dos trabalhadores, aflitos, viram o rosto.
Por fim, ofegante, com as mãos
ensanguentadas e o rosto respingado, Sísera se levanta e olha para os soldados.
SÍSERA
Queimem a
carcaça.
Ele limpa as mãos na água que outro
soldado traz e sai dali escoltado. O arquiteto observa soldados ateando fogo no
corpo.
A obra e o fogo vão ficando para
trás enquanto Sísera se afasta mantendo seu olhar maligno. Nisso, IMAGEM
CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:
No próximo capítulo: A misteriosa Darda chega à casa de Sísera em
busca de vingança. E Jaziel chama Débora e Lapidote para irem averiguar
secretamente o vilarejo supostamente queimado.
Obrigado pelo seu comentário!