A Promessa
CAPÍTULO 46
webnovela de
FELIPE LIMA BORGES
escrita por
FELIPE LIMA BORGES
livre adaptação do livro de Rute
No capítulo anterior: Os homens da Caravana vão embora de Moabe a pé. Noemi, Malom, Quiliom, Rute, Orfa, Leila e Aylla prestam suas últimas homenagens e Elimeleque é sepultado. Os dias passam com dificuldade para Noemi. Se aproxima a festa de casamento de Rute & Malom e Orfa & Quiliom, e Noemi ajuda nos preparativos. Em um dia, Rute flagra a sogra desabafando com Deus sobre sua dor e a incompreensão por ter perdido sua Promessa. Então começa a se machucar, querendo “acordar”. Rute a ajuda e a acalma. Noemi diz que ela se preocupa demais, e Rute diz que não consegue não se importar. Quiliom conclui a Orfa que Deus se esqueceu deles por saírem de Israel. A Caravana finalmente chega em Belém, e por pouco Segismundo não agride Tamires, com raiva por a pedra preciosa ser uma invenção dela. Tamires gosta da ideia de Noemi estar viúva, e diz aos homens que terão que sair da cidade. Os dias se passam e Raabe, abatida, diz a Boaz que desde que Salmon se foi ela não sente mais alegria de viver. Aconselha o filho a ser acolhedor com os estrangeiros, lembrando que ela também era estrangeira. Tani é julgada. Tamires confessa que era ela quem estava com a Caravana quando essa surge de todos os lados, dando cobertura para ela sair com eles. Por fim, Tani é inocentada e indenizada. Raabe é sepultada. Rute & Malom e Orfa & Quiliom se casam, e Noemi se emociona muito se lembrando de seu casamento com Elimeleque. Os casais têm sua noite de núpcias. Angustiado, Iago tenta se lembrar do que aconteceu na noite em que Maya foi morta, e Gael o aconselha a não fazer isso. A Caravana parte para longe. Leila é amorosa e paciente com Aylla. Noemi abençoa os filhos e as noras. Boaz diz a Josias que dói, mas seguirá em frente e fará o que é preciso. Josias diz que o ajudará, e que pode contar com ele para tudo. Sozinha no alto de um monte e escorada em uma árvore, Noemi assiste ao pôr do sol enquanto se recorda de Elimeleque dizendo que eles não deviam ter saído de Belém. Por fim, Noemi pergunta a Deus: “Por que me abandonaste?...”.
FADE IN:
10 ANOS DEPOIS
CENA 1: INT. CASA DE NOEMI – SALA – DIA
Noemi (52 anos, cabelos ondulados e quase sem sardas), Rute (30 anos, cabelo negro, ondulado e olhos verdes), Malom (34 anos) e Quiliom (33 anos) estão sentados à mesa, na expectativa. Então Orfa (30 anos, cabelo e olhos claros) finalmente traz o prato: um assado.
MALOM
(empolgado) Hum... Finalmente.
RUTE
(sorrindo) O tão esperado assado da Orfa.
Orfa coloca o assado na mesa.
QUILIOM
Meu amor, pelo cheiro, você caprichou, hein...
ORFA
Ah, gente, espero que esteja bom...
NOEMI
Não se preocupe, Orfa. Tenho certeza que está uma delícia!
Eles sorriem e Orfa senta.
MALOM
Domingo é o meu dia preferido. Dia de comer até se fartar!...
QUILIOM
E de beber até se alegrar!
Eles riem.
NOEMI
Domingo é um ótimo dia mesmo. Quando toda a família se reúne.
Eles sorriem. Rute olha para Noemi carinhosamente.
QUILIOM
Certo, certo, família. Mas que tal comermos, han?!
ORFA
Vamos.
Orfa começa a cortar o assado.
QUILIOM
Quem dera todo dia você fizesse um desse lá na loja da Leila, han, Orfa?...
MALOM
Quiliom... (riem) Coitada da Orfa...
ORFA
Obrigada, Malom. Seu irmão deve ter se esquecido do quanto a gente trabalha lá, fazendo as peças para a Leila.
QUILIOM
Brincadeirinha.
Quiliom a beija no rosto.
ORFA
Rum.
Noemi ri.
RUTE
Por falar em Leila, Aylla não viria para almoçar conosco?
NOEMI
Ah, ela ia vir, mas a Leila está com muitas encomendas e ela ficou para ajudá-la.
ORFA
(para Quiliom) Coma bem. Pelo jeito, amanhã vamos ter muito trabalho na loja.
MALOM
(para Rute) E nós no campo.
RUTE
A Aylla está uma moçona, não é?
ORFA
Quantos anos ela tem mesmo?...
NOEMI
17 anos.
RUTE
O tempo passa, nossa... Parece que foi ontem que a resgatamos do templo.
ORFA
Ela e a Leila deram tão certo... Na época eu pensava que Rute é que ficaria como a mãe dela. Elas viviam tão juntas no templo...
RUTE
Rum... Não seria nada ruim... Mas a Leila precisava mais do que eu...
Noemi olha para ela.
MALOM
Bom, sei que todos já estão com suas porções, mas temos que agradecer antes.
RUTE
Claro!
Noemi fica levemente desconfortável, e Rute toma a frente saindo da cadeira e se ajoelhando. Todos fazem o mesmo, inclusive Noemi.
MALOM
Senhor, nosso eterno Deus... Entramos à Tua santa presença para, primeiramente, agradecer pelo fôlego de vida que nos permitistes.
Todos estão de olhos fechados, menos Noemi, que encara o chão.
MALOM
Agradecemos pela saúde, pelos livramentos, os vistos e os não vistos por nossos olhos, e também por essa refeição maravilhosa que colocastes em nossa mesa. A Ti somos gratos por tudo. Am--
RUTE
(interrompendo) Senhor... Também te pedimos... Orfa e eu... Que nos agracie... Nos dê a graça de sermos mãe... Que, se houver algum mal em nosso ventre impedindo que geremos, arranque... por misericórdia. E complete a nossa felicidade. Amém!
TODOS
Amém.
Um tanto emocionada, Rute e Orfa se levantam e sentam. Todos se ajeitam para comer, mas percebem Noemi.
ORFA
Senhora Noemi, está tudo bem?
NOEMI
Sim, sim, claro... Não percam a alegria, meus filhos! Vamos comer!
RUTE
A senhora não orou... não é?
Noemi fica meio sem jeito.
ORFA
É... por causa... da Promessa?...
RUTE
Orfa!
NOEMI
Tudo bem, está tudo bem. Não precisa se preocupar, Rute, até porque não houve promessa alguma para que eu me sinta mal.
Orfa e Quiliom franzem o cenho.
NOEMI
Vamos comer! Eu acompanhei Orfa fazendo esse assado. Carne de carneiro ao molho de...? Quem acerta?! Ahn?!
Um leve mal-estar, mas alguns sorriem tentando retornar ao clima alegre.
Após o almoço, Noemi leva alguns pratos sujos para um recipiente de água. Orfa e Quiliom se aproximam de Rute e Malom, e os quatro observam Noemi.
RUTE
Ela realmente não acredita mais que houve a Promessa.
MALOM
Acha que foi um delírio, um sonho, algo assim...
RUTE
É muito triste isso.
QUILIOM
Ela não ora mais a Deus também.
ORFA
Oh, minha sogra...
Então Noemi pega uma porção e leva para a mesa.
NOEMI
(sorrindo para eles) Quem quer doce de tâmaras?!
Eles tentam sorrir simpáticos.
CENA 2: INT. PALÁCIO – SALA DO TRONO – DIA
Na tranquilidade da sala do trono, o Sumo Sacerdote Faruk (50 anos, careca e vestes negras) e o Capitão do exército moabita estão diante do trono, onde está sentado o rei Zylom (60 anos, cabelo na nuca).
ZYLOM
(angustiado) Eu não sei se ando comendo muito nos jantares, ou se é o peso dos anos, mas toda noite, toda noite, sem exceção, eu tenho o mesmíssimo sonho.
FARUK
E como é esse sonho, meu soberano?
ZYLOM
Eu caminho por uma planície vasta... a perder de vista. Há apenas um único monte ao meu lado. De repente, uma pedra gigantesca é lançada do outro lado desse monte e voa na minha direção. Acordo quando ela me atinge. Acordo assustado, angustiado... É terrível!... Ando muito aflito por causa desse sonho.
FARUK
Bom, meu rei, na verdade não há nenhuma mensagem dos deuses para o soberano... Aparentemente está tudo bem. Pode... ser apenas um sonho comum...
ZYLOM
Um sonho comum que se repete todas as noites, da mesma maneira!...
FARUK
Não seria exatamente o primeiro caso, meu senhor.
ZYLOM
Eu andei pensando... em uma possibilidade...
FARUK
O quê, senhor?
Zylom respira fundo.
ZYLOM
Os amorreus...
CAPITÃO
Senhor. (pequena pausa) Os amorreus são um problema antiguíssimo. Não entendo...
ZYLOM
Não tenho certeza. Naquele dia, naquela batalha... Devíamos ter matado a todos. Nenhum deveria ter fugido.
CAPITÃO
Senhor, já se passaram quase 10 anos. Não há o menor sinal de atividade deles, e ainda que quisessem se vingar, já teriam tentado.
Zylom não está muito seguro. Continua ali, aflito.
CENA 3: INT. TEMPLO – SANTUÁRIO – DIA
No vasto santuário do templo está o servo de Faruk. O Sumo Sacerdote entra.
FARUK
Ah!
SERVO
Está tudo bem, senhor?
FARUK
(fazendo suas coisas) O rei... Zylom nem desconfia que eu já não sei nada dos deuses! Nem mesmo que eu não faço... a maioria das minhas obrigações. Mas também, como poderia?! Os deuses me abandonaram!
O servo o observa com certa apreensão.
FARUK
Não acontece nada, não consigo nada, não alcanço nada!
Continua a mexer nas coisas.
FARUK
Mas isso tem solução, ah, tem solução sim. Aylla... Ela sempre foi e é a solução! Deve estar lá, naquela lojinha, vivendo normalmente!
SERVO
Senhor... o acordo...
Faruk vira para ele.
FARUK
Nada! De tudo o que eu fiz em todos esses anos, nada adiantou! Não saí do lugar! Imóvel!... Só fracasso atrás de fracasso atrás de fracasso! (se aproxima do servo) Eu não suporto mais viver nessa miséria! Vergonha, derrota, fracasso... Isso tudo caracteriza miséria para um homem como eu! Já vi que nada do que eu fizer vai resolver... a não ser Aylla. Aylla é minha salvação. Aylla é minha carta de passagem livre para o cume do sucesso! É o meu par de asas no voo rumo à glória! Rumo às conquistas cabíveis apenas a um legítimo filho de Baal como eu!
SERVO
E o que o senhor pretende fazer?
FARUK
Vou recuperar Aylla. E então finalmente vou sacrificá-la. Quando a comprou dos mercadores há alguns anos, você estava guiado. Aylla está destinada a me catapultar para o sucesso. Assim que eu a vi chegando, percebi. Senti! Sempre soube que ela se destacaria na seleção da nova oferenda. Rute e Orfa jamais desconfiaram que eu já sabia de Aylla muito antes delas. Agora chegou a hora do destino se cumprir.
SERVO
Senhor, pense bem... É perigoso. Aylla é protegida pelos maridos de Rute e Orfa... E sabe-se lá se não há mais homens...
FARUK
Vamos fazer isso de forma que pareça um assalto comum. Vão concluir que foi algum saqueador, algum bandido, ou então fique sendo como um crime sem solução. Acredite, Aylla foi feita para mim. Depois de 10 anos sendo derrotado, consigo ter essa certeza mais firme do que nunca. Vai dar tudo certo.
O servo permanece um tanto preocupado.
CENA 4: INT. CASA DE NOEMI – SALA – DIA
Após comerem o doce, Rute, Orfa e Noemi lavam os recipientes sujos enquanto Malom e Quiliom varrem a entrada da casa. Vendo que as noras estão indo bem, Noemi as deixa e se aproxima dos filhos. Olha se certificando que elas não estão olhando para ali, e muito menos ouvindo, e se aproxima mais dos dois.
NOEMI
Meninos...
QUILIOM
Mãe?
MALOM
Diga, rainha Noemi.
Noemi ri.
NOEMI
Vocês estão bem?
Malom e Quiliom estranham um pouco, se entreolham e olham para ela, que sorri simpática para eles.
MALOM
Graças ao bom Deus.
Quiliom faz que sim, concordando.
QUILIOM
E a senhora?...
NOEMI
Ah, eu estou bem, vocês sabem... Só uma coisa me aflige, na verdade...
MALOM
O quê?
Noemi dá mais uma olhada para as duas; continuam lavando as coisas.
NOEMI
Estou preocupada com elas... Essa situação, esses anos todos e não geraram...
MALOM
Nós estamos agindo, mãe. Estamos orando...
QUILIOM
Todos os dias, há muito tempo.
NOEMI
Sim, sim... É que... Às vezes, vocês podem fazer tudo isso e ainda não será suficiente... Não adiantará de nada.
Eles estranham.
QUILIOM
O que a senhora quer dizer com isso?
NOEMI
Essas mulheres... têm um passado. Vocês sabem, foram sacerdotisas...
Malom e Quiliom um tanto incomodados.
NOEMI
E se alguma coisa, ou várias coisas que elas fizeram em rituais pagãos acabaram... acabaram por... secar seus ventres?... Ou então e se isso for uma maldição por terem lidado com deuses?
Malom e Quiliom estão bem abalados pela teorização de sua mãe.
QUILIOM
Não é possível, mãe...
MALOM
Ainda que for algo assim... oração pode sim adiantar.
NOEMI
(dando de ombros) Se vocês têm fé...
Malom franze o cenho. Rute e Orfa chegam ali.
ORFA
(pegando carinhosamente em Noemi) Do que estão falando?... Hum?
MALOM
Ah, só conversa jogada ao vento--
NOEMI
(interrompendo) É sobre descendência. A descendência de Elimeleque.
Triste, Orfa tira as mãos de Noemi...
ORFA
É o que eu mais quero... Nós estamos em busca disso.
RUTE
Sim... Eu sei que preciso dar um filho a Malom.
Malom se aproxima e segura as mãos da esposa.
MALOM
Se não acontecer... se Deus não permitir... então tudo bem. Não é a melhor opção, mas tudo bem. Porque quem tem você, Rute, tem tudo.
Rute sorri suavemente, quebrando um pouco de sua tristeza. Noemi, incomodada com o que Malom falou para Rute, se limita a coçar o olho levemente.
NOEMI
Vamos. Vamos sentar lá fora e... conversar até à noite cair...
Eles saem para fora.
CENA 5: EXT. CASA NO CAMPO – DIA
É uma casa isolada no campo. Os membros da família, espalhados no lado de fora, comem e bebem alegremente.
MULHER
Meu amor, acabou o vinho...
HOMEM
Mas já? Eu avisei que o Sidrônio nos daria prejuízo...
SIDRÔNIO
(bêbado) Mas eu não bebi nenhuma gota...
Todos riem.
HOMEM
(descontraído) Esperem, já pego mais.
MULHER
Aproveite e traga um pouco de pão também, meu amor.
HOMEM
Certo.
O homem entra na casa.
CENA 6: INT. CASA NO CAMPO – COZINHA – DIA
O homem descobre um pano e pega o pão. Arranca um pedaço, come e deixa o restante no balcão. Vai para a sala.
CENA 7: INT. CASA NO CAMPO – SALA – DIA
Ele entra mastigando. Olha embaixo de uma mesa, dentro de um recipiente, em outros lugares... Até que acha embaixo de um móvel.
HOMEM
Sabia que escondê-lo me faria feliz algum dia.
O homem então se levanta para voltar quando paralisa!
Parados na entrada da casa, ali na porta da sala, vários homens o encaram.
HOMEM
(assustado) Quem são vocês?!
Segismundo (60 anos, um pouco gordo), Gael (52 anos, alto e olhos claros), Iago (52 anos), Montanha (50 anos, músculos gigantes) e outros homens da Caravana o encaram sérios.
HOMEM
Quem são vocês???!!!
SEGISMUNDO
Você já ouviu falar de nós.
HOMEM
O que querem?...
Segismundo se aproxima.
SEGISMUNDO
Ouvimos dizer, há algum tempo, que nessa casa aqui... há um objeto de incomparável beleza e valor. Um vaso de prata babilônico.
HOMEM
Não sei do que estão falando!
De repente, barulhos lá fora. Gritos dos da família... O homem fica assustado, angustiado... encara Segismundo.
HOMEM
O que está acontecendo?! Deixem minha família em paz!
Os gritos lá fora param. Segismundo, tranquilo, se aproxima mais, encarando o homem assustado.
SEGISMUNDO
Nesse mesmo momento, vários dos meus homens estão mantendo a sua família como refém. Estão sendo liderados por um homem chamado de Besta Louca, que costuma comer o coração de suas vítimas.
O homem está cada vez mais abalado.
SEGISMUNDO
(apontando o dedo no rosto do homem) Ou você me entrega o vaso, que eu sei que está aqui, ou você e toda a sua família morrem. Simples assim.
Enquanto o homem tenta dizer que não há vaso algum ali, Iago se distrai. Ele olha para uma mesinha ali, onde há um pergaminho. Segismundo e o homem continuam a se falar. Iago franze o cenho e pega o pergaminho. Lê-o. É uma espécie de anúncio de uma mulher que se diz feiticeira e promete grandes coisas mediante um pagamento justo.
Iago se interessa. Lê, relê e relê de novo... até que se assusta e olha: o homem, com um punhal fincado em sua barriga, cai no chão. O recipiente de barro cai, se parte e o vinho se espalha ao lado do corpo. Iago volta a olhar para o pergaminho.
CENA 8: EXT. CASA NO CAMPO – DIA
Pouco depois, todos os homens da Caravana caminham tranquilamente para longe dali. Segismundo carrega o vaso de prata babilônico. Ao fundo, a casa em chamas e nenhum som e nem movimento algum.
BESTA LOUCA
(os beiços manchados de sangue) É lindo, senhor.
Segismundo dá uma olhada no vaso que carrega e continua a andar.
SEGISMUNDO
Dá para o gasto.
Eles se aproximam de seus cavalos, amarrados embaixo de uma árvore, montam e saem cavalgando.
CENA 9: EXT. DESERTO – DIA
Mais tarde, os homens cavalgam em velocidade baixa.
IAGO
Nosso grupo cresceu tanto... Não sei porque ainda chamam de Caravana. Já somos quase uma cidade.
Logo à frente, embaixo de várias árvores frondosas, alguns homens de preto fazem a guarda da região. Com a aproximação dos cavaleiros, eles abrem espaço.
SEGISMUNDO
Tudo certo no perímetro?
GUARDA
Tudo certo, senhor.
Os cavaleiros passam e os guardas voltam à sua formação.
Eles se aproximam de árvores com a folhagem cada vez mais fechada... Passam por elas e dão de cara com um paredão de folhas. Mas eles não param, apenas continuam... e passam por elas.
CENA 10: EXT. VILA – DIA
Ao passar pelo muro de folhas, eles chegam numa grande clareira. Nela, várias casas bonitas e com um certo luxo. Homens e mulheres passeiam rotineiramente para lá e para cá.
SEGISMUNDO
Obrigado por mais uma missão, homens.
Os outros cavaleiros se espalham, cada um vai para uma casa. Iago passa pelo povo e, ao chegar em sua casa, desce do cavalo, o amarra e entra.
CENA 11: INT. VILA – CASA DE IAGO – DIA
Iago tira alguns apetrechos de sua roupa e coloca na mesa. Então tira da veste o pergaminho que encontrou na casa, senta e relê.
E fica pensativo...
CENA 12: EXT. VILA – DIA
Segismundo termina de dar o que comer para o cavalo e caminha para sua casa. Tamires (52 anos) o alcança.
TAMIRES
Segismundo... Preciso falar com você.
SEGISMUNDO
(sem parar) Pois diga, oras.
TAMIRES
Eu preciso de perfumes, Segismundo. Perfumes. Também estou precisando comprar uma boa armadilha... Ontem à noite descobri um ninho de ratos no lado de fora da minha casa.
SEGISMUNDO
É só ir buscar, Tamires. Pegue um cavalo e vá.
TAMIRES
Já estou cansada de sempre que precisar de algo ter que ir disfarçada a Belém.
Segismundo para e olha para ela.
SEGISMUNDO
Você quer voltar para Belém?
TAMIRES
Talvez.
SEGISMUNDO
Como faria isso?
TAMIRES
Eu já pensei nisso. Tenho um plano.
Encarando-a, ele aperta os olhos.
CENA 13: INT. CASA DE ORFA – QUARTO – NOITE
A noite cai.
Quiliom entra no quarto e fecha a porta. Orfa está sentada, esperando.
ORFA
Deite... Vou fazer uma coisa.
Quiliom, curioso, deita na cama e olha para ela. Orfa se levanta, fica em pé de frente para o marido deitado, e começa a dançar.
Uma dança com movimentos sensuais... Mas para, interrompida por Quiliom.
QUILIOM
O que está fazendo?
ORFA
É uma dança moabita... Dança da fertilidade. Eu acho que ainda me lembro como é... Vou tentar.
QUILIOM
Orfa, amor... Eu... acho que é melhor não.
ORFA
Quiliom, há quase 10 anos somos casados e nada deu certo... Oramos, buscamos, tentamos... Até sacrificamos hábitos nossos!...
QUILIOM
Eu sei, eu sei... Mas não acho que seremos abençoados assim... com uma dança pagã...
Orfa fica frustrada.
ORFA
Foi uma tentativa... Mas se prefere que não...
Orfa deita ao lado de Quiliom. Ele a abraça.
QUILIOM
Vamos fazer do jeito comum...
Se encaram e se beijam.
CENA 14: INT. CASA DE RUTE – QUARTO – NOITE
Embaixo da coberta, Rute beija Malom e deita ao seu lado. Eles sorriem. Malom a abraça.
MALOM
Eu te amo.
RUTE
Também te amo, meu amor.
Trocam um beijo.
RUTE
Em quantos momentos como esse já não estivemos esperançosos, pensando que agora daria certo?...
MALOM
Muitos... Mas... Só nos resta confiar.
Rute faz que sim, pensativa.
RUTE
Ou então aceitar que não podemos ter filhos.
Ficam um tanto tristes... Ele a beija.
CENA 15: INT. CASA DE NOEMI – QUARTO – NOITE
Noemi pega a água de uma bacia com as mãos e molha o rosto. Depois seca-o, toma um copo de água e deita.
Acomodada, ela olha para o espaço vazio ao seu lado e o encara por um bom tempo...
NOEMI
Já faz tanto tempo... E ainda assim você faz falta.
Ela acaricia de leve o espaço ao lado.
NOEMI
Rum.
Por fim, Noemi vira, se ajeita e adormece.
CENA 16: INT. CASA DE LEILA – QUARTO – DIA
A noite passa e o dia amanhece...
Leila (60 anos), deitada, acorda aos poucos. Seus olhos se abrem devagar, levemente trêmulos... PÁ!!!
Assustada, ela senta na cama de uma vez!
LEILA
Mas o que é isso???!!!
Aylla (17 anos) foi quem fez o barulho batendo palma bem forte. Sorridente, está ajoelhada ao lado, na cama.
AYLLA
Feliz aniversário!!!
LEILA
Meu Deus, Aylla! Menina, quer me matar?!
SOM
BÉÉÉ!!!
LEILA
O que é isso???
Parada na porta do quarto há uma cabra.
LEILA
O que é isso, Aylla?!
AYLLA
“Isso” não, mãe. É uma cabrinha. É seu presente de aniversário.
Leila olha para a cabra.
CABRA
Béééééééé!!!
Confusa, Leila olha da cabra para Aylla, que mantém o sorriso grande. IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:
No próximo capítulo: Iago parte em busca da feiticeira e Josias encontra um amor do passado.
Obrigado pelo seu comentário!