
(CENA 1 – Manhã / Casa das Hoffman | Preciosa – Interior de SP / 2019)
Débora abre a porta do quarto de Clara rapidamente. O salto alto de Débora fazia um barulho que ecoava no quarto inteiro quando colidia no piso de madeira.
DÉBORA – Clara! Clara, acorde! – ela grita enquanto balançava-a com as duas mãos sobre o cobertor de algodão que a cobria por todo o corpo. Clara estava dormindo na cama-box que estava encostada no canto da parede e ao lado continha um criado-mudo de madeira. Clara retira sua cabeça debaixo do cobertor rapidamente.
CLARA – Eu vou já mãe... – ela diz sonolenta e colocando a sua cabeça novamente debaixo do cobertor. O seu mal hálito se exalava pelo o local, fazendo com que Débora o sentisse.
DÉBORA – Garota, você já tem 20 anos, acorda para a vida. Você tem que ir para a universidade, Clara! – ela grita impaciente e puxa o cobertor que cobria Clara.
CLARA – Me deixa! – ela exige estressada e se cobre novamente com o cobertor. Débora solta um suspiro breve e impaciente.
DÉBORA – Você já faltou o semestre passado quase inteiro, quer reprovar de ano? – ela pergunta desesperada.
CLARA – Eu reprovarei da mesma maneira. – ela retira sua cabeça debaixo do cobertor mais uma vez e coloca as suas duas mãos que estavam em baixo, acima do que a cobria.
DÉBORA – E por quê? Você mesma disse que estava com boas notas e... – ela pergunta e diz um pouco eufórica. Clara olha para cima frustrada e interrompe sua mãe.
CLARA – Eu sai da universidade! – ela diz impaciente. Débora muda a sua feição.
DÉBORA – O quê?! – ela grita sem acreditar altamente. Clara pisca os olhos rapidamente por levar um pequeno susto com o alto barulho emitido por Débora e em seguida fica claramente estressada.
CLARA – Agora me deixa dormir, por favor. – ela tenta se cobrir com o cobertor novamente, mas Débora segura a sua coberta e a puxa para si. Clara a olha indignada. – Mamãe! – ela diz chateada. Débora só inspira um pouco.
DÉBORA – Ana Clara Hoffman, se levante da porra dessa cama! – ela grita nervosa. – Clara se senta na cama e encara sua mãe com estresse. Clara se levanta, calça seu chinelo amarelo e vai ao banheiro que ficava ao lado do seu guarda-roupa de madeira escura.
(CENA 2 – Manhã / Casa das Hoffman – Cozinha)
Raquel estava terminando de fazer os ovos mexidos. Clara e Débora chegam na cozinha discutindo sobre a faculdade.
DÉBORA – Você é uma imprestável, uma irresponsável! – gritava Débora enquanto seguia Clara, que estava com as mãos nos ouvidos para não a escutar até ela se sentar. – Como pôde me dizer somente agora que tinha abandonado a universidade? – ela diz claramente estressada.
CLARA – Já chega Senhorita Drama! Nem faz tanto tempo assim... - ela olha para cima em sinal de frustração. Débora cruza os braços e olha Clara com desgosto.
DÉBORA – Já faz quase DOIS MESES! – ela levanta dois dedos da sua mão. – E não gosto que me chame de Senhorita Drama, sou sua mãe e exijo respeito.
CLARA – Ah, Débora. Já chega dessa ladainha, todo dia essa mesma coisa. – ela diz impaciente e mexendo as mãos. Raquel serve os dois pratos que continham ovos mexidos. – Eu sempre lhe avisei que não queria fazer medicina, mas você insistiu.
DÉBORA – Meu deus, Clara. Aquele seu sonho de fazer ciências políticas não ia lhe fazer chegar a lugar algum, principalmente naquele antro de comunistas.
CLARA – Hello? Terra chamando! Em que mundo você vive, Débora? – “Mamãe” diz Débora. Clara olha para cima frustrada. – A Universidade Paulista não é antro de comunistas como você diz. A Universidade Paulista tem um dos melhores graus de ensino do estado, não é por essa besteira de lado político que eu não devo estudar onde e o que eu quero.
RAQUEL – Acho que vocês duas já discutiram demais por hoje, né? – ela dá pequenos tapas no ombro de Clara. – Além do mais, irmã. A Clara já tem a idade suficiente para decidir o que quer. Se ela quer fazer medicina ou ciências políticas, ela quem tem que decidir. – Débora olha para a irmã com cara de desprezo. Ela se aproxima de Raquel.
DÉBORA – Ela é sua filha ou minha? – ela sussurra no ouvido de Raquel.
CLARA – Já chega de discussão vocês duas também! Porra, ninguém se dá bem nessa casa? – ela pega o prato com os ovos e vai andando para o quarto.
DÉBORA – Olha essa boca, garota. – ela vai atrás de Clara, mas ela a ignora, então Débora ficou na cozinha com Raquel. – Lhe dá prazer virar a MINHA filha contra mim? - ela dá enfâse ao "minha" e aponta para si mesma com as duas mãos.
RAQUEL – Não precisa ficar me lembrando que ela é sua filha. – Raquel se aproxima de Débora.
DÉBORA – Será que não? Você pode acabar confundindo com aquele bebê que você ia ter. – Débora sai da cozinha e vai andando para o seu quarto.
Raquel encosta na bancada e começa a chorar relembrando do passado.
(CENA 3 – Manhã / Rádio 94.7 FM)
21 ANOS ATRÁS...
Uma nova sede da rádio dos Romanos foi inaugurada em Preciosa, Raquel decidiu ir até lá atrás de emprego. Chegando lá ela entra na fila gigante de pessoas com currículos querendo garantir alguma vaga no mercado de trabalho. Depois de um longo tempo, finalmente chega sua hora de apresentar o currículo.
SECRETÁRIA – Bom dia! – ela diz alegre enquanto tentava fechar uma gaveta na sua mesa. – Veio a procura de trabalho? – ela ajeita sua postura depois de conseguir fechar a gaveta.
RAQUEL – Sim, eu descobri que aqui se abriu uma nova sede da rádio. Eu aceito qualquer tipo de trabalho.
SECRETÁRIA – Então a senhora deve ir na sala do senhor Oscar, primeira porta à direita no 4° andar. – ela aponta para o corredor à direita, onde estava o elevador. – Boa sorte!
RAQUEL – Obrigada! – ela dá um “tchauzinho” para a secretária.
(CENA 4 – Manhã / Rádio 94.7 FM – 4º Andar)
Ela sai do elevador, mas não consegue se lembrar onde fica o escritório. Ela pede ajuda à uma moça que estava por lá.
RAQUEL – Moça! – ela acena para a moça, chamando a sua atenção.
JOANA – Olá? O que foi? – ela pergunta e levanta uma sobrancelha.
RAQUEL – Sabe onde fica o escritório do Senhor Oscar? – ela pergunta um pouco ofegante.
JOANA – Claro, ele é o meu marido. – ela sorri. – Ah, que cabeça a minha... nem lhe apresentei o meu nome. – ela pega um cartão do bolso da sua calça e oferece a Raquel. – Meu nome é Joana Romano, mas pode me chamar somente de Joana.
RAQUEL – Muito prazer lhe conhecer, me chamo Ana Raquel Hoffman. – ela oferece a mão para Joana apertar.
JOANA – Já que agora nos conhecemos, irei lhe levar ao escritório do Oscar. – ela sorri.
RAQUEL – Você é esposa de Oscar Romano? Presidente de tudo isso? – ela pergunta surpresa enquanto andava pelo o corredor.
JOANA – Sim, nós somos casados a mais de 30 anos. Acho que a nossa união não tinha como ser mais do que perfeita. – ela sorri. Elas duas param em frente a porta do escritório. – Bem, acho que aqui é a nossa linha de chegada. – Raquel dá uma risada baixa. – Eu abro a porta para você. – ela diz sorridente.
(CENA 5 – Manhã / Casa dos Hoffman – Quarto de Débora)
Cristina bate duas vezes na porta do quarto, mas Débora não responde. Cristina resolve abrir a porta.
CRISTINA – Filha? – ela pergunta preocupada enquanto via que ela estava deitada e não respondia. – Filha, está dormindo? – ela se aproxima e vê que tem mais uma pessoa ao lado de Débora. – Débora? Exijo que acorde nesse exato momento! – ela grita histericamente.
DÉBORA – O que foi mãe? – ela pergunta estressada.
CRISTINA – Quem é esse homem do seu lado? – ela pergunta indignada.
DÉBORA – Quem? – ela olha para o lado e se assusta. – Meu deus... – ela fala baixo e surpresa.
CRISTINA – Não sabe que aqui dentro de casa isso é EXTREMAMENTE PROIBIDO? – ela fala dando ênfase.
DÉBORA – Ah mãe, deixa de bobagem. Essa regra já se quebrou a muito tempo. – ela veste algumas das roupas que estavam no chão. Débora dá uma “sacudida” no homem que estava deitado para ele se acordar. Ele se levanta ao entender o recado, veste as roupas e vai embora. Cristina olha com cara de receio para ele quando passou do seu lado.
CRISTINA – Acho que agora sim podemos falar. – Débora olha para cima em sinal de tédio. – Que história é essa de que essa regra está quebrada? – ela se senta na cama ao lado de Débora.
DÉBORA – Porquê que a Raquel pode transar com qualquer homem nessa casa e eu não? – ela pergunta em tom de inveja.
CRISTINA – Mas a Raquel nunca trouxe alguém para cá.
DÉBORA – Isso é o que a senhora acha, a Raquel não é santinha como você pensa. – Cristina olha para frente com a boca semiaberta de surpresa.
(CENA 6 – Manhã / Rádio 94.7 FM – Escritório de Oscar | 4º Andar)
Ao abrir a porta o sorriso de Joana quebra. Ela e Raquel veem Oscar aos beijos com outra mulher. A mulher estava sentada na mesa e ele em pé de frente para ela enquanto beijava o seu pescoço. A mulher percebe a presença das duas.
CÍNTIA – Oscar! – ela dá um pequeno tapa no ombro de Oscar para alertá-lo. Ele percebe e para de “comer” o pescoço da garota. Joana começa a ir lentamente para perto de onde eles estavam. Raquel ficou estática por ainda não entender direito o que estava acontecendo.
OSCAR – Jo-Joana? Não é o que você está pensando... – ele diz cinicamente enquanto também se aproximava da mulher. Joana acelera os passos e vai basicamente correndo até Oscar.
JOANA – Miserável! – ela grita e dá um forte tapa em Oscar, ela tenta dar outro, mas ele segura seu pulso. Os dois ficam se encarando.
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