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A Promessa - Capítulo 45


A Promessa
CAPÍTULO 45

webnovela de
FELIPE LIMA BORGES

escrita por
FELIPE LIMA BORGES

livre adaptação do livro de Rute

No capítulo anterior: Raabe fica cada vez mais abatida e Boaz se preocupa. A Caravana, Noemi e seus filhos são levados à presença do rei Zylom para serem ouvidos e julgados. Myra, disfarçada, vai até a loja de Leila, deixando Rute e Orfa surpresas. Segismundo inventa que em Israel existe um acordo para que ninguém abandone a nação em momentos difíceis, e que eles são soldados a serviço de Israel e que vieram a Moabe fazer a lei cumprir. Aos choros, Noemi conta toda a verdade. Myra diz a Rute e Orfa que foi até ali por estar muito intrigada com o que fizeram, e elas contam a verdade sobre Aylla e Faruk. Zylom condena cada homem da Caravana a 10 chicotadas e os expulsa de Moabe, e manda Noemi e os filhos voltarem para casa, a não ser que queiram assistir ao castigo antes. Noemi diz que a pena é branda demais, e o rei, furioso, manda todos eles embora dali. Os soldados mandam os homens se ajoelharem e rasgam as vestes deles. A tempo, Segismundo diz que o soldado e seus companheiros podem ficar com tudo o que eles têm se os deixarem ir, e o soldado aceita, pegando também os cavalos. Os soldados guiam os homens, encenando dor, para fora da cidade. Com ajuda dos filhos, Noemi chega à loja de Leila, deixando essa, Rute e Orfa preocupadas e aflitas sobre o que aconteceu.

FADE IN:

CENA 1: INT. CASA DE LEILA – LOJA – DIA

Noemi, Malom e Quiliom contaram tudo o que aconteceu. Rute e Orfa tapam a boca, chocadas.
RUTE
Elimeleque...
ORFA
Essa Caravana...
MALOM
Foram expulsos, mas... vai saber...
NOEMI
(chorando) Apenas me ajudem... com o corpo...
RUTE
Claro, claro, senhora Noemi!
Rute se aproxima de Noemi.
RUTE
Vamos? A senhora não estará sozinha... Vamos todos juntos. Vamos estar com a senhora.
Noemi olha para Rute e força um sorrisinho grato.

CENA 2: EXT. DESERTO – DIA

Os homens da Caravana, acompanhados pelos soldados, descem uma encosta gramada, aproximando-se do rio Jordão.
SOLDADO
Sumam daqui. Se entrarem em Moabe novamente, serão todos mortos.
Os soldados param, observando-os. Segismundo olha para um e continua a caminhada. Então atravessam o rio e saem na outra margem. Lá, enchem seus odres de água.
Segismundo então dá mais uma olhada para os soldados do outro lado e vai embora, acompanhado dos seus.
IAGO
Será uma longa caminhada...
SEGISMUNDO
Vamos ter que nos virar para achar comida.
GAEL
O preço da liberdade.
Os homens se entreolham. Besta Louca e Montanha trocam olhares preocupados e eles caminham dali, cada vez mais distantes do Jordão.

CENA 3: EXT. MOABE – CAMPO – DIA

Amparada principalmente por Malom, Quiliom e Rute, e com Orfa e Leila ainda abaladas em volta, Noemi se aproxima do corpo de Elimeleque, deitado como que dormindo sobre a relva. Bem próximo, ela para e chora no ombro de Quiliom, que chora junto. Rute e Orfa também começam a chorar.
Finalmente eles se aproximam e Noemi agacha com delicadeza ao lado do corpo. Toca sua mão no rosto dele... Todos eles a abraçam.
Algum tempo depois levam o corpo dali, já sobre uma maca de madeira e coberto por um pano branco.

CENA 4: EXT. DESERTO – CAVERNA – DIA

Tempo depois, à entrada de uma caverna, Noemi, Malom, Quiliom, Rute, Orfa, Aylla e Leila ficam em silêncio ao redor de Elimeleque.
Mais tarde, Noemi agacha e olha para o rosto do marido. Fungando, acaricia o rosto dele por um bom tempo.
NOEMI
Nunca vou te esquecer...
Algum tempo depois, com muita dificuldade por conta do choro, Malom e Quiliom carregam o corpo do pai para dentro da caverna. Noemi chora copiosamente. As outras tentam consolá-la, mas também choram.
Os filhos saem da caverna, se entreolham com o rosto vermelho, fazem que sim com pesar e começam a fechar a caverna, pedra após pedra.
Vedada a caverna, eles se juntam à elas em um abraço de consolo e união...
ABERTURA

CENA 5: INT. CASA DE NOEMI – DIA/NOITE

Os dias passam com dificuldade para Noemi. Muita tristeza e amargura. Não poucas vezes, Malom e Quiliom a encontram chorando em um canto.

CENA 6: EXT. TEMPLO – VARANDA – DIA

Myra, vestida como a Sacerdotisa que é, observa a cidade lá fora, lá embaixo. Olha para as ruas, para as pessoas indo e vindo, sorrindo, conversando, brincando, trabalhando...
Então ela olha para a direção da casa de Leila, mas não distingue a residência. Apenas encara aquela região...

CENA 7: EXT. DESERTO – DIA

Cansados, os homens da Caravana atravessam as mais diferentes paisagens por que passaram, há pouco tempo, cavalgando. Um deles tosse, outros derramam água em seus rostos...
Segismundo aperta os olhos para o horizonte. Ainda falta muito...
Eles continuam.

CENA 8: EXT. MOABE – DIA

Ainda mais dias se passam, e Noemi ajuda nos preparativos para o casamento. Está mais tranquila, mas não completamente. Rute se aproxima, fala que ela pode descansar, mas ela recusa. Continua a ajuda-los.

CENA 9: INT. CASA DE NOEMI – SALA – DIA

Em outro dia, mexendo com as coisas da festa, Rute entra tranquilamente quando escuta algo vindo do quarto. Então ela se aproxima e distingue a voz de Noemi. Para do lado de fora, sem ser vista, e presta atenção.

CENA 10: INT. CASA DE NOEMI – QUARTO – DIA

Dentro do quarto, Noemi, de joelhos e com as mãos para o alto, desabafa com Deus.
NOEMI
Senhor... Eu não consigo, eu não entendo... Eu tinha uma promessa, vinda de Ti! O anjo me passou naquela dia maravilhoso e único... Elimeleque era a minha Promessa, mas... ele se foi!... Senhor, por favor, faça-me entender!... Faça-me saber se voltaste atrás na Tua palavra... Não vejo nenhum mal significante vindo de minhas mãos para que isso acontecesse em minha vida...
Rute, lá fora, fica triste e preocupada.
NOEMI
Dói, Senhor... Dói muito... Eu estou perdida... Preciso entender, quero entender o porquê de tudo isso...
Noemi abaixa as mãos e senta no chão, as lágrimas brotando.
NOEMI
Quem dera... fosse apenas um sonho... Um sonho ruim...
Noemi então começa a se beliscar, a beliscar os braços, o corpo, se arranha toda...
NOEMI
AAAHHH!!! Acorde, acorde, Noemi!!! Acorde!!! Me acorde, Elimeleque, me acorde!!! AAAHHH!!!!
Noemi se desespera enquanto provoca dor em si mesmo. Rute, aflita, invade o quarto correndo e tenta impedir que ela continue se machucando.
RUTE
Senhora, senhora, calma, senhora Noemi, calma! Calma, senhora!...
Pouco a pouco Rute consegue acalmar Noemi, que então apenas soluça chorando. Rute senta ao lado dela.
RUTE
Calma... Vai ficar tudo bem... Respire...
NOEMI
Tudo bem... Tudo bem, Rute... Não se preocupe, estou bem... Obrigada, tá... Não precisa se importar...
RUTE
Mas eu me importo.
Noemi olha para ela.
NOEMI
Eu vejo... Você se importa muito, Rute. Precisa se preocupar com a festa, precisa cuidar do seu casamento, que está chegando...
RUTE
Eu sei, senhora Noemi, mas... Mas eu não consigo não me importar, não posso... A senhora não pode querer ficar sozinha. Malom e Quiliom se preocupam muito com a senhora, e nós todos vamos te ajudar, não vamos deixa-la só. É um momento difícil, é recente... Temos que passar por isso juntos. Juntos, seremos mais fortes.
Triste, Noemi faz que sim, respira fundo e limpa as lágrimas.
NOEMI
Obrigada. Daqui a pouco vou lá ajuda-los.
Rute continua a olhá-la, certificando-se de que está bem.

CENA 11: EXT. CASA DE NOEMI – QUINTAL – DIA

Sentados, Orfa e Quiliom confeccionam apetrechos da festa.
QUILIOM
Nunca pensei que sentiria tanta dor na vida... mas senti.
Orfa o olha tristemente.
QUILIOM
O que mais me dói agora é o fato de ter sido de uma forma... cruel.
ORFA
Quiliom, meu amor... Vocês mesmo contaram... que ele foi em paz. Que ainda tentou tranquiliza-los--
QUILIOM
(interrompendo) Como eu gostaria de encontrar Segismundo! E colocar minhas mãos nele!
Orfa percebe o ódio do noivo.
ORFA
Talvez seja melhor orar ao seu Deus...
QUILIOM
Será mesmo, Orfa? Meu pai era a Promessa da minha mãe e isso aconteceu! Deus deve ter se esquecido de nós. É... Talvez seja isso. Nos mudamos, saímos de nossa terra, e por isso o Senhor se esqueceu de nós.
Orfa o encara preocupada. Rute sai da casa e vai para a rua.

CENA 12: EXT. MOABE – RUA – DIA

Rute se aproxima de Malom, trabalhando em algo ali fora.
RUTE
Meu amor... está tudo bem?
Malom força um sorriso simpático.
MALOM
Difícil... Acho que estou sem rumo... Só não desmoronei ainda porque tenho você, tenho nosso casamento. Mas dói demais olhar para a minha mãe e enxergar decepção no rosto dela, Rute...
Rute se aproxima e o abraça carinhosamente.

CENA 13: INT. BELÉM - TEMPLO – CELA – DIA

Sentada de qualquer jeito no chão da cela, Tani respira fundo, desanimada.

CENA 14: EXT. CAMPO – DIA

Tamires colhe os poucos frutos de uma árvore quando nota algo. Olha bem e vê que são os homens da Caravana se aproximando.
TAMIRES
Finalmente.
Eles chegam ali e Tamires percebe os rostos sujos e os semblantes exaustos e desanimados.
SEGISMUNDO
Água! Água, Tamires!
Tamires logo pega seu odre e o entrega. Ele bebe um pouco e vai passando aos companheiros. Todos caem sentados na relva. Ela os olha com curiosidade.
TAMIRES
O que aconteceu?
Segismundo, sentado, olha para ela, em pé.
SEGISMUNDO
Se eu tivesse mais força, metia uma bofetada nessa tua cara.
TAMIRES
Por que--
SEGISMUNDO
(interrompendo) Não existe pedra alguma! Ai, minha garganta...
Tamires percebe, se ajeita e o olha confiante.
TAMIRES
Não existe mesmo. Eu precisava deles mortos e inventei essa história.
Os homens a olham com raiva, mas nenhum tem força ou ânimo para se levantar. No entanto, Segismundo se esforça, põe-se de pé e saca sua espada.
SEGISMUNDO
Nós nos deslocamos muito! Passamos por lugares que você nunca nem ouviu falar! Fomos a outro reino, estivemos à presença de um rei para ser julgados e por pouco não fomos açoitados! Além de quase morrermos de exaustão e sede!
TAMIRES
Que isso, que história é essa? Onde estão os cavalos? O que aconteceu?!
SEGISMUNDO
(apontando a espada para o pescoço dela) Eu vou te dizer o que vai acontecer, Tamires!
Iago põe-se de pé e se aproxima rápido.
IAGO
Ei, ei, ei! Acalmem-se, vamos todos nos acalmar. Vamos respirar...
Segismundo, raivoso, abaixa a espada.
TAMIRES
Alguém pode me dizer o que aconteceu?! Mataram Noemi e a família?!
IAGO
Apenas Elimeleque foi morto. Não tivemos tempo, fomos surpreendidos por soldados daquele reino.
TAMIRES
Que reino?
IAGO
Moabe. Eles nos levaram à presença do rei, que nos julgou e nos condenou a 10 chicotadas, além da expulsão do reino. Tivemos que entregar todas as nossas coisas, inclusive os cavalos, para que os soldados não aplicassem a pena. Há muitos dias estamos andando, por isso estamos assim...
Iago cai sentado novamente.
Tamires parece estar imaginando.
TAMIRES
Então Noemi está viúva... (sorri) Não era bem o que eu queria a longo prazo, mas a coitada deve estar sofrendo muito...
Ela olha para Segismundo, que senta.
TAMIRES
Por favor, me desculpe, Segismundo. Mas eu tenho ideias novas.
SEGISMUNDO
Não quero ouvir ideias suas.
TAMIRES
Você vai querer saber. Não são mentiras. São planos para crescermos mais.
SEGISMUNDO
Diga, então!
TAMIRES
Não agora, ahn? Não aqui, nesse momento. Acabaram de chegar... Mas saiba... Aliás, todos aqui saibam: vamos precisar finalmente sair de Belém, como era o plano desde o início, desde antes de a maioria de vocês entrarem.
Segismundo a encara.

CENA 15: INT. CASA DE BOAZ – SALA – DIA

Os dias se passam...
Deitada na sala, Raabe parece pior que nunca. Boaz, ao seu lado, muito preocupado.
BOAZ
Parece que o chá não resultou efeito algum, mãe... Já sei, foi fazer aquela porção que o vizinho comentou, e adicionar algumas folhas de--
RAABE
(interrompendo) Boaz, Boaz... Meu filho... Não perca seu tempo, meu filho amado. Eu já não sinto alegria nesse mundo, desde que seu pai se foi... Agora, chegou a hora de eu ir também.
BOAZ
Não, mãe, não diga isso, minha mãe... Não quero perder a senhora também...
RAABE
Você não me perderá, meu filho. Você tem Deus no coração, e eu estarei com Ele.
BOAZ
(começando a chorar) Mãe...
RAABE
Você precisa ser forte, Boaz. Precisa seguir com a missão que o seu pai te deixou e ajudar a reerguer Belém da fome.
Boaz a encara com os olhos molhados.
RAABE
Quando Belém estiver novamente próspera, acolha a todos os hebreus que vierem em busca de ajuda, de todas as tribos. Mas não só eles... Acolha também os estrangeiros. Lembre-se que sua mãe... também foi uma estrangeira, e dos mais baixos níveis da sociedade. Mas o povo a acolheu... Deus a recebeu de braços abertos, e ela teve a honra de chegar onde chegou.
Boaz acaricia o rosto da mãe.
RAABE
Seja sempre um bom homem, meu filho. Eu confio em você para o que precisa fazer... Eu sinto... que está destinado a dar certo.
BOAZ
Não me deixe, mãe...
RAABE
Um dia... todos nós vamos nos reunir novamente... E aí... nada e nem ninguém nos separará. Boaz...
BOAZ
Mãe...
Ela levanta a mão e acaricia o rosto do filho.
RAABE
Minha bênção... Eu te amo.
BOAZ
Eu também te amo, mãe...
Então a mão de Raabe desce e repousa. Contente, Raabe se ajeita e adormece...
Boaz, em lágrimas, mexe nela.
BOAZ
Mãe... Mãe!... Minha mãe!...
Percebendo que ela se foi, Boaz desaba a chorar, abraçando-a...

CENA 16: EXT. BELÉM – PRAÇA – DIA

Ali na praça, o Ancião e outros anciães mais jovens estão de frente para Tani, de mãos amarradas, e Tamires, normal. Atrás e ao redor, alguns soldados e os belemitas assistem.
ANCIÃO
Bem, estamos aqui para dar início ao julgamento da ré, essa mulher, Tani, tendo aqui também essa outra mulher, Tamires, na condição de acusadora. Por não se tratar de um crime classificado como grave, o julgamento está se dando aqui mesmo, em Belém, e não na capital, Hebrom. Com a palavra, Tamires.
Tamires olha para Tani, que encara o chão, depois para o povo ao redor, e por fim para o Ancião. Respira a fundo, se ajeita, pigarreia e abre a boca para falar.
TAMIRES
Sabem... A verdade é que é muito chato ficar inventando história quando se pode ter a graça da absoluta liberdade.
O Ancião franze o cenho.
TAMIRES
Conforme disse Tani, eu estava mesmo com a Caravana da Morte. Eu fui a criadora, e só por isso, todos vocês aqui deviam estar ajoelhados diante de mim!
Tani, confusa, levanta o olhar do chão e olha para Tamires. O povo se impressiona, murmúrios para todos os lados. Tamires ri.
TAMIRES
Se não querem ajoelhar por esse motivo, então que seja por outro.
Tamires bate palmas três vezes e, de repente, os homens da Caravana, dessa vez com arcos e flechas, surgem de todos os lados: de trás dos becos, de cima das casas ao redor... Todos apontando as flechas para o povo e para os soldados, que estão apenas com espadas. Na rua que dá para o portão da cidade, Segismundo aparece e para, apenas segurando sua espada enquanto espera.
TAMIRES
Ajoelhem-se!!!
Temendo serem mortos, os belemitas ao redor e os soldados se ajoelham. Os anciães e Tani permanecem de pé. Consternado, o Ancião encara Tamires, que sorri.
Então Iago, segurando sua espada, se aproxima para escolta-la. Antes de ir, Tamires vira para Tani.
TAMIRES
Está feliz, amiguinha da sardenta? Está livre agora. Mas se cuide... Podemos acabar nos topando pelos campos e desertos.
Iago e Tamires vão até Segismundo. Ao alcança-lo, os três caminham para a saída da cidade. Pouco a pouco e de forma ensaiada, os arqueiros da Caravana vão abandonando seus postos e indo embora. Os últimos ganham cobertura dos que saíram antes e, por fim, todos saem da cidade.
O povo, aflito, se levanta e fala, fala, fala muito...
ANCIÃO
Silêncio!!!
O povo para de falar.
ANCIÃO
Peço aos soldados que vão atrás e tentem ver para onde essas pessoas horríveis foram.
O Comandante faz que sim e sai com alguns soldados.
ANCIÃO
(para o povo) Eu sempre acreditei que essa mulher, Tani, fosse inocente. Mas as provas de Tamires, mentirosas, diga-se de passagem, eram mais concretas. Agora, no entanto, não resta dúvida a ninguém que Tamires era quem estava com a Caravana e Tani... é uma completa inocente. Pelo constrangimento que passou em público e pelos dias que ficou reclusa na prisão aguardando julgamento, eu apregoo, nessa ocasião, a inocência e a injustiça sofrida por ela. E ordeno a compensação, a ser feita pelo templo, de 30 sacos de moedas, conforme a lei.
Tani sorri aliviada.
ANCIÃO
E a declaro inocente de todas as acusações. Desamarrem-na imediatamente.
Um soldado se aproxima e desamarra as mãos de Tani, que sorri para o Ancião. O povo, no entanto, ainda murmura por conta da Caravana.
ANCIÃO
Povo de Belém! Peço que não desanimem vossos espíritos por conta desse grupo maligno que insiste em nos aterrorizar. Continuem firmes na fé, orando, buscando, para que a crise acabe de uma vez. Não deixem o fruto daquela semente plantada pelo saudoso Salmon seque e morra. Shalom a todos.

CENA 17: EXT. DESERTO – CAVERNA – DIA

Mais tarde, vários belemitas acompanham o sepultamento de Raabe. O Ancião limpa uma lágrima e Josias abraça Boaz com firmeza.
Com a caverna fechada, o povo começa a ir embora. Por fim, ficam ali Boaz e Josias, chorosos.

CENA 18: EXT. MOABE – MORRO – ENTARDECER

Ao som de uma cantoria alegre, alguns moabitas convidados observam a aproximação da noiva, cuja cadeira vem sendo carregada pela esquerda, e o noivo, na cadeira carregada pela direita. Rute e Malom, ela com o véu cobrindo o rosto. Cada vez mais próximos, eles sorriem felizes.
No alambrado para onde estão indo, um homem velho os aguarda. Entre os convidados e ao lado de Leila e Aylla, Noemi assiste emocionada. Lembranças repentinas começam a vir à sua mente: seu casamento... ela na cadeira, se aproximando de Elimeleque... Ambos jovens, ambos felizes... A cantoria dos convidados ali se funde às músicas e danças de seu próprio casamento... Rute e Malom chegam ao alambrado e descem as cadeiras. Então eles se levantam e aproximam do homem. Em sua mente, Noemi vê Elimeleque a olhando, prestes a se voltarem para o Ancião.
Em seguida, outros dois grupos trazem Orfa e Quiliom. A cantoria e as danças continuam. Noemi sorri muito emocionada. Por fim, o outro casal se junta ao primeiro, e ambos olham para o homem.
Seguindo a tradição dos hebreus, o homem preside o casamento. Bebem o vinho, elas dão as voltas em torno deles... Noemi lembra de quando deu as sete voltas em torno de Elimeleque. Ela tampa o nariz e a boca por causa do choro. Leila e os convidados acham que é apenas por causa do casamento dos filhos.
Por fim, o homem os declara casados e eles se beijam. Elimeleque e Noemi se beijam, recém-casados. Na mente dela, os cereais e flores jogados sobre os dois casais caem sobre ela e Elimeleque que, irradiando felicidade, olham para os convidados e levantam os braços em comemoração.
Noemi chora... Os quatro olham para os convidados e passam correndo por eles, atingidos por tudo que jogam em comemoração.

CENA 19: INT. CASA DE RUTE – QUARTO – NOITE

Rute e Malom, um tanto nervosos, se olham quase hipnotizados. Ele sorri um pouco e a acaricia.
Então a beija suavemente e, abraçados, deitam na cama.

CENA 20: INT. CASA DE ORFA – QUARTO – NOITE

Quiliom se aproxima de Orfa por trás e beija sua nuca e seu pescoço. Então pega as alças do vestido dela e as tira dos ombros com delicadeza. Ela vira de frente para ele e se entregam a um beijo apaixonado.

CENA 21: INT. CASA DE NOEMI – QUARTO – NOITE

Deitada encarando o teto, Noemi chora...
Leva sua mão ao travesseiro ao lado e o aperta, aperta com muita força...

CENA 22: EXT. MOABE – RUA – DIA

Mais dias se passam...
Tani e o Ancião caminham pela rua.
TANI
Os soldados encontraram algum sinal da Caravana?
ANCIÃO
Nada... Sumiram.
TANI
Outros que sumiram, e desses eu sinto muita falta, foram Noemi e Elimeleque. Até hoje não tivemos nenhuma mensagem enviada por eles... Nem sabemos se estão bem, onde estão...
ANCIÃO
Também gostaria muito de saber sobre eles. Fazem muita falta nessa cidade. Os rapazes, sempre tão alegres, cheios de vida...
Tani faz que sim.
TANI
A falta de notícias me deixa angustiada...
ANCIÃO
Oremos, Tani, oremos por eles...
TANI
Claro... Claro.

CENA 23: EXT. DESERTO – DIA

Parados, os homens da Caravana bebem água. Seus novos cavalos estão por ali. Gael percebe Iago encarando o nada.
GAEL
Pensando longe, amigo?
Iago sai de seu transe, olha para Gael e sorri.
IAGO
Só um pouquinho. Estava... pensando em minha falecida esposa.
Gael faz que sim respeitosamente.
GAEL
Eu sinto muito pelo que aconteceu. Espero que se recupere o mais rápido possível.
IAGO
Obrigado, companheiro. Na verdade já estou me recuperando... desde que passei a integrar o grupo. Mas a dor... a saudade... no fundo, sempre vão existir.
Gael faz que sim.
IAGO
Como eu gostaria de lembrar o que aconteceu antes... Só me lembro de acordar na hospedaria e me avisarem... Não sei como fui parar ali... Se alguém me levou, se me sabotaram, se tem algo a ver...
GAEL
Iago...
IAGO
Quem dera...
GAEL
Iago, não é bom para você. Isso não vai te fazer bem. Concentre-se no aqui e no futuro... Nas coisas que haveremos de conquistar.
Iago faz que sim.
IAGO
Obrigado, Gael. Você é um bom companheiro. Todos aqui são.
Gael faz que sim, aperta o ombro de Iago e logo eles todos partem para longe dali.

CENA 24: INT. HOSPEDARIA – DIA

Neb, com o semblante mais abatido que nunca, afoga suas angústias no vinho. Jogado em um canto da hospedaria, bebe sem ânimo algum...

CENA 25: INT. CASA DE LEILA – LOJA – DIA

Leila observa Aylla correndo pela loja em suas brincadeiras cheias de imaginação.
De repente, a menina esbarra em uma peça que cai e se parte. Aylla se assusta e olha com medo para Leila. No entanto, a mulher se aproxima, fala fazendo sinal para ela não se preocupar, gesticula dando a entender que foi um acidente e beija a menina.
Aponta a rua como sugestão e Aylla, alegre, vai brincar lá fora com outras crianças. Leila, ao invés de arrumar os pedaços da peça, observa a menina com um sorriso quase de admiração.

CENA 26: INT. CASA DE NOEMI – SALA – DIA

Postos à mesa, Rute, Malom, Orfa e Quiliom comem com Noemi. Contente, ela os observa felizes. Eles todos riem... Noemi leva sua mão à cabeça dos quatro e os abençoa. Eles sorriem agradecidos. Rute pega a mão de Noemi e sorri para ela, que retribui.

CENA 27: EXT. BELÉM – ARREDORES – DIA

Boaz acaricia a única espiga de trigo em meio à terra nua, o fruto da semente plantada por Salmon. Ao seu lado, Josias.
BOAZ
(olhando a espiga) Dói, Josias. Dói muito.
Respira fundo.
BOAZ
Mas eu preciso seguir em frente. Vou fazer o que precisa ser feito.
JOSIAS
Eu vou te ajudar, Boaz.
Boaz olha para Josias e olha para o horizonte.
JOSIAS
Pode contar comigo para tudo.
Boaz olha de novo para o amigo, bate devagar na costa dele em gratidão, e os dois, ao lado da espiga de trigo, observam o horizonte distante...

CENA 28: EXT. MOABE – CAMPO – PÔR DO SOL

No alto de um monte, uma árvore. Noemi está sentada, escorada nela. Olha para o pôr do sol, para a direção de Israel.
ELIMELEQUE (O.S.)
Volte para Belém... Não devíamos ter saído... de nossa terra. Abandonado... o nosso povo...
NOEMI
Ah, Elimeleque...
Noemi respira fundo, encarando o sol.
NOEMI
Senhor... Por que me abandonaste?...
E Noemi fica ali, sozinha, escorada na única árvore no alto daquele monte, assistindo à despedida do sol... IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:


No próximo capítulo: 10 anos se passam e uma nova fase começa. A prosperidade de Belém e a decadência de Faruk. A busca de Iago por seu passado e a chama do amor na vida de Josias. A aceitação de Noemi pelo que aconteceu, mas a existência da incompreensão e a negação de que a Promessa feita pelo anjo foi real. Novos rumos, novos desdobramentos... A fase final de A Promessa.

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