A Promessa
CAPÍTULO 48
webnovela de
FELIPE LIMA BORGES
escrita por
FELIPE LIMA BORGES
livre adaptação do livro de Rute
No capítulo anterior: Em Belém, as plantações de trigo e cevada são vastas e o trabalho é organizado. Iago diz a Segismundo que vai tirar um tempo para visitar parentes de sua falecida esposa. O Ancião sugere que Tani recomende a Noemi voltar para Belém. Tani diz que não quer que Neb saiba que Elimeleque faleceu, para que Noemi não fique sem terras. Neb vende perfumes na rua, mas não dá desconto algum. Noemi diz a Leila que talvez nunca saia de Moabe. Quiliom confessa entender a desilusão de sua mãe, e que a Promessa deve ter sido fruto de sua imaginação na juventude. Rute diz a Malom que quer conhecer Israel. Faruk e seu servo se preparam para ir capturar Aylla. Noemi, Malom, Rute, Quiliom, Orfa, Aylla e Leila jantam em comemoração ao aniversário de Leila. Josias encontra, chegando na cidade, uma figura de seu passado: Diana. O pai dela não os vê com bons olhos. Tamires explica a Segismundo que seu plano consiste em se entregar e denunciar o paradeiro de alguém pequeno do grupo disfarçado de grande. Gael se preocupa com a saída de Iago. Faruk e seu servo encontram a loja de Leila.
FADE IN:
CENA 1: EXT. DESERTO - NOITE
Iago cavalga. Cruza o deserto iluminado apenas pela Lua.
Em determinado momento ele para... e desce do cavalo. Olha para frente, se aproxima... Vai até o início da descida do terreno e para. Mais à frente lá embaixo, uma grande cidade. A iluminação à fogo das casas e das ruas é visível dali.
IAGO
Hebrom...
Então ele pega o pergaminho de sua veste e vai para o outro lado do paredão rochoso ao lado.
Lá, encontra a entrada de uma caverna e se aproxima. Dentro, quase nada de luz. Franze o cenho e se aproxima mais. Entra...
CENA 2: INT. CAVERNA – NOITE
Iago entra devagar.
IAGO
Olá...
Ele vê, logo à frente, o que parece ser um cômodo do qual vem uma fraca luz. Aperta os olhos, tentando distinguir... Uma cabeça aparece! Ele para. É uma mulher. Toda sua silhueta surge ali e ela o encara.
IAGO
Olá... Você é... a feiticeira desse pergaminho?
Ela olha o pergaminho e sorri.
FEITICEIRA
Posso ser o que você quiser, desde que pague por isso.
Ele faz que sim.
IAGO
Pensei que seria mais perto de Hebrom.
FEITICEIRA
Entre, venha.
Iago se aproxima do cômodo fracamente iluminado e entra.
FEITICEIRA
Eu gostaria sim de estar mais próxima da cidade, mas o povo não vê com bons olhos uma feiticeira.
IAGO
Eu não quero feitiço algum. Quero o que está nesse pergaminho.
FEITICEIRA
E qual é o seu motivo?
A mulher começa a preparar coisas. Iago dá uma olhada nos frascos e objetos esquisitos que há ali.
IAGO
Há cerca de 10 anos minha esposa foi assassinada brutalmente, e eu desconfio que me sabotaram momentos antes do crime, pois, quando já não havia o que fazer, acordei em um lugar em que não me lembro de ter entrado.
FEITICEIRA
Um bar.
IAGO
Uma hospedaria... mas que fazia as vezes de bar.
FEITICEIRA
Sei. Já vi muitos casos assim.
IAGO
E você... pode me ajudar? Pode me fazer recuperar as lembranças daquele dia maldito?
FEITICEIRA
Sim, mas sem a sua ajuda minhas habilidades serão em vão. Você precisará deitar e relaxar. Temos que acessar as lembranças mais profundas de sua mente. Está preparado?
Iago respira fundo.
IAGO
Há 10 anos eu estou preparado.
FEITICEIRA
Deite aí. Ahn, antes, uma parte do pagamento...
Iago faz que sim e tira várias moedas do bolso e a entrega, que conta e guarda.
FEITICEIRA
Muito bem, deite.
Iago deita em uma cama estreita.
FEITICEIRA
Agora feche os olhos. Vou passar esse preparado de ervas em volta das suas narinas. Será um cheiro esquisito no início, mas depois ficará agradável.
Ela pega um pote em que amassa, com um pequeno pilão, o preparado. Então começa a passa-lo no rosto de Iago, em volta das narinas.
FEITICEIRA
Feche os olhos...
Ela continua...
ABERTURA
CENA 3: EXT. BELÉM – PRAÇA – RUA – NOITE
Josias, alegre, encara Diana (25 anos) na carroça. O pai (55 anos) dela, ao lado, olha bravo para os dois.
Josias se aproxima mais.
JOSIAS
Diana?! É você mesma?! Depois de todo esse tempo...
DIANA
Josias... Nós soubemos da grande bênção que Belém alcançou, e resolvemos vir para cá...
Josias sorri. Então olha para o pai dela.
JOSIAS
Ahn, senhor Jurandir, por favor, me perdoe... Shalom! Seja bem-vindo a Belém.
Jurandir continua carrancudo.
JURANDIR
Saia do caminho para que possamos passar.
DIANA
Pai!... Seja educado, nós precisamos da ajuda deles...
JURANDIR
Não preciso da ajuda de nenhum membro dessa família.
Diana revira os olhos.
DIANA
Josias, por favor, onde fica a hospedaria da cidade?
JOSIAS
Oh sim. Basta seguirem por essa rua aqui. Lá na frente, depois daquela--
JURANDIR
(interrompendo) Diana! Você é surda?! Não preciso da ajuda de alguém dessa família! Chega de conversa, vamos! Vamos!
Ele mexe as rédeas e o cavalo começa a andar. A carroça vira. Tristes, Josias e Diana se encaram e ela vai se afastando.
Lá na frente, ela olha para trás, apenas para vê-lo, mas seu pai fala algo rispidamente e ela vira de novo. Josias respira fundo.
CENA 4: INT. CASA DE LEILA – SALA – NOITE
NOEMI
Parabéns, Aylla. Está tudo delicioso.
AYLLA
(sorrindo) Obrigada, senhora Noemi.
ORFA
Tenho certeza que Quiliom amou esse molho de vinho na carne.
QUILIOM
(de boca cheia) Uhum!...
RUTE
Aylla, me diga como que você deixa a carne nessa consistência... Hum!... Eu sempre tento fazer assim lá em casa, mas nunca fica desse jeito.
AYLLA
Bom, pode ser que seja porque eu coloco um pouco de limão por cima antes de assar... Será que é isso?
RUTE
Interessante... Vou tentar fazer assim.
MALOM
Pode ser amanhã?
Eles riem.
RUTE
Nem terminou de comer essa e já está pensando na próxima, meu amor...
QUILIOM
Podemos estender as comemorações do aniversário da Leila, igual faz o rei.
LEILA
Isso porque eu nem queria comemorar...
Riem.
NOEMI
Vocês estão querendo explorar a Aylla, coitada...
AYLLA
Ah, mas amanhã não seria eu, não. Malom e Quiliom podem ir para a cozinha.
ORFA
Boa ideia, Aylla!
RUTE
Aprovado!
LEILA
Seria interessante!
NOEMI
As mulheres descansam e os homens trabalham.
MALOM
Não gostei da ideia.
QUILIOM
Cozinha não é coisa para homens... Nós não levamos jeito. Temos a mão pesada.
RUTE
Só para comer que levam jeito, não é?
ORFA
Beber, no caso de Quiliom.
Eles riem.
NOEMI
E muito!
QUILIOM
Até a senhora, minha mãe?
De repente, um barulho.
ORFA
Que foi isso?
Eles olham para dentro da casa e para a direção da rua.
LEILA
Não deve ser nada.
MALOM
Me passa aquele pedaço por favor, Quiliom.
QUILIOM
Esse não. Eu já estava de olho nele. Fique com esse aqui...
NOEMI
Ah, meninos...
Então o mesmo barulho, mais alto. Eles param.
RUTE
De novo!...
ORFA
Parece ter vindo de dentro da casa...
AYLLA
(se levantando) Vou ver o que é.
MALOM
Aylla, não quer que eu veja?
AYLLA
Eu vejo, já estou indo...
Ela entra em outro cômodo da casa.
ORFA
Ah, essas coisas me deixam apreensivas...
LEILA
Não deve ser nada. Talvez seja algum bicho de telhado que passa derrubando tudo.
De repente, um grito! Todos se assustam e se levantam de uma vez, desajeitadamente.
RUTE
O que é isso?!
LEILA
Aylla! Cadê você?!
Leila vai imediatamente por onde Aylla foi, mas é surpreendida pelo servo de Faruk com Aylla presa em seus braços. Ele mantém uma espada no pescoço da garota.
LEILA
O que é isso, o que está acontecendo?!
Noemi, os filhos e a nora olham confusos para o homem. Aylla está aflita.
MALOM
Quem é você?!
SERVO
Não interessa! Todo mundo para trás! Para trás!
Eles se afastam um pouco.
LEILA
(chorando) O que vai fazer com a minha filha?!...
SERVO
Vou sair com ela por onde entrei. Todo mundo fica bem quietinho aqui! Se vierem atrás, eu arranco a cabeça dela!!!
Leila chora mais. O servo então começa a voltar de costas, segurando Aylla e mantendo a espada em seu pescoço. Ele então some no outro cômodo. Eles começam a ir atrás, devagar e silenciosos. Malom, no entanto, vai pela loja, para o lado de fora.
CENA 5: EXT. CASA DE LEILA – RUA – NOITE
Abaixado sob uma janela da casa, Faruk aguarda. Ouve um barulho de dentro e olha pela janela: seu servo se aproxima com Aylla.
AYLLA
Me solta, me largue!
SERVO
Shh!!!
Faruk se levanta e ajuda o servo a passar com Aylla de refém. Noemi, Rute, Orfa, Quiliom e Leila chegam no cômodo da janela, mas não identificam Faruk no lado de fora.
Malom coloca sua cabeça para fora da loja e espia: vê Faruk.
MALOM
(sussurrando) Maldito!
Faruk pega seu punhal, assume Aylla e coloca a arma no pescoço dela. O servo guarda sua espada.
FARUK
Vá conferir o caminho. E pegue o arco, está naquele beco. Pode ser necessário na subida para o templo.
Dentro, Rute franze o cenho ao ouvir a voz. Aperta os olhos e identifica Faruk.
RUTE
Meu Deus... Meu Deus, Meu Deus, é Faruk!... (começa a chorar) Faruk está com Aylla!
Eles ficam aflitos.
AYLLA
Eu lembro de você!... Faruk!
FARUK
Não se preocupe, minha querida, vai ficar tudo bem.
AYLLA
Então me solte e tire esse punhal do meu pescoço!
FARUK
Infelizmente isso é necessário. Não posso deixar você escapar. Graças a você, me tornarei o que sempre estive destinado a ser: o maior, mais rico e mais influente sacerdote que esse mundo já teve.
Logo ali à frente, o servo faz um sinal indicando o caminho livre.
FARUK
Vamos.
Faruk começa a ir arrastando Aylla e sem tirar a lâmina da pele dela.
Malom então sai da loja sorrateiramente, pega um vaso ali no canto e vai atrás. Faruk continua. Malom se aproxima... Os outros saem na janela e olham. Observam apreensivos. Com passos silenciosos, Malom dá uma corridinha e quebra o vaso na cabeça de Faruk, que cai. Aylla aproveita para se soltar de seus braços.
MALOM
Corra, Aylla!
Aylla volta para a janela e eles a ajudam a entrar.
Na rua acima, o servo volta segurando o arco. Para ao perceber Malom se aproximando de Faruk, que com a cabeça ensanguentada, tenta se levantar. O servo então pega uma flecha, coloca no arco e mira; atira. O tiro é certeiro! Malom é atingido no peito e cai.
RUTE
MALOOOOOOMMM!!!
Noemi arregala os olhos e trava. Chocadas, Leila, Orfa e Aylla tapam a boca. Quiliom, conturbado, pula da janela e corre até o irmão, caído.
QUILIOM
Malom! Malom!!! Irmão!!!
Rute grita da janela e Orfa a segura para não pular. Aylla, no entanto, pula e se aproxima dos dois. Faruk está se levantando. Malom, caído, olha para Aylla.
MALOM
Não!... Aylla, volte!... Volte...
De longe, o servo assiste. Faruk, segurando seu punhal, se prepara.
FARUK
Deuses! Deuses do céu, da terra, do fogo e do ar!
Contra a recomendação de Quiliom, Malom se levanta.
FARUK
(apontando Aylla) Ela!!! É o melhor que vocês podem ter!!!
Faruk então ergue o braço e tenta atingir Aylla com o punhal. Mas Malom bloqueia o golpe, toma o punhal da mão dele e finca na barriga de Faruk.
Todos ali se assustam. O servo, de longe, abre a boca, surpreso.
Faruk cai de joelhos. Olha para cima, para Aylla... e vai perdendo as forças... um pouco de sangue sai pela sua boca... e ele cai aos pés de Aylla, que se afasta assustada.
Perdido, mas raivoso, o servo imediatamente pega outra flecha e mira Malom.
QUILIOM
Malom, cuidado!
Quiliom puxa Malom e eles caem. A flecha passa direto. Quiliom olha para o servo com fúria. Então pega o punhal fincado em Faruk e se levanta para ir até ele que, rapidamente, atira outra flecha. Quiliom é atingido na lateral e cai de joelhos. Rute e Orfa gritam. Noemi, ainda em choque, mal reage. Leila tenta segurá-las para não irem para fora.
Com dificuldade e muita dor, Quiliom se levanta e corre o máximo que consegue. O servo atira de novo, mas erra. Com medo, ele abandona o arco e corre por uma rua. Quiliom chega ali e toma a mesma rua.
CENA 6: EXT. MOABE – RUAS – NOITE
Quiliom, ferido e gemendo de dor, vira de rua em rua, de beco em beco... Olha para lá, para cá... Nada. Continua.
Então ele sai em um beco apertado, mas sem saída. Percebendo que ali não leva para lugar algum, intenta voltar, mas para. Parece ter percebido algo. Então se aproxima de um grande vaso e, atrás dele, vê o servo, encolhido e segurando sua espada tremendo.
QUILIOM
Desgraçado!...
Quiliom se aproxima com raiva e levanta o homem. Coloca-o na parede, de pé, e arranca a espada de sua mão.
SERVO
Por favor!...
QUILIOM
Você tentou matar o meu irmão!... Ele pode estar morto agora!
SERVO
Por favor!...
QUILIOM
Pelo sangue dele!
Quiliom crava a espada no servo, que berra de dor!
Então crava também o punhal, e o homem perde a voz. Quiliom o joga no chão, onde ele cospe sangue até desfalecer.
Quiliom vai embora.
CENA 7: EXT. CASA DE LEILA – RUA – NOITE
Rute, sobre Malom, chora desesperada. Noemi, ao lado, tenta fazer algo, mas treme muito. Leila, Aylla e Orfa choram.
Todos elas se assustam quando Quiliom, quase se desequilibrando, chega ali.
QUILIOM
Ahh!...
Quiliom se aproxima e cai ao lado do irmão.
NOEMI
Meus filhos, meus filhos!... Meus filhos!...
Apesar de quase desfalecido, Malom olha para Quiliom, ao seu lado.
MALOM
Foi uma honra... lutar com você, irmão.
Quiliom, apesar da imensa dor, vira o rosto para ele. Malom força um sorriso dolorido. Quiliom começa a chorar... E o semblante de Malom paralisa...
NOEMI
Malom! Malom, Malom, Malom!!! Meu filho, Malom! Fala comigo, meu filho!!! Malom!!!
Rute desaba a chorar silenciosamente sobre a cabeça do marido.
Orfa se aproxima de Quiliom e o abraça no chão.
QUILIOM
Orfa... Meu amor... Me ajude... a deitar... no seu colo...
Com as lágrimas brotando de seus olhos, Orfa rapidamente se senta no chão e coloca a cabeça de Quiliom em sua perna. Quiliom então olha para todos. Leila, Aylla, Rute e Noemi. E olha para cima, para Orfa.
AYLLA
Vou atrás de ajuda!
QUILIOM
Não!... Por favor... Fiquem aqui... Deixem eu vê-los...
Noemi, nada recuperada do falecimento de Malom, olha para Quiliom. Rute, em prantos, fica ao lado dela.
QUILIOM
Obrigado... a vocês... por me permitirem esse momento...
Quiliom então vira a cabeça devagarinho para o lado e adormece.
ORFA
Nããão, Quiliom!!!
Orfa desaba sobre o rosto do marido. Noemi vai até ali e tenta abraçar o filho também!
O tempo passa...
Rute, sentada no chão da rua, chora amargamente enquanto acaricia o rosto de Malom. Orfa passa a mão no cabelo de Quiliom, molhado pelas suas muitas lágrimas. Noemi, entre os dois filhos, mantém as mãos nos rostos dos dois e chora compulsivamente. Leila e Aylla se revezam, tentando consolar aquelas mulheres.
FADE OUT:
FADE IN:
CENA 8: INT. HOSPEDARIA – NOITE
Em uma das várias mesas cheias, Diana e Jurandir jantam tranquilamente.
DIANA
Muito boa a comida. O senhor gostou, meu pai?
JURANDIR
Sim. Desde antes de você nascer eu já vinha de quando em quando apreciar o bom tempero belemita. Mas vou te dizer... Não sei se é o tempo em que fiquei sem vir em Belém ou se é essa prosperidade toda, mas parece estar melhor que nunca!
Diana ri.
DIANA
Acho que vou ganhar uns pesos a mais enquanto estivermos comendo aqui.
JURANDIR
Que bom que gostou, minha filha.
DIANA
Amei esse lugar!
JURANDIR
Viu como foi fácil acharmos? Não precisamos da ajuda de ninguém, muito menos de um membro daquela família.
DIANA
Pai... Josias não é como sua família. Ele é diferente.
JURANDIR
É o que você pensava dos outros, lembra? Até que aconteceu o que aconteceu.
Diana respira fundo.
CENA 9: EXT. MOABE – RUA – NOITE
Boaz está voltando para sua casa quando Josias o alcança.
JOSIAS
Boaz!... Boaz!
BOAZ
Josias... Meu amigo...
JOSIAS
Boaz... Você não imagina quem eu encontrei chegando na cidade há pouco!
BOAZ
Quem?...
JOSIAS
Di- (pequena pausa) -ana!
BOAZ
O quê?...
JOSIAS
Sim, Boaz! Diana! Diana está em Belém!
BOAZ
Meu amigo, que notícia maravilhosa!
JOSIAS
Não é?!
BOAZ
E Jurandir? Veio também?
JOSIAS
Sim, ele veio...
BOAZ
Maravilha! Já faz muito tempo, foi antes de virmos para Belém com meus pais... mas eu me lembro do namoro de vocês. Josias!... Vocês podem ficar juntos agora! Podem se casar!
Josias começa a andar e Boaz o acompanha.
JOSIAS
Não sei, Boaz... Não se lembra do motivo da nossa separação na época? Nossas famílias são rivais... Muitos problemas, conflitos...
BOAZ
Pois é, estou me lembrando dessa história... Que tristeza, isso não deveria existir no meio do povo de Deus.
JOSIAS
É, mas esse negócio é antigo. Nenhuma das famílias sabe quando o problema começou. E desde que meu pai matou vários da família do senhor Jurandir... ele nunca mais quis que Diana se envolvesse comigo. Só estou vivo porque o irmão de Jurandir matou meu pai naquele dia horrível e aplacou sua fúria...
Pesaroso, Boaz faz que sim.
BOAZ
Eu sinto muito, amigo. Mas não desista desse amor, desse sentimento tão bonito que nasceu entre vocês... Duas famílias distintas... Mas quem sabe não sejam vocês a união desses dois lados e o fim desse conflito?
Josias ri, meio de desdém.
JOSIAS
Aí já é otimismo demais, Boaz. Suas palavras são bonitas, mas a gravidade do que já aconteceu e o rancor no coração dos homens... parecem ser muito maiores.
Boaz respira fundo e eles continuam a caminhar.
CENA 10: EXT. VILA – NOITE
Tamires caminha por ali como quem não quer nada. Passa perto de um homem que limpa uma área comum. Dá a volta devagar...
Então faz barulho...
TAMIRES
Psssiu...
O homem a olha.
HOMEM
Senhora Tamires? É uma honra ser chamado pela senhora...
Tamires se aproxima devagar.
TAMIRES
A honra será minha, e ainda maior, se você aceitar uma proposta que eu tenho para te fazer.
HOMEM
Uma proposta?... Para mim?
Tamires sorri.
HOMEM
Claro, claro... Pode dizer, senhora.
Tamires começa a rodeá-lo devagar enquanto fala.
TAMIRES
Você ganhará ouro, muito ouro, se se entregar aos anciães de Belém e lhes disser que é o segundo na hierarquia da Caravana da Morte.
O homem franze o cenho.
TAMIRES
Depois, é claro, invadiremos a prisão com todo o poderio do nosso grupo e o resgataremos, para que você possa finalmente colocar as mãos no ouro que será seu por merecimento.
Tamires termina de rodeá-lo, para e o encara. Ele parece estar gostando da ideia.
TAMIRES
E então, o que me diz?
Honrado, ele sorri levemente.
HOMEM
Muito ouro?
TAMIRES
Muito... Mais do que qualquer amigo seu já teve.
O homem sorri.
HOMEM
Eu aceito, senhora Tamires. É claro que eu aceito.
Tamires sorri satisfeita e estende a mão para ele, que a aperta.
CENA 11: INT. CASA DE LEILA – QUARTO – NOITE
No lado de fora, vistos pela janela, Leila, Aylla e algumas pessoas estão ao redor dos corpos. Aqui dentro, Noemi anda de um lado para o outro.
NOEMI
Não pode, não pode estar acontecendo, não pode ser verdade, não pode, não pode!!!
Rute e Orfa, ainda chorando, tentam acalmar e parar Noemi.
ORFA
Senhora Noemi, por favor!...
RUTE
Acalme-se! Sente-se, senhora!...
Noemi continua de lá para cá.
NOEMI
AAAHHH!!!
Noemi para e chora bastante. As noras a abraçam.
Mas logo ela ergue as mãos para o alto.
NOEMI
Não bastava meu marido???!!! Não bastava a desilusão por causa da Promessa???!!! Agora... Agora isso???!!!
Inconformada, Noemi chora e as noras continuam tentando, em vão, consolá-la.
CENA 12: INT. CAVERNA – NOITE
A feiticeira continua a fazer seus procedimentos em Iago, deitado. Passou o preparado ao redor das narinas dele, e agora espalha um óleo pela testa. Repete versos em uma língua estranha enquanto mexe as mãos, estala os dedos, bate palmas...
Depois passa um incenso sobre ele.
O tempo passa e o ritual dela continua.
Iago, desacordado, começa a sonhar.
Flashes...
Imagens vêm e vão... Silhuetas... Barulhos difíceis de distinguir... Tudo muito desconexo.
A feiticeira continua. Intensifica os movimentos com as mãos, acende mais incensos, passa mais óleos sobre ele...
As imagens no sonho de Iago continuam a vir.. e a ir... mas menos rapidamente... menos... demora mais para se dissolverem... uma hospedaria...
Hospedaria...
Hospedaria, mesa, vinho...
Hospedaria, mesa, vinho, alguém...
De repente, todas as lembranças completas daquele dia vêm de uma só vez!
Com o impacto das lembranças ressuscitadas, Iago abre os olhos de uma vez. IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:
No próximo capítulo: Noemi se isola no deserto, o Ancião anuncia um grupo especial para caçar a Caravana da Morte e Diana e Josias conversam sobre seu passado.
Obrigado pelo seu comentário!