Type Here to Get Search Results !

A Promessa - Capítulo 59 (Últimos Capítulos)



A Promessa
CAPÍTULO 59
Últimos Capítulos

webnovela de
FELIPE LIMA BORGES

escrita por
FELIPE LIMA BORGES

livre adaptação do livro de Rute

No capítulo anterior: Myra diz ao rei que teve um sonho, e que sua interpretação é que não devem fazer mal a Orfa, uma ex-sacerdotisa. Zylom diz que se Orfa não contar para onde Rute foi, ou se os soldados não a localizarem, ele vai matá-la, quitando assim a dívida das duas. Começa a colheita de cevada em Belém. Rute chega nas plantações, mas não encontra nenhuma espiga caída, e o povo a observa muito. Ela chega ao campo de Boaz, pede permissão a Josias para apanhar ali e ele a permite; Rute é grata a Deus. Tani pergunta a Noemi onde está sua amiga, mulher de fé, e Noemi diz que morreu; ela agora é Mara. Neb mais uma vez troca Tamires pelo trabalho. O Assassino ataca a vila e mata todos os membros da Caravana que avançam contra ele. Segismundo e os mais próximos fogem. A figura misteriosa destrói a todos e incendia a vila. Os sobreviventes se refugiam em uma caverna no deserto. Jurandir pede informação a Tani sobre trabalho no campo de Boaz, e ela chama Josias, que o presenteia com primícias da colheita. Furioso, Jurandir pisa e destrói a cevada, e humilha Josias. Boaz chega ao seu campo e nota Rute. Pergunta dela para Josias, que lhe explica. Ele então se aproxima, pega uma espiga e vai até ela; chama-a pelo nome. Rute olha e eles se encaram.
FADE IN:

CENA 1: EXT. CAVERNA – DIA

A feiticeira hebreia, que habita na caverna próxima a Hebrom, a mesma com quem Iago se consultou, retorna do outro lado da rocha cantarolando. Para ao ver um homem de pé na entrada de sua caverna.
MENSAGEIRO MOABITA
Surpresa? Não adivinhou que eu estaria aqui?
Ela tenta disfarçar e ficar mais à vontade.
FEITICEIRA
Não é assim que funciona. O poder não vem de mim, mas dos deuses que--
MENSAGEIRO MOABITA
(interrompendo) O rei de Moabe solicita a sua presença.
Ela franze o cenho.
MENSAGEIRO MOABITA
E pagará muito bem.
A feiticeira continua encarando-o... então sorri de canto de boca.
ABERTURA

CENA 2: INT. CASA DE NOEMI – SALA – DIA

Alguém bate à porta.
NOEMI
Já vai...
Noemi vai até a porta e a abre: o Ancião sorri para ela.
ANCIÃO
Shalom.
NOEMI
Ancião?! Shalom!...
Eles se abraçam.
NOEMI
Há quanto tempo... Vamos, entre, por favor...
O Ancião entra e Noemi fecha a porta.
ANCIÃO
Há muitos anos passo por essa rua, paro, e apenas contemplo a casa... mas agora pude entrar novamente. Finalmente!
Noemi sorri.
NOEMI
Sente-se, senhor.
O Ancião senta à mesa.
ANCIÃO
Vocês fizeram tanta, mas tanta falta, Noemi... Você não faz ideia.
NOEMI
Eles ainda fazem falta para mim.
O Ancião a olha com muito pesar.
ANCIÃO
E sua nora que veio com você?
NOEMI
Rute foi ao campo apanhar espigas. Fez questão que eu ficasse.
ANCIÃO
Apesar de moabita, ela parece ser uma excelente pessoa. A cidade toda está comentando e, claro, não poderiam deixar de falar que Malom se casou com uma estrangeira... Mas também estão falando muitíssimo bem sobre ela.
NOEMI
De fato, Rute é uma moça incrível. Não merecia passar pelo que passou.
ANCIÃO
Noemi, você sabe sobre suas terras? O campo que era de Elimeleque...
NOEMI
Nem mexemos com isso ainda, senhor. Eu sei sobre o resgatador... mas não tenho ânimo nenhum para pensar nisso.
ANCIÃO
Entendo...
NOEMI
Nunca deveríamos ter saído de Belém, senhor. Deus me fez pagar caro pelos erros de todos.
O Ancião se ajeita e a olha, ao mesmo tempo, com firmeza e compaixão.
ANCIÃO
Noemi, veja... Não enxergue nisso um Deus punitivo... Mas um Deus que ensina. Que traz de volta os seus pequenos.
NOEMI
Mas precisava ser dessa forma, senhor? Me destruindo?...
ANCIÃO
Noemi, você vai me desculpar pelo o que vou falar... mas vou falar assim mesmo. O problema é que, desde muito antes daquela época, vocês sempre quiseram ter suas próprias opiniões. Com todo o respeito, mas Elimeleque não achava justo passar pela crise por não enxergar em sua família algum comportamento que justificasse aquela prova de fogo.
Noemi presta bastante atenção.
ANCIÃO
Às vezes, Noemi, nossas opiniões, nossos achismos precisam diminuir, para que prevaleça a vontade de Deus. Quando deixamos isso acontecer, então passamos a entender qual é o propósito de Deus para as nossas vidas.
Noemi fica pensativa...

CENA 3: EXT. BELÉM – PLANTAÇÃO DE BOAZ – DIA

Boaz e Rute se encaram...
Boaz quebra o contato visual estendendo para ela a espiga que apanhara ali perto. Rute olha para o chão e pega a espiga; seus dedos roçam de leve. Admirado com ela, Boaz sorri.
BOAZ
Eu acertei? É mesmo Rute o seu nome?
RUTE
(olhando o chão) Sim, senhor.
BOAZ
Amiga, companheira...
Devagar, Rute levanta o rosto e o olha.
RUTE
Perdão?...
BOAZ
É o significado do seu nome. Rute... Estrangeira, certo?
RUTE
(talvez temendo) Sim, meu senhor.
BOAZ
Escute... Não vá colher em outro campo, nem tampouco passe daqui, dessa região do terreno; junte-se às minhas moças e trabalhe com elas. Você tem liberdade... para fazer o que quiser.
Rute o olha...
BOAZ
Fique atenta para onde elas forem, e vá após elas. Sei que o povo não tira os olhos de um estrangeiro, ou de uma estrangeira, em especial os homens... Mas eles têm ordem para não te tocar, e todos têm para não te molestarem por ser estrangeira.
Rute sorri minimamente, apesar de grande gratidão.
BOAZ
Tendo sede, vá até os vasos, e beba da água que os moços trazem do rio. Não precisa esperar que alguma moça passe oferecendo.
Rute, um tanto emocionada, se ajoelha e se inclina, colando a testa na terra.
RUTE
Por que é que achei graça em seus olhos... a ponto de se importar comigo, sendo eu uma estrangeira?...
Boaz sorri.
BOAZ
Rute... Levante-se. Não é minha escrava...
Com os olhos marejados, ela olha para ele, que lhe estende a mão. Ela então segura, se levanta e limpa suas lágrimas.
BOAZ
O povo está dizendo... Josias e Tani me falaram bem de você... Me contaram sobre o que fez à sua sogra de forma tão leal depois da morte de seu marido. Deixou sua terra, aqueles que poderiam ser seu pai, sua mãe... e veio para um povo que não conhecia. Que o Senhor recompense o seu feito, e seja cumprida a tua bênção... do Senhor Deus de Israel, sob cujas asas você veio se abrigar.
RUTE
(sorrindo grata) Achei graça em teus olhos, senhor meu, pois me consolou... me deu ânimo de trabalhar em seu campo... alegrou o meu coração... foi bom comigo... mesmo eu não sendo nem ainda como uma das tuas empregadas.
BOAZ
Mais uma prova, Rute, que o Senhor é contigo. E é um prazer para mim ser um instrumento nas mãos de Deus no cuidado que Ele tem com você e sua sogra.
Rute mexe a cabeça em agradecimento. Boaz percebe que os trabalhadores já estão indo para uma grande tenda ali perto para almoçarem.
BOAZ
Veja, já é hora de comer... Vamos até lá, coma pão conosco.
Rute, grata, faz que sim, aceitando. Boaz sorri e então eles vão.
BOAZ
A propósito, me chamo Boaz.

CENA 4: INT. DESERTO – CAVERNA – DIA

Sentados e em pé, os sobreviventes da Caravana se assustam quando Iago entra ali correndo e para, ofegante e suado.
SEGISMUNDO
Que isso?!
GAEL
Iago!...
IAGO
Que bom... que encontrei... vocês...
MONTANHA
Sobreviveu ao Assassino?
IAGO
Por pouco não consegui fugir... Tive sorte... de encontrar os cavalos de vocês... aí fora... Vejam.
Iago mostra um corte em seu antebraço.
GAEL
Está muito ferido, precisamos cuidar disso, Iago...
IAGO
Tudo bem, eu aguento...
Iago escora na parede de pedra e se solta, até cair sentado. Segismundo se aproxima.
SEGISMUNDO
Por que não tentou enfrentar o Assassino ao invés de fugir? É um exímio lutador. Por que não usou suas habilidades para ao menos ferir aquele maldito gravemente?!
GAEL
Calma, Segismundo, acalme-se...
BESTA LOUCA
Jamais deveríamos ter chegado a esse ponto.
IAGO
Sendo lá quem é, ele teve muita vantagem com a maioria dormindo... de ressaca da noite passada. Isso nunca mais... deverá se repetir.
SEGISMUNDO
Mas quem?! Quem faria isso?! Quem seria esse???!!! Não pode ser obra do exército...
MEMBRO
Pode ser um justiceiro, um homem comum em busca de vingança...
MONTANHA
Um parente de alguma vítima...
GAEL
Ou até mesmo um traidor, como viemos tratando há algum tempo.
Segismundo, aflito e pensativo, encara o nada.

CENA 5: EXT. BELÉM – PLANTAÇÃO DE BOAZ – TENDA DE REFEIÇÕES – DIA

É uma grande tenda, mas com 3 das laterais abertas para a plantação. Uma grande mesa de madeira reúne os trabalhadores, homens e mulheres.
De pé, Tani e Josias observam, sorridentes, Boaz puxar a cadeira para Rute se sentar.
RUTE
Obrigada.
Boaz pega um recipiente com um líquido e coloca perto dela.
BOAZ
Vinagre. Molhe o pão nele e experimente... O povo tem amado.
RUTE
Que diferente...
Rute então pega um pedaço de pão, o molha no vinagre e come. Parece gostar muito.
RUTE
Hum... Muito bom, senhor. O povo tem razão.
Boaz sorri satisfeito e senta do outro lado. A mesa está cheia e todos comem muito, felizes, animados, gratos...
BOAZ
O trigo da cevada... torrado. Experimente.
Rute come, acha tudo uma delícia.
E o almoço continua... Bebem bastante vinho, falam alto, riem... e alguns perdem o pudor de falar sobre Rute, a estrangeira. Boaz percebe, os olha... mas ainda não diz nada.
Mas eles não param...
Até que se ouve uma fala perdida entre as outras.
TRABALHADOR
...ainda fica aqui, sentada conosco, comendo com nós...
Boaz olha para ele.
BOAZ
Qual é o problema?
Sua voz sobressai à de todos, e o silêncio reina.
BOAZ
Este é o meu campo, lugar onde eu governo.
TRABALHADOR
Me desculpe, senhor, mas a lei é maior que o senhor. E vale para todos os campos... e além.
BOAZ
O que diz a lei?
O homem gagueja... olha para seus companheiros... então fala.
TRABALHADOR
A lei é clara. Ela diz que--
BOAZ
(interrompendo) A lei manda que os necessitados e os estrangeiros caminhem atrás dos que colhem, apanhando as sobras que caem. Qual é a parte dela que fala sobre os necessitados e estrangeiros não poderem sentar com os colhedores?
O trabalhador fica sem resposta. Ninguém diz nada. Rute encara a mesa.
BOAZ
Vocês acham que são superiores às outras pessoas?
Silêncio...
BOAZ
Somos todos hebreus, meus irmãos. Filhos do Deus vivo.
ALGUÉM
Ela é moabita.
BOAZ
Que deixou seu povo e seus deuses para trás... tornando-se uma hebreia como nós.
Os insatisfeitos respiram fundo.
BOAZ
Mas não se preocupem, eu vou cumprir a lei.
RUTE
(para Boaz) Muito obrigada, senhor. Agora voltarei ao trabalho. Com licença.
BOAZ
Claro, Rute.
Boaz se levanta e Rute põe-se de pé. O povo na mesa a observa. Rute então volta para a plantação.
BOAZ
Até os montes colhidos deixem-na colher, e não a perturbem.
O povo começa a falar entre si. Boaz se inclina para Josias e fala baixo.
BOAZ
Josias...
JOSIAS
Sim, Boaz?
BOAZ
Josias, preciso que me faça um favor...
JOSIAS
É só me dizer, meu amigo.
BOAZ
Você sabe que às vezes pode acontecer de poucas espigas caírem pelo caminho. Portanto, vá até os caminhos que ela ainda haverá de percorrer e deixe cair alguns punhados. Que fiquem por lá, para que ela chegue e os colha.
Josias sorri.
BOAZ
E não a repreenda, nem deixe que ninguém diga nada de ruim a ela.
JOSIAS
Pode ficar tranquilo, Boaz. Estou com você nessa.
Boaz sorri e a observa lá no campo.
JOSIAS
Será ela, Boaz?...
Alguns segundos depois, Boaz olha para ele.
BOAZ
Ela o quê?...
JOSIAS
A mulher certa? A mulher virtuosa?...
Boaz olha para o amigo e apenas sorri. Josias bate carinhosamente na costa dele.

CENA 6: INT. HOSPEDARIA – CORREDOR – DIA

Neb chega à porta do quarto de Tamires e olha para os guardas.
NEB
Rum. Não se acostumaram ainda? Saem da frente.
Eles se afastam e ele abre a porta; entra.

CENA 7: INT. HOSPEDARIA – QUARTO DE TAMIRES – DIA

Neb fecha a porta e vai entrando no quarto.
NEB
Ah, Tamires, hoje foi tudo tão--
Ele paralisa com o que vê: na cama, Tamires e um homem estão aos beijos embaixo da coberta.
NEB
O que é isso?!
Ela e o homem param e olham para ele.
TAMIRES
Neb? Você chegou...
Neb larga as coisas e dá mais alguns passos.
NEB
Tamires!... O que significa isso, Tamires???!!!
Ainda deitados, eles olham para ele.
TAMIRES
Ah, Neb, eu estava me sentindo tão só, tão desprezada, que precisei tomar medidas drásticas... (acariciando o cabelo do homem, bem mais jovem que ela) Foi quando conheci o Abimael lá embaixo, que foi tão, mas tão gentil comigo...
NEB
(para Abimael) Fora! Fora daqui, agora!!!
TAMIRES
Que isso, Neb? Ele não vai embora. É o meu novo namorado...
Tamires beija o rosto dele.
NEB
(indignado) Novo namo-- Tamires, ficou louca?! E eu???!!!
TAMIRES
Enjoei de você.
NEB
Eu não estou ouvindo isso...
TAMIRES
Cumpri o meu sonho de muitos anos, te experimentei e te saboreei umas boas vezes, mas agora já deu. Agora... eu posso seguir em frente. Com alguém que me valorize, (passando a mão pelo corpo do parceiro em cima dela) alguém mais novo, mais vigoroso, com mais energia, hummmm... E com mais tempo para mim, também.
Neb, quase chorando de raiva, aponta para a porta.
NEB
Fora!!! Fora daqui, os dois!!! Vamos, fora!!! Agora!!!
TAMIRES
Mas o que é isso?! Sou eu quem está pagando por esse quarto! Você é quem tem que ir embora daqui. E agora.
Neb a olha com ódio.
NEB
MALDITA!!!
Tamires sorri e mordisca a orelha de Abimael, que beija o pescoço dela. Neb então começa a ajuntar suas coisas.
TAMIRES
Isso, pegue tudo, não deixe nada para trás.
Com tudo pronto, ele olha para ela...
Mas não diz nada. Vai para a porta, abre e a bate, dando para ver, antes que ela se feche, ele esbarrando nos guardas.
ABIMAEL
Devo me preocupar com esse aí?
TAMIRES
(rindo) Nem um pouco.
Tamires o aperta em cima dela e eles se agarram embaixo da coberta.

CENA 8: EXT. BELÉM – PLANTAÇÃO DE BOAZ – DIA

A tarde vai passando. Josias circula pelos caminhos em que Rute ainda vai passar e, disfarçadamente, deixa as espigas caírem de suas mãos. Pega mais nos interiores de suas vestes.
De vez em quando olha para Rute. Quando ela também o olha simpática, ele sorri, disfarça e continua como quem não quer nada.
Depois, Rute passa por esses lugares e sorri com as várias espigas caídas ao seu dispor; pega-as todas.
Perto dali, Jurandir, voltando, se aproxima de Tani.
JURANDIR
Tani...
Ela vira meio de lado e, ao identificá-lo, fecha a cara.
JURANDIR
Oi... Eu gostaria de conversar com você... (sorrindo) Achei você bastante simpática.
TANI
É mesmo?
JURANDIR
É sim...
TANI
Hum.
JURANDIR
Eu estava pensando... Será que podemos sair para nos conhecer melhor? Um jantar na hospedaria, algo assim...
Então Tani vira totalmente para ele e coloca as mãos na cintura.
TANI
Não vai dar.
Jurandir fica meio entristecido...
JURANDIR
Mas por quê?...
TANI
Eu não gosto de homens brutos, que menosprezam outras pessoas. Homens que se sentem superiores.
Entendendo, Jurandir olha para Josias caminhando pela plantação.
JURANDIR
Não tem jeito... Ali é um caso diferente.
TANI
E o nosso caso também é diferente. Diferente de um que tem algum futuro.
Jurandir é visivelmente atingido por essas palavras.
TANI
Você passou dos limites, foi um completo ignorante, pior que um búfalo! Mas a diferença é que dos búfalos eu gosto! Com licença!
Tani vira e sai pisando duro, deixando para trás um Jurandir completamente destruído.

CENA 9: INT. CASA DE NOEMI – SALA – DIA

Noemi, sentada, pensa...
As palavras recentes do Ancião ainda ecoam em sua mente...
ANCIÃO (O.S.)
Não enxergue nisso um Deus punitivo... Mas um Deus que ensina. Que traz de volta os seus pequenos.
Noemi analisa...
ANCIÃO (O.S.)
...vocês sempre quiseram ter suas próprias opiniões.
Noemi se ajeita, parece pensar ainda mais...
ANCIÃO (O.S.)
Às vezes, Noemi, nossas opiniões, nossos achismos precisam diminuir, para que prevaleça a vontade de Deus.
Noemi, ainda mais atenta, lembra da ocasião em que o anjo falou com ela, 35 anos atrás.

CENA 10: FLASHBACK: EXT. PENHASCO – DIA

A Noemi de 17 anos está impressionada com o ser celestial à sua frente.
ANJO
Por que choravas neste lugar?
NOEMI
Algumas... pessoas na cidade... Elas não veem minha presença com bons olhos... Sendo tu quem és, certamente sabes o que aconteceu.
ANJO
Seu coração está cheio de desilusão por um amor que pensavas ser teu. Porém, hoje eu venho para lhe anunciar um amor diferente, Noemi. Um amor verdadeiro.

CENA 11: INT. CASA DE NOEMI – SALA – DIA

Noemi parece mais empolgada... Abre a boca, como se juntasse as peças...

CENA 12: FLASHBACK: EXT. DESERTO – NOITE

10 anos atrás, Noemi e Elimeleque estão sentados juntos. Enquanto ela cantarola baixinho, ele encara as chamas da fogueira.
ELIMELEQUE
E se a Promessa não for sobre mim? E se a Promessa não se referia a mim?
NOEMI
Por que o anjo falaria de um suposto segundo casamento, algo tão no futuro?
ELIMELEQUE
Certo, Noemi, mas e se a Promessa nem mesmo se referia a um casamento?

CENA 13: FLASHBACK: INT. CASA DE LEILA – QUARTO DE NOEMI – NOITE

Noemi e Elimeleque estão deitados e abraçados.
ELIMELEQUE
Assim é a vida... Não tem como sabermos o que o Senhor reservou para nós, o que há no nosso caminho... O fato é que, independente do que há lá na frente, precisamos procurar estar sempre preparados. Seja uma boa coisa, ou mesmo uma má.

CENA 14: INT. CASA DE NOEMI – SALA – DIA

Noemi, sentada de forma ereta, pisca muito... Engole a saliva...
Continua a lembrar...

CENA 15: FLASHBACK: EXT. MOABE – CAMPO – DIA

Segurando firme sua espada, Segismundo faz um movimento com ela.
Então a lâmina viaja pelo ar...
...e atravessa Elimeleque.
Elimeleque perde as forças e cai deitado. É quando Noemi grita! Grita! Grita com todas as suas forças!!!
Depois, Noemi, segurando a cabeça do marido deitado, o abraça.
ELIMELEQUE
A Promessa...
Noemi o solta e olha para ele.
ELIMELEQUE
A Promessa... não era... sobre mim... Você precisa... descobrir... a quem a Promessa... se referia...
Elimeleque pega as mãos dela.
ELIMELEQUE
Eu... estou bem... Estou indo... para os braços... do nosso Senhor...

CENA 16: INT. CASA DE NOEMI – SALA – DIA

NOEMI
(um tanto impressionada) Você sempre esteve preparado!...

CENA 17: FLASHBACK: EXT. PENHASCO – DIA

Noemi olha o anjo muito impressionada. Ele leva sua mão até pouco acima da cabeça dela.
ANJO
Essa é a promessa que te faço hoje: de mui longe virá um amor que transbordará as botijas de seu coração. Um amor que estará ao teu lado até a hora de repousares com os teus antepassados. Um amor puro, um amor incondicional. Um amor da parte do Senhor.

CENA 18: FLASHBACK: EXT. DESERTO – MANHÃ

Embaixo de uma árvore, Noemi, Elimeleque, Malom e Quiliom observam Dov, o recém-chegado.
DOV
Por causa disso eu tomei uma decisão drástica: vou para outro reino.
MALOM
Outro reino?...
QUILIOM
Isso pode ser perigoso... Para qual reino pretende ir?
DOV
Moabe.
ELIMELEQUE
Moabe?

CENA 19: FLASHBACK: EXT. DESERTO – DIA

Noemi, abalada pela morte dos filhos, está jogada no deserto, sozinha, adormecida, fraca...
Rute vem até Noemi e para derrapando.
RUTE
Senhora Noemi, senhora Noemi!
Rute a ajuda a se levantar.
RUTE
Fiquei preocupada... E vim procura-la...

CENA 20: FLASHBACK: INT. CASA DE NOEMI – SALA – NOITE

Rute e Orfa observam Noemi arrumando suas coisas para ir embora de Moabe.
RUTE
Então a senhora vai mesmo embora...
NOEMI
Sim, vou...
RUTE
Pois bem... Nós decidimos que também vamos.

CENA 21: FLASHBACK: EXT. MOABE – RUA – ALVORADA

Rute, ainda com o vestido de dormir, sai rapidamente para a rua.
RUTE
Noemi!... Senhora Noemi!...
Rute corre. Noemi, no entanto, finge não ouvi-la, e continua a caminhar o mais rápido que pode.
RUTE
Senhora Noemi! Senhora Noemi, espere!
Rute a alcança.
NOEMI
Vocês precisam ficar, eu não tenho nada para lhes oferecer. Sejam inteligentes! Vejam que eu sou apenas uma figueira seca à beira da morte! Rute, me deixe em paz!
Rute, decidida, se aproxima mais e a olha firmemente.
RUTE
Se for dessa forma, eu nunca a deixarei em paz.

CENA 22: FLASHBACK: EXT. MOABE – MURALHA – NOITE

Noemi e Elimeleque, sentados à mesa, jantam ali na muralha.
ELIMELEQUE
Mesmo na escuridão, em algum lugar, ainda que distante... há uma luz insistindo em brilhar.

CENA 23: FLASHBACK: EXT. MOABE – CAMPOS – ALVORADA

Rute e Orfa, olhando Noemi, choram bastante.
NOEMI
Já sou muito velha para me casar, para ter marido. Ainda que eu dissesse a vocês que tenho esperança, ou ainda que nessa noite eu me casasse e tivesse filhos... por acaso esperariam até que eles crescessem e fossem grandes? Interromperiam toda sua vida, no auge de sua juventude, quando mais têm chance de gerar, apenas para esperarem por eles? Sem se casarem com outros?!
Rute não quer aceitar.
NOEMI
Se assim... com a única coisa que eu poderia lhes oferecer, já seria praticamente impossível... então não há nada que eu possa lhes dar.
Algum tempo depois...
RUTE
Eu gostaria de perguntar ao seu Deus... o que será do dia de amanhã. O que será da minha vida, o que será de mim.
Noemi a encara, tentando entender.
RUTE
Eu não sei o que o Senhor responderia, mas de uma coisa eu sei, Noemi: eu estou com você nesse amanhã.
Noemi chora e Rute está em lágrimas.
RUTE
Aonde quer que for, eu irei. E onde quer que pousar à noite, ali eu pousarei. O teu povo é o meu povo! E o teu Deus... é o meu Deus! Noemi... Onde você morrer, ali também eu serei sepultada. Que o Senhor me castigue com todo o rigor, e ainda mais... se outra coisa que não a morte!... me separar de você.

CENA 24: FLASHBACK: EXT. DESERTO – DIA

Rute e Noemi, essa sobre a maca, desacordadas, sozinhas em meio à escuridão do deserto...
ANJO (O.S.)
Um amor que estará ao teu lado até a hora de repousares com os teus antepassados. Um amor puro, um amor incondicional. Um amor da parte do Senhor.

CENA 25: INT. CASA DE NOEMI – SALA – DIA

Noemi, com os olhos marejados, está tão impressionada que tampa a boca aberta com a mão... Respira ofegante...
NOEMI
Será?!...
Noemi olha para os lados, se levanta... Não se concentra... Senta... Respira ofegante, engole em seco...
ANCIÃO (O.S.)
Às vezes, Noemi, nossas opiniões, nossos achismos precisam diminuir, para que prevaleça a vontade de Deus. Quando deixamos isso acontecer, então passamos a entender qual é o propósito de Deus para as nossas vidas.
Então respira fundo...
Respira fundo de novo...
NOEMI
Se for isso... Deus nos salvará da miséria... de alguma forma...
Nesse instante a porta se abre e Rute, carregando sacos, entra. Imediatamente Noemi vira o rosto, limpa as lágrimas, disfarça...
RUTE
(alegre) Shalom, senhora Noemi!
NOEMI
Rute... Shalom, minha filha...
Noemi se levanta e vê as coisas que Rute traz.
NOEMI
Rute!... Quanta coisa!
RUTE
Viu só, minha sogra?!
Rute coloca os sacos no chão.
RUTE
Debulhei as espigas que apanhei e pesou quase um efa!
NOEMI
Uau!... Quantos grãos!...
RUTE
(entregando um recipiente menor) E também essa porção. Uma marmita do que sobrou do almoço.
Noemi sorri e pega a vasilha tampada com um pano.
NOEMI
Que fartura, Rute, que fartura!
Animada, Rute pula no pescoço de Noemi e a abraça. Ao soltá-la, Noemi pergunta.
NOEMI
Onde você colheu hoje?! Me diz!... Onde trabalhou?! Bendito seja esse que te permitiu trazer tudo isso!
RUTE
(com brilho no olhar) O nome do homem com quem trabalhei hoje é Boaz.
De repente, Noemi praticamente paralisa. Apenas sua boca se abre...

CENA 26: FLASHBACK: EXT. MOABE – CAMPOS – DIA

As lágrimas de Noemi caem sobre Elimeleque, à beira da morte. Ele olha para Malom e Quiliom.
ELIMELEQUE
Eu sei... que terei uma descendência... iluminada!...

CENA 27: INT. CASA DE NOEMI – SALA – DIA

Rute franze o cenho diante da reação de Noemi, que, como que rindo, expira.
RUTE
O quê, senhora?...
No semblante maravilhado de Noemi, IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:


No próximo capítulo: Noemi diz a Rute que entendeu tudo, e revela todas as suas conclusões. Orfa é torturada. E Diana estoura com Jurandir.

Postar um comentário

0 Comentários
* Please Don't Spam Here. All the Comments are Reviewed by Admin.