A Promessa
CAPÍTULO 63
Antepenúltimo Capítulo
webnovela de
FELIPE LIMA BORGES
escrita por
FELIPE LIMA BORGES
livre adaptação do livro de Rute
No capítulo anterior: Na presença de Myra, Leila conta a Aylla sua história com seu ex-marido. Tamires manda uma carta a Segismundo dizendo que Noemi sabe tudo sobre eles e está para dar a língua nos dentes. A festa da colheita começa e Boaz aguarda pela chegada de Rute. Essa se prepara com a melhor veste e o melhor perfume e, orientada por Noemi, vai para a festa. Aylla se emociona ao saber que Leila é sua mãe de sangue, e a viúva pede perdão à filha e diz que quer continuar sendo sua mãe; Aylla a perdoa. Myra revela que não para de pensar no que Rute e Orfa fizeram, e que não continuará sendo Sumo Sacerdotisa. Por fim revela que tem um projeto envolvendo crianças, para reparar todo o mal que fez. Ela também pede perdão a Aylla, que a perdoa. Josias e Diana se encaram na festa, mas Jurandir os atrapalha. Neb é desprezado por onde vai, e Tamires o provoca beijando Abimael em sua frente. Orfa diz à feiticeira que é melhor aceitar que vai morrer como seu marido Quiliom. A mulher a recomenda a falar o que o rei quer saber, mas Orfa diz que não vai fazer mal à Rute outra vez; prefere morrer do que fazer isso. Tani conta a Jurandir que o achou interessante de início, mas depois ficou chocada com seu comportamento e o compara a um monstro. Ela ainda diz que Josias é muito mais honrado que ele. Boaz sai para dormir e Rute o segue. Encontra-o deitado ao pé do monte de cevada. Extremamente tensa, ela descobre os pés dele e deita. Mais tarde ele acorda e se assusta com a presença dela. Ao notar a silhueta feminina, pergunta quem é, e Rute olha para ele.
FADE IN:
CENA 1: EXT. BELÉM – ARREDORES – NOITE
Aos pés do monte de cevada, Rute e Boaz se encaram sentados, ela tímida e ele muito curioso. Pouco a pouco, a fraca luz vinda das incontáveis estrelas no céu escuro vai permitindo que eles identifiquem melhor os traços um do outro. Ao fundo, a música constante e distante da festa já praticamente encerrada.
Boaz aguarda a resposta da mulher. Rute toma coragem e fala.
RUTE
Sou Rute... tua serva.
A boca de Boaz se abre... ele a olha impressionado.
BOAZ
Rute?...
Ela espera.
BOAZ
Isso... é mesmo real?... Eu te esperei muito...
Boaz começa a distinguir o rosto de Rute, mas ainda não consegue ver o seu olhar. Então ele levanta a mão devagar na direção do rosto dela... Ela, tímida, observa parada... Ele sente sua presença, mas não a toca; abaixa a mão.
BOAZ
(sorrindo) Rute... O que está fazendo aqui?
RUTE
Estenda tua capa sobre tua serva... pois o senhor... é o remidor.
Meio confuso, meio maravilhado, Boaz sorri abertamente. Rute olha para baixo.
BOAZ
Bendita seja você diante do Senhor, Rute!
Rute ergue um pouco o olhar para Boaz.
BOAZ
Você está mostrando maior lealdade à família de seu sogro agora do que em tudo que fez por Noemi... Pois... você não foi atrás de outro... jovem ou velho, pobre ou rico... mas foi atrás do remidor.
Rute sorri de leve.
BOAZ
Agora, Rute, não se preocupe. Tudo que disse, eu lhe farei. (sorrindo apaixonado) Cobrirei você com a minha capa... e a redimirei. Toda a cidade já sabe que você é mulher virtuosa.
Rute, contida, também sorri.
BOAZ
Eu esperei... a vida toda por você, Rute. Pela mulher virtuosa.
Rute olha para baixo.
BOAZ
(chamando-a baixinho) Rute...
Ela levanta a cabeça e olha para ele.
BOAZ
Você quer isso? Quer que eu a redima?
Rute o encara, abre a boca... e faz que sim. Boaz sorri contente.
RUTE
Eu quero.
Boaz está felicíssimo!
RUTE
Meu coração... se encheu de alegria... quando o vi no campo pela primeira vez...
Boaz mantém o sorriso.
BOAZ
Durante esses dias de colheita... eu busquei muito ao Senhor sobre você.
Rute o olha atenta.
BOAZ
Pedi a Deus que se fosse de Sua vontade, que Ele me desse o seu amor, Rute.
RUTE
E assim o Senhor fez.
Boaz faz que sim, seu coração mal se contém de tanta alegria. Mas então seu ânimo parece diminuir um pouco, está lembrando de algo... Rute o observa atentamente.
BOAZ
Rute... Há um porém.
RUTE
O quê?...
BOAZ
É muito verdade que eu sou remidor... Mas há ainda outro remidor... que é mais próximo de você do que eu sou.
Rute fica meio entristecida...
RUTE
Eu ouvi falar dele... O que faremos?
Boaz respira fundo, olha para os lados... Então olha para ela.
BOAZ
Fique aqui esta noite e, de manhã, se ele quiser te redimir... (pequena pausa; respira fundo) bem será. Porém, se ele não quiser te redimir, vive o Senhor que eu a redimirei, Rute.
Por alguns instantes, Rute o olha... Ele mantém um suave sorriso encantado para ela.
RUTE
Eu não quero me casar com outro...
Ameno, Boaz faz que sim.
BOAZ
Eu também não quero isso. Mas eu creio em Deus. Creio que Ele permitirá que aconteça o certo!
Um pouco mais aliviada, Rute sorri para ele.
BOAZ
Agora deite-se, Rute. Deite-se aqui até amanhã.
Rute faz que sim e deita ao lado de Boaz, que pega sua coberta e a cobre até o pescoço. Por fim se olham...
RUTE
Obrigada, senhor.
Boaz sorri para ela.
BOAZ
Não precisa me chamar assim, Rute. Já disse, não é minha escrava.
Rute faz que sim.
BOAZ
Tenha uma boa noite.
RUTE
O se-- (sorri) Você também.
Boaz deita ao lado, mas sem encostar nela, e fecha os olhos. Rute ainda o olha por um tempo... e então também tenta adormecer.
ABERTURA
CENA 2: EXT. BELÉM – RUA – NOITE
Estamos caminhando pelas ruas completamente desertas de Belém. Nem mesmo as chamas de iluminação estão acesas.
Então notamos que é o Ancião quem está caminhando. Ele estranha aquela situação da cidade... Mas nota que alguém vem de encontro... O vulto se aproxima mais... O Ancião para e espera a pessoa chegar mais perto: é Rute.
ANCIÃO
Rute?...
Ela, encarando-o, vem até perto dele e para. Leva as mãos à sua barriga, e o Ancião a observa com estranheza.
ANCIÃO
Está tudo bem, filha?
De repente, a barriga dela começa a inchar anormalmente. Cresce como se uma gestação inteira acontecesse em segundos.
ANCIÃO
Rute!... O que--
Rute não reage. Quando sua barriga está do tamanho da de uma grávida de nove meses, uma luz é emitida dela! E uma bola brilhosa sai de seu ventre e sobe no ar até pouco acima da cabeça deles. O Ancião, extremamente confuso, observa com o cenho franzido.
De repente, daquela bola de luz sai outra semelhante que sobe ainda mais alto e para. Dessa, mais outra bola de luz, que igualmente sobe e para no ar. Isso se repete diversas vezes, uma bola de luz saindo da outra e ascendendo mais e mais alto no céu.
Extremamente curioso, o Ancião encara as bolas lá em cima. O processo se repete, mas a mais nova bola de luz não para como as outras, mas sobe. E seu brilho também aumenta mais e mais... Lá em cima, entre as nuvens, ela incha e cresce conforme a luz se intensifica... De repente, por causa dela, a noite vira dia e toda a Terra é iluminada. O Ancião tampa os olhos com o braço... e tudo fica branco!
CENA 3: INT. BELÉM – TEMPLO – NOITE
Deitado, o Ancião acorda subitamente! Um tanto assustado...
Respira ofegante...
Encara o nada, ainda afetado pelo o que sonhou.
CENA 4: INT. CASA DE NOEMI – SALA – ALVORADA
Noemi, recém-acordada, vem devagar pela sala até a janela. Se escora e observa a rua vazia ali fora...
NOEMI
Ah, Rute... Onde estará agora? Que o Senhor a guarde.
Noemi fica ali, contemplativa...
CENA 5: EXT. BELÉM – ARREDORES – ALVORADA
Um pouco melhor iluminados pela alvorada, Boaz e Rute dormem aos pés do monte de cevada.
Então Boaz acorda. Olha para os lados e para Rute, deitada bem ali na mesma posição em que adormeceu. Ele se ajeita e a olha com um sorriso admirado...
Chama-a de mansinho.
BOAZ
Rute... Rute... Rute, Rute, Rute, acorde...
Rute rapidamente desperta e olha para ele.
RUTE
Boaz...
BOAZ
Rute... Me desculpe, eu não queria atrapalhar o seu sono, mas... é bom você ir. Logo estará bem claro e não quero que alguém te veja aqui e pense coisas erradas.
Rute senta.
RUTE
Claro...
Ela olha para ele e eles sorriem um para o outro.
RUTE
Boaz.
BOAZ
Diga, Rute.
RUTE
Você... quer mesmo me redimir?
BOAZ
Rute... É minha obrigação.
RUTE
Eu... Eu sei que você tem o direito e o dever de remidor, mas... a obrigação não é sua, e sim de outro. Não tem que fazer isso se não quiser. Digo... Não precisa fazer isso por... pena...
Boaz ri.
BOAZ
Ah, Rute... Rute, Rute. Francamente... Você ainda não percebeu o meu jeito? Não entendeu o motivo do falhar na minha voz, não percebeu as estrelas que surgem em meus olhos quando olho para você?
Um tanto tímida, Rute olha para baixo.
BOAZ
“Pena”... Rute, eu não sinto pena de você, mas sim uma profunda admiração. Eu estou completamente apaixonado por você.
RUTE
Você é um homem influente!... Um homem importante. É bem-visto, é querido... Como ficará isso se casando com uma estrangeira? Às vezes sinto... que não sou digna do seu amor...
BOAZ
(olhando-a com profunda admiração, paixão e paciência) Rute, você é como uma de nós. Serva do Deus vivo. E, se quer saber, minha mãe também era uma estrangeira.
RUTE
Estrangeira? Sua mãe?...
BOAZ
Sim. Seu nome era Raabe.
RUTE
Raabe... Já devo ter ouvido Noemi falar sobre ela...
BOAZ
Minha mãe Raabe se casou com meu pai Salmon, um dos guerreiros do exército de Josué, um dos mais admirados na época... e dessa união eu nasci.
RUTE
Eu... não sabia...
Rute parece mais confortável.
BOAZ
Rute... O que Deus quer... é juntar os nossos destinos.
Rute sorri.
BOAZ
Eu sinto isso... E seu lugar é aqui, em Israel. Ao meu lado...
Uma lágrima escorre pelo rosto levemente sorridente de Rute... e eles se aproximam... Pouco a pouco seus rostos vão ao encontro um do outro...
Mas eles são prudentes e não se beijam, apenas colam as testas uma na outra... Sorriem...
Ficam assim por um bom tempo...
RUTE
Então já vou...
Eles se afastam e trocam olhares apaixonados.
Por fim ela põe-se de pé.
BOAZ
Me dê sua capa.
Rute tira a capa e dá a ele, que a abre no chão. Ela observa Boaz pegando cevada do pé do monte e enchendo a capa.
BOAZ
Não vá de mãos vazias a Noemi. Leve isso.
Boaz lota a capa de cevada. Então a enrola, se levanta e entrega a ela, que pega.
BOAZ
Seis medidas.
RUTE
Muito obrigada! Que Deus te recompense!
BOAZ
Que Deus nos abençoe, Rute. Agora vá. Eu cuidarei de tudo quanto à remissão...
Rute sorri e pega as mãos dele.
RUTE
Shalom.
BOAZ
Shalom...
Ela começa a se afastar, mas suas mãos não se soltam... Ela vai e seus dedos, pouco a pouco, se desunem... Rute sai. Apesar da fraca luz, Boaz observa-a se afastar.
CENA 6: INT. CASA DE NOEMI – SALA – ALVORADA
A porta se abre e Rute, carregando a capa, entra. Noemi já se aproxima.
NOEMI
Rute! Graças a Deus!...
RUTE
Shalom, minha sogra...
NOEMI
Shalom...
Noemi fecha a porta. Rute coloca a capa com a cevada na mesa e a sogra, curiosa, olha para tudo.
NOEMI
E então?... Como foi, minha filha?!
Noemi aguarda pela resposta ansiosamente.
NOEMI
Está tudo bem?
Rute sorri.
RUTE
Está sim. Foi maravilhoso!...
Então elas se sentam e Rute conta tudo, desde o momento que chegou à festa na noite anterior.
RUTE
E essas seis medidas de cevada ele me deu porque não queria que eu viesse até a senhora de mãos vazias.
NOEMI
(sorridente) Glória, glória a Deus! Louvado seja o Senhor para sempre!
Ambas felizes, se encaram.
NOEMI
Rute, fique em paz, minha filha, e espere. Até que saiba a resolução do caso.
Rute faz que sim.
NOEMI
Aquele homem não descansará até que conclua hoje mesmo este negócio.
Esperançosas, ambas sorriem.
CENA 7: EXT. DESERTO – CAVERNA – DIA
Finalmente amanhece.
Todos os homens da Caravana da Morte estão do lado de fora da caverna. Segismundo fala com eles.
SEGISMUNDO
Conforme já falei, preparem-se. A missão que temos que realizar em Belém é de suma importância! Aquela mulher, Noemi, retornou de Moabe e, junto a ela, segredos e possíveis relatos perigosíssimos!
Os homens prestam atenção.
SEGISMUNDO
Nem todos aqui já faziam parte quando nosso grupo enfrentou a família de Noemi. Ela sobreviveu, claro, mas ficou em Moabe. Longe, sem oferecer risco algum a nós. Mas, segundo as cartas de Tamires, Noemi é muito próxima do Ancião. Se prenderem Tamires e a oferecerem algum acordo com a promessa de redução de pena, ela nos trairá, e então todos poderemos ir parar nas celas de Hebrom! Não sei quanto a vocês, mas não há prisão que me conterá.
Alguns, concordando, fazem que sim.
SEGISMUNDO
Ao chegarmos aos campos de Belém, nos esconderemos, esperaremos por Noemi, e então a mataremos, acabando com o problema de uma vez por todas! Agora vamos, preparem-se para partirmos!
Os homens começam a mexer em suas coisas. Besta Louca vê vários odres vazios e pega-os. Nota Iago, ali ao lado, arrumando seus pertences.
BESTA LOUCA
Ei, Iago...
Iago olha para ele.
IAGO
Diga.
BESTA LOUCA
Me acompanhe até o riacho? Preciso encher esses odres.
IAGO
Eu até iria, mas preciso achar o meu punhal. Não o encontro em lugar algum...
BESTA LOUCA
Eu não vi nada...
IAGO
Tudo bem. Mas, se puder também levar o meu odre, ficaria muito grato.
BESTA LOUCA
(um tanto descontente) Claro.
Iago dá seu odre ao companheiro.
IAGO
Obrigado.
Besta Louca faz que sim, pega os últimos odres e sai a pé.
CENA 8: EXT. DESERTO – DIA
Agachado à margem do riacho, Besta Louca segura um odre. Enquanto esse vai sendo enchido, ele olha rotineiramente para os lados, para cima, limpa a testa por causa do sol e olha para o odre. Então franze o cenho... Por causa do movimento da água, ele não entende e se aproxima mais da superfície. O que está olhando não está no odre, mas na água: a imagem de um pequeno vulto escuro lá atrás, longe, em cima da ribanceira, sendo refletida ali.
Imediatamente ele olha para trás, para, de fato, a ribanceira, mas não há nada demais lá em cima. Assustado, ele se levanta e saca a espada. Olha para todos os lados à procura do vulto estranho... Só mato, no entanto.
Apesar de receoso, Besta Louca pega outro odre vazio, se agacha e começa a enchê-lo. Seu olhar, no entanto, não sai do entorno.
Quando todos estão cheios, ele os guarda, saca sua espada e começa a se distanciar dali. Caminha alguns passos... e ouve um barulho. Vira imediatamente, a espada apontada... E caminha de costas, na direção de um mato alto, mas sem nota-lo. Ele aponta a espada para todos os lados dentro de seu campo de visão enquanto continua se afastando de costa... Mais perto do mato... Mais perto...
De repente, uma figura escura pula do meio das folhagens e o agarra por trás. Assustado, Besta Louca se debate, tenta usar a espada, mas seus movimentos são todos travados pela figura mascarada de preto: o Assassino.
O Assassino carrega Besta Louca até o cavalo desse. Ali, mete-lhe um soco no estômago e Besta Louca perde o fôlego por um instante. Nisso, a figura joga-o no chão, pega seu pé direito e o prende à uma corda do cavalo.
BESTA LOUCA
Maldito!... Maldito!
Terminado de amarrar, o Assassino pega o chicote, se aproxima de Besta Louca e os olhos de desdém da máscara o encara.
BESTA LOUCA
Você está morto... Mexeu comigo, fez sua pior escolha... Você já está morto! (ri) E eu... Eu vou comer o seu coração recheado com tâmaras! (ri) Você está morto! Morto!
ASSASSINO
Você é a podridão em pessoa. Não merece a menor das dignidades.
BESTA LOUCA
MALDITO!!!
O Assassino mete uma chicotada no cavalo que, assustado, dispara a cavalgar! Preso ao animal, Besta Louca é violentamente arrastado pelo terreno pedregoso, como um boneco de feno, por dezenas de metros. O Assassino assiste àquilo tranquilamente.
Lá na frente o cavalo para. De longe, o Assassino contempla o corpo inerte de Besta Louca.
CENA 9: EXT. BELÉM – PRAÇA – DIA
O Ancião termina de falar com uma mulher, que sai. Então Boaz se aproxima.
BOAZ
Shalom, senhor.
ANCIÃO
Boaz, que boa surpresa... Shalom, meu filho.
BOAZ
Senhor, eu gostaria de lhe falar... Gostaria de tratar um assunto muito importante, algo que preciso resolver. Mas, para isso, preciso da presença dos outros anciães da cidade. Será que o senhor pode conseguir isso para mim?
ANCIÃO
Claro, claro, Boaz. Me dê apenas alguns instantes que vou ao templo chama-los agora mesmo.
BOAZ
Agradeço muito, senhor.
O Ancião faz que sim e sai. Boaz fica ali, esperando.
CENA 10: EXT. DESERTO – CAVERNA – DIA
Os homens da Caravanas já estão montados em seus cavalos, prontos para partir. Ainda aguardam alguns...
Segismundo, impaciente, toma a decisão.
SEGISMUNDO
Já esperamos muito. O sol está subindo e se continuarmos inertes aqui, podemos perder a oportunidade de pegar Noemi sozinha no campo. Besta Louca pode nos--
IAGO
(interrompendo) Achei! Achei!!!
Iago vem gritando lá de trás e todos olham.
IAGO
Encontrei! (ofegante) Encontrei o meu punhal que estava perdido... (mostrando) Estava atrás de uma pedra, nem sei como foi parar lá...
SEGISMUNDO
Não basta uma espada, Iago?
IAGO
Perdão, senhor, mas eu não fico sem o meu punhal.
SEGISMUNDO
Rum. Pois monte em seu cavalo e vamos.
IAGO
(montando) E Besta Louca? Onde está ele?
SEGISMUNDO
Não sei, não apareceu até agora! Não está na caverna, em lugar algum aqui!...
IAGO
Ele me disse que ia encher os odres no riacho... Não quer que eu e mais alguns vamos até lá conferir?
SEGISMUNDO
Não! Já perdemos tempo demais! Besta Louca é ágil, pode nos alcançar depois. Vamos, avante! Vamos! Para frente!
Segismundo toma a frente e em seguida vem Gael e todos os outros, com Iago por último.
CENA 11: EXT. BELÉM – PRAÇA – DIA
Boaz, acompanhado de Josias, e Rute, Noemi e Tani estão ali com o Ancião. Logo perto estão dez dos anciães e, atrás, foram colocadas algumas cadeiras em arco, de modo que todos que se sentarem possam ver a todos.
BOAZ
(para o Ancião) Tenho certeza que não demorará muito e ele passará por aqui.
O Ancião faz que sim e Boaz e Rute trocam um sorriso discreto. Noemi se mantém ao lado da nora, abraçando-a. Josias bate com carinho no peito de Boaz. E Tani aguarda ansiosa.
Algum tempinho depois, Neb aparece caminhando pela praça.
BOAZ
Olhem lá... É ele.
Todos olham. Neb se aproxima mais.
BOAZ
Ei, Neb!
Neb olha para ele e nota todos ali.
BOAZ
Venha até aqui, por favor.
Estranhando, Neb vai até eles.
BOAZ
Vamos nos sentar.
ANCIÃO
Claro, claro... Vamos.
Eles todos vão para as cadeiras.
NEB
O que está acontecendo, Boaz? Por que os anciães, por que essas cadeiras? (olhando Noemi, Rute e Tani) O que elas estão fazendo aqui?
BOAZ
(cordial) Sente-se aqui, Neb. Por favor.
Neb faz que sim e, assim como todos eles, se senta.
NEB
E então? Não vão me explicar?
BOAZ
Neb, estamos aqui, na presença dos anciães e do Ancião, para tratar de um negócio. Um negócio de muita importância.
NEB
Sim.
BOAZ
É sobre aquele pedaço de terra que era de Elimeleque, nosso irmão.
Neb compreende.
NEB
“Nosso irmão”, não. Exagerou um pouco, Boaz. Elimeleque era meu primo, muito mais distante de você em laços de sangue.
Noemi, Rute e Tani trocam olhares de preocupação.
BOAZ
Neb, é o modo de falar. Nós somos todos irmãos.
NEB
Ah, tá. Mas é só para deixar claro para todos aqui que eu sou o parente mais próximo.
BOAZ
E é exatamente por isso que está aqui.
NEB
(sorrindo minimamente) Hum.
BOAZ
Noemi, que voltou há algumas semanas da terra de Moabe, venderá o seu campo.
Noemi faz que sim.
BOAZ
E você, sendo o parente mais próximo, é o remidor. Como tal, tem o direito e dever de comprar a terra.
NEB
(sorrindo) Claro.
BOAZ
Por isso, eu disse que falaria com você sobre isso, para que tome a terra com o povo por testemunha, e também com os anciães aqui presente.
Rute aguarda com leve apreensão. Noemi segura sua mão.
BOAZ
Portanto, diga a todos aqui qual é a sua decisão. Se quer redimir, redima. E, se não quiser, seja claro ao dizer que não redimirá, para que todos entendamos, para que não haja sombra de dúvida ou incertezas. Pois não há outro senão você que redima. E eu depois de você.
Sorrindo por ter encontrado a oportunidade que há muito tempo esperava, Neb faz que sim.
BOAZ
E então, Neb? Qual é a sua decisão?
Rute o encara com preocupação e Noemi segura as mãos dela. Josias e Tani torcem para que ele se recuse. E o Ancião e os outros anciães aguardam com seriedade.
Rute apreensiva...
CENA 12: INT. HOSPEDARIA – QUARTO DE TAMIRES – DIA
Tamires está terminando de se arrumar. Abimael, ainda deitado, desperta e nota-a.
ABIMAEL
Tamires?
Ela olha para ele.
ABIMAEL
Onde você vai?
TAMIRES
Se esqueceu? Hoje é o dia da vitória. Vou ao campo assistir Noemi morrendo. Dessa vez vai ser pra valer.
Abimael se ajeita na cama, olhando-a.
TAMIRES
Quero ser a última coisa que Noemi veja. Quero mostrar para ela que, no final de tudo, fui eu quem venceu.
Ela vai até ele.
TAMIRES
Quando eu voltar, serei outra Tamires. A melhor que já houve. Beijos.
Ela segura a cabeça dele e o beija.
TAMIRES
Tenha um bom dia, lindo.
ABIMAEL
Você também.
Abimael, deitado, observa Tamires ir para a porta, piscar feliz para ele e sair com os guardas.
CENA 13: EXT. BELÉM – PRAÇA – DIA
Enquanto todos aguardam a resposta de Neb, esse olha para o povo ao redor.
NEB
(murmurando) Você já tem muito, Boaz, e ainda quer mais? Rum, perdeu essa, meu caro.
BOAZ
E então, Neb? Estamos aguardando sua resposta.
Neb então põe-se de pé.
NEB
Muito bem! Já tenho minha decisão.
Todos ansiosos.
NEB
Eu redimirei.
Um desânimo parece cair sobre os ombros de Rute...
NOEMI
Calma, minha filha, calma... Não desanime, mantenha-se firme.
Rute olha para a sogra e para eles preocupadíssima...
RUTE
Eu não posso me casar com ele... Eu não gosto, eu não o conheço... Eu gosto... a senhora sabe de quem...
NOEMI
Clame ao Senhor, apenas faça isso.
Tani também tenta acalmar Rute e Josias olha para Neb com certa raiva. Os anciães, entendendo que o caso está encerrado, começam a se levantar, mas param ao ouvir Boaz falar.
BOAZ
Muito bem, muito bem.
Todos olham para ele.
BOAZ
Agora ajuntaremos os papéis, você o dinheiro e então a redimirá.
NEB
(contente) Naturalmente.
BOAZ
E, no dia em que fizer isso, tomar a terra da mão de Noemi, também tomará a mão de Rute, a moabita, mulher do falecido Malom, que não teve descendência.
De repente, o semblante de Neb cai bruscamente.
NEB
O quê?!
BOAZ
É isso mesmo, Neb. Não conhece a lei do remidor? Não sabe que o objetivo é dar continuidade à descendência do falecido, para que o mesmo não seja esquecido e para que a honra retorne à casa da família?
NEB
Ma-mas... Mas... eu...
Todos observam a confusão de Neb.
NEB
Boaz... Casar?!
BOAZ
Sim, casar.
O semblante de Neb começa a mudar, ele levanta a cabeça... faz careta... e espirra! Espirra de novo! E de novo! Alguns franzem o cenho, mas ele não para. Outra vez! E outra! E mais outra!
ANCIÃO
O que está acontecendo? Ei, Neb, você está bem?!
Neb espirra mais uma, e mais outra. Apoia-se na cadeira e continua a espirrar. Rute e Noemi se entreolham estranhando e Josias disfarça um riso.
Neb então cai na cadeira e dá mais um espirro, mais forte e mais alto!
ANCIÃO
Meu Deus...
Neb então abana a mão no rosto.
NEB
Ah, ai...
ANCIÃO
Está passando mal?!
NEB
Estou... Ah... Água... Por favor, água...
Logo alguém traz um copo com água e ele bebe de uma só vez.
NEB
Ah!...
ANCIÃO
Melhorou?
Neb respira seguidas vezes.
NEB
Sim... Estou melhor... Quase morri... Ah... Senti a capa escura da morte roçando em minhas canelas... Ah... Ah... Estou melhor.
Todos trocam olhares de estranhezas. Os anciães conversam avidamente entre si.
BOAZ
Neb... Ainda pretende redimir Rute e a terra de Noemi?
Neb, jogado na cadeira, olha para elas, que o encaram. Então ele se ajeita na cadeira.
NEB
Não... Não poderei redimi-la... Não posso fazer isso...
O peso do desânimo parece sair dos ombros de Rute, mas ela se mantém discreta.
ANCIÃO
Por quê?
Neb parece buscar as palavras...
NEB
Para não prejudicar a minha herança... Se eu me casar, minha herança estará dividida.
ANCIÃO
Egoísmo, Neb? É o que me parece.
NEB
Não, não é...
E espirra mais uma vez.
ANCIÃO
É essa a verdade mesmo?
Neb olha para o Ancião.
NEB
Sim. (para Boaz) Redima você... Eu não poderei fazer.
Não se aguentando mais, Rute e Noemi sorriem.
NOEMI
Eu disse para você se aquietar, rum...
Rute ri.
RUTE
Ah, minha sogra...
Tani e Josias sorriem para elas.
ANCIÃO
(para Neb) Se não se lembrava da lei do remidor, não deve se lembrar do costume da sandália.
NEB
É... Não...
ANCIÃO
Pois bem. Quanto à remissões e contratos oficiais, para confirmar todo o negócio, o homem que abre mão de algo, nesse caso a remissão, deve pronunciar sua desistência, descalçar sua sandália e a dar ao outro, a outra parte no contrato. Isto serve como testemunho diante de Israel.
NEB
Certo, certo... Assuntos de lei, ah...
Neb então descalça um dos pés, pega a sandália, se aproxima de Boaz e eles se encaram por um instante.
NEB
Tome a terra e a viúva para você.
Então Neb entrega a sandália e Boaz a pega com respeito.
ANCIÃO
Muito bem. A partir de agora você não pode mais pisar na terra que recusou redimir.
Boaz então vira para todos ali.
BOAZ
Vocês são hoje testemunhas de que tomei tudo quanto foi de Elimeleque, e de Quiliom, e de Malom, da mão de Noemi.
Sorrindo, Noemi faz que sim.
BOAZ
Também são testemunhas de que me casarei com Rute, a moabita, para recuperar o nome do falecido, Malom, sobre a sua descendência. Para que seu nome não seja esquecido e arrancado de entre seus irmãos. Para que seu nome seja sempre lembrado entre seu povo e sua cidade natal.
Rute, mantendo o semblante feliz, tem os olhos marejados.
BOAZ
De tudo isso vocês são hoje testemunhas.
Então todos todos os anciães, mais Noemi, Rute, Tani, Josias e outros belemitas assistindo falam em uníssono.
TODOS
Somos testemunhas.
Junto a Boaz, o Ancião faz sinal para Rute, Noemi, Tani e Josias se aproximarem; assim eles fazem. Rute, abraçada por Noemi, encara feliz Boaz.
ANCIÃO
(para Boaz) Que o Senhor faça com que essa mulher, que entra na sua casa, seja como Raquel e Léia, que deram muitos filhos a Jacó, edificando, assim, a casa de Israel.
Rute sorri emocionada.
ANCIÃO
Boaz, meu filho... Que você seja ainda mais abençoado em Belém, e que seu nome tenha boa fama por toda essa terra! E que, por meio do filho que te der essa moça, sua casa seja como a casa de Perez, o filho que Tamar teve de Judá.
Feliz, Boaz faz um reverência com a cabeça.
BOAZ
Muito, muito obrigado, senhor. Vindo do senhor, vale muito. Obrigado.
O Ancião sorri.
ANCIÃO
Shalom.
TODOS
Shalom.
O Ancião então sai e se junta aos outros anciães, que também começam a ir.
Tani e Josias estão muito sorridentes, e Noemi, de braços dados com Rute, observa a troca de olhares dela com Boaz.
NOEMI
Agora poderão pensar no casamento.
Boaz olha para Noemi.
BOAZ
Sim... Finalmente.
Boaz e Rute, apaixonados, continuam a se encarar felizes e sorridentes. IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:
No penúltimo capítulo: O Ancião chama Neb para uma conversa, mercadores de escravos atacam Diana e Jurandir, a Caravana da Morte cerca Noemi e Aylla volta a correr perigo. Fortes emoções e muitas surpresas no penúltimo capítulo de A Promessa!
Obrigado pelo seu comentário!