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A Promessa - Capítulo 43


A Promessa
CAPÍTULO 43

webnovela de
FELIPE LIMA BORGES

escrita por
FELIPE LIMA BORGES

livre adaptação do livro de Rute

No capítulo anterior: O corpo de Maya é sepultado. Gael convida Iago para a Caravana com a promessa de que ninguém ficará impune. Myra não entende o comportamento de Rute e Orfa. Magda diz a Boaz que o presente que ela comprou caiu e quebrou. Ele dá a ela dois bonecos que ele mesmo fez, mas ela não recebe bem, preferia algo comprado. Boaz diz que ela está parecendo interesseira e acaba terminando o namoro. Quando a  Caravana da Morte parte na direção de Moabe, Tani avista Tamires junto a eles e corre, mas é vista por ela, que a alcança, a suja de terra no rosto e na boca e corre na frente, para Belém. Noemi, Elimeleque, Malom e Quiliom apreciam sua casa nova. Salmon se desequilibra, cai e Boaz e Joias o ajudam, mas ele diz para eles não se preocuparem. Rute diz a Malom que, casada com ele, poderá ser feliz como nunca. Tamires alcança o Ancião e inverte a história contando que avistou Tani com a Caravana. Tani chega em seguida dizendo que seja lá o que Tamires está dizendo, é mentira, e Tamires fala que já esperava essa reação. Tani intenta bater nela, mas o Ancião a impede.

FADE IN:

CENA 1: INT. CASA DE LEILA – QUARTO DE NOEMI – DIA

Noemi e Elimeleque estão dobrando roupas para levar para sua casa nova quando ela passa por ele, tropeça e cai em seus braços.
NOEMI
Ai!...
ELIMELEQUE
Calma... Se machucou?
Rindo, Elimeleque a ajuda a se pôr de pé novamente.
NOEMI
Não, não, só tropecei...
Ela o olha.
NOEMI
Nossa, que coisa... Parece até...
ELIMELEQUE
O quê?...
Noemi gesticula.
NOEMI
25 anos de casados, 2 filhos às vésperas de se casarem e, às vezes, ainda parecemos dois adolescentes com os sentimentos à flor da pele... Mesmo com tudo isso... meu coração ainda bate forte ao ser segurada inesperadamente por você...
Noemi está com o rosto corado, e Elimeleque se aproxima sorrindo. Quase como a adolescente tímida de anos atrás, ela o olha direto nos olhos.
ELIMELEQUE
Aconteceu comigo... Lembra-se do jantar?
Noemi sorri.
NOEMI
Claro, claro...
Elimeleque faz que sim e acaricia o rosto dela.
ELIMELEQUE
Passe o tempo que passar, aconteça o que acontecer... Seremos sempre aqueles dois adolescentes apaixonados.
NOEMI
Com a diferença que não lutaremos mais contra nossos sentimentos...
ELIMELEQUE
Engraçado, eu me lembro de apenas um de nós fazendo isso...
Noemi ri.
NOEMI
Ah, Elimeleque... Rum.
ELIMELEQUE
Minha ferinha...
Eles se aproximam delicadamente e se beijam... Se beijam apaixonadamente...
Por fim seus lábios desgrudam e eles se encaram.
NOEMI
Vamos continuar a arrumar as coisas?
ELIMELEQUE
Vamos. E amanhã... vamos ver um pedaço de terra para plantarmos.
Noemi sorri.

CENA 2: EXT. DESERTO – DIA

Os vários cavaleiros de preto com rostos parcialmente ocultos cavalgam a toda velocidade pela imensidão do deserto.
À frente, Segismundo gritando com o cavalo e com os seus homens. Logo atrás, Gael, silencioso. Depois, Iago, com a fúria estampada em seu olhar. Montanha, Besta Louca e os outros vem atrás.
ABERTURA

CENA 3: INT. CASA DE LEILA – LOJA – DIA

Leila, sentada para cuidar de sua loja, fita Aylla, no chão ao lado, falando com ela.
AYLLA
...quando os três cavaleiros cavalgaram muito para salvarem a mocinha. Mas eles não tinham escolha, não é? Só que eles não imaginavam que a mocinha era guerreira, e que era a melhor lutadora da aldeia dela. Os três cavaleiros não tiveram escolha e assistiram a mocinha lutar com o monstro e derrota-lo.
Apesar de Leila olhar para ela, Aylla franze o cenho, estranhando.
AYLLA
Senhora Leila... Senhora Leila.
Leila sai de seu transe.
LEILA
Oi, Aylla. Diga...
AYLLA
A senhora não estava prestando atenção.
LEILA
Não, não, eu estava... eu estava, eu só... me distraí um pouco. Os problemas da vida, enfim...
AYLLA
A senhora está bem?
LEILA
Estou sim, meu amor. Pode continuar contando a história. E a mocinha? O que aconteceu com ela?
Inocente, Aylla continua a contar enquanto Leila tenta disfarçar, mas a observa de uma forma diferente.

CENA 4: INT. CASA DE BOAZ – SALA – DIA

Ao redor da cadeira onde Salmon está sentado, Raabe, Boaz e Josias falam com ele.
RAABE
Fiquei muito preocupada quando Boaz me contou o que aconteceu, Salmon...
SALMON
Raabe... (faz que não) Você precisa... estar preparada...
RAABE
Que...
BOAZ
O que está dizendo, meu pai?!
De repente, Salmon faz um semblante de dor e se inclina para frente...
BOAZ
Pai!
RAABE
Salmon! Salmon, meu amor!!! Boaz, faça alguma coisa!
BOAZ
O quê?!...
RAABE
Chame ajuda!
JOSIAS
Eu chamo!
Josias se levanta para sair, mas é interrompido com Salmon falando.
SALMON
(com dificuldade) Não!...
Todos o olham.
RAABE
Salmon, Salmon, está bem, meu amor?!
Com dificuldade, Salmon olha para eles.
SALMON
Apenas me levem... me levem... para o campo...
RAABE
Está delirando, meu marido! Chamem ajuda, rápido!
SALMON
Não!!! Para o campo... quero ver a semente... por favor...
Raabe e Boaz se entreolham. Josias não sabe o que fazer.
RAABE
Tudo bem... Para o campo... Vamos...
Boaz e Josias ajudam Salmon a se levantar e os quatro saem devagar.

CENA 5: EXT. BELÉM – PRAÇA – DIA

Tamires, aparentando tranquilidade, e Tani, suja e desesperada, diante do Ancião, um tanto confuso.
TANI
Senhor... O que essa mulher disse é mentira! Fui eu quem viu Tamires com a Caravana. Ela está mentindo!
TAMIRES
Esse seu comportamento é extremamente previsível, Tani. Sua obviedade é medíocre. Pensei que inovaria ao menos nas escolha das palavras, francamente... Mas a verdade é que você é quem estava lá, fazendo sei lá o quê com aqueles homens terríveis. Tanto que eu cheguei primeiro aqui. Não teria como eu chegar aqui primeiro se tivesse sido vista por você, longe, com os homens...
TANI
Mas isso é um absurdo! Não só teria como essa mulher chegar primeiro como ela chegou! E isso porque jogou uma pedra em mim, me sabotou, me atrasou! E ainda me sujou de terra, até na minha boca essa descarada colocou terra!
TAMIRES
Quantas palavras baixas, Tani... Um pouco mais de respeito, estamos diante do Ancião.
Tani a olha com muita raiva.
TANI
Olhe o meu pé, senhor! A pedra me acertou, me fez tropeçar! Olhe o meu rosto, sujo de terra!
TAMIRES
Forjado! Na ânsia de dar um pouco de credibilidade à sua encenação, feriu o próprio pé... Você é baixa, Tani, e eu estou chocada com tamanha traição. A Caravana... A Caravana da Morte... Senhor, eu não poderia fazer outra coisa senão vir o mais rápido possível.
ANCIÃO
(pesaroso) Tani...
Tani o olha temendo o pior.
TANI
Senhor, por favor...
ANCIÃO
Eu não tenho escolha. Tamires de fato chegou primeiro. Guardas!
Alguns soldados da praça se aproximam. Tamires sorri levemente.
TANI
Senhor, por favor, por favor! Eu não tive culpa! Era Tamires quem estava com eles!
ANCIÃO
(encarando o chão) Prendam essa mulher.
TANI
Não, não, por favor! Senhor, por favor!!!
Os soldados se aproximam e a seguram pelos braços.
TANI
O senhor sabe! O senhor sabe que eu sou inocente, por favor, por favor! Tamires é quem estava lá! Não, por favor!!!
Os soldados a levam dali. O Ancião, afetado, engole em seco e olha para os lados, um tanto aflito. Tamires, com olhar de superioridade, observa Tani sendo levada pelos soldados.
Por fim, ela se aproxima mais do Ancião.
TAMIRES
Muito obrigada, senhor, por ter feito justiça. Espero que ela seja devidamente punida, conforme os mandamentos.
Sem olhá-la, o Ancião faz que sim e sai. Satisfeita, Tamires sorri.

CENA 6: EXT. BELÉM – CAMPOS – DIA

Boaz e Josias ajudam Salmon. Raabe acompanha aflita. Neb chega ali.
NEB
Tios? Primos?! Eu os vi carregando o tio Salmon e vim ver... O que ele tem?!
BOAZ
Não sabemos, Neb...
RAABE
Ali, a semente foi plantada ali...
Eles levam Salmon até o local, e ele cai dos braços deles, meio sentado, meio deitado...
BOAZ
Pai...
SALMON
(cansado) Calma... Calma...
RAABE
Salmon, você não está bem! Precisa de ajuda...
SALMON
Raabe... Eu estou... onde gostaria de estar... Vejam.
O dedo de Salmon aponta a terra ao seu lado e eles olham: um pequeno e vivíssimo broto.
JOSIAS
Está nascendo...
SALMON
Já seria o tempo... de o trigo nascer?
BOAZ
Não, de forma alguma...
SALMON
Pois é... (feliz) Está dando certo... Isso mostra que o povo está verdadeiramente... voltado para Deus. E o melhor:... o Senhor está recebendo.
Todos ali sorriem um pouco. Salmon então deita de vez na terra, ao lado do broto.
RAABE
Salmon...
SALMON
(encarando o céu) Não me caibo... de tanta felicidade...
Raabe, agachada, fica ao lado do marido. Lágrimas começam a brotar de seus olhos. Boaz, Josias e Neb ajoelham e se agacham ao redor dele.
SALMON
Vivi uma vida inteira... plena... Foram muitas lutas... literais e dia após dia... mas alcancei tudo que precisava. Cresci nômade, vivendo no deserto, em tendas... Lutei e, junto aos meus irmãos, conquistei essa terra maravilhosa... E agora... agora pude contribuir na reaproximação do povo com Deus.
Salmon olha para Boaz, já em lágrimas.
SALMON
Agora essa missão é sua, meu filho... Caberá a você... dar continuidade à essa obra. Sempre com paciência... mansidão... e respeito. Acolhendo a todos que precisarem... e pronto a dar uma palavra de conselho.
Boaz chora e suas lágrimas caem sobre a terra.
BOAZ
Não sei se vou conseguir...
SALMON
Você terá amigos... Mas, principalmente... nunca deixe de se guiar pelo nosso Deus...
Salmon vira a cabeça e olha para o broto ao seu lado.
SALMON
(sorrindo) E eu sei que vai dar certo... Desse pequeno broto uma plantação a perder de vista se levantará... E Belém será chamada a Casa do Pão.
Raabe acaricia o rosto de Salmon, que então olha para Neb.
SALMON
Neb, meu sobrinho... Não troque o amor do Senhor... por bens materiais. Por aquilo que o ladrão leva... e a traça corrói... O tesouro de Deus... é maior do que tudo o que podemos ver e tocar.
Salmon bate devagarinho no peito de Neb, que o olha meio confuso, meio assustado, meio constrangido...
Salmon então olha para Raabe.
SALMON
Raabe, minha grande companheira...
Raabe começa a chorar mais.
SALMON
Vivemos uma vida de amor e carinho... E o tempo ao seu lado... foi o mais feliz da minha vida. Esperarei... Esperarei pelo dia em que nos reencontraremos...
RAABE
(chorando) Eu te amo, Salmon...
Salmon sorri. A luz do sol ilumina seu rosto. Então, pouco a pouco, sua cabeça vai virando para o lado do broto... virando... Até que ela repousa na terra e seus olhos se fecham, tendo o broto como última imagem.
Raabe chora...
Salmon chora...
Josias chora...
Neb, confuso, chora...

CENA 7: INT. BELÉM – TEMPLO – CELA – NOITE

O dia passa e a noite chega.
Tani, muito triste e sentada no chão sujo, encara o nada. Então a porta se abre, é o Ancião. Tani olha para ele.
TANI
Ancião?...
Ele a olha, entra e fecha a porta. Ela se levanta e ele se aproxima.
TANI
Por favor, diga-me que veio me tirar daqui. Eu sou inocente, senhor. Não tenho nada, nada a ver com a Caravana! Isso é um absurdo sem tamanho!...
ANCIÃO
Eu sei, Tani.
TANI
Sabe?
ANCIÃO
Claro que sim, nós somos amigos. Eu confio em você. Mas eu fiquei de mãos atadas, Tamires realmente chegou primeiro e você sabe que isso conta muito.
TANI
Então está acabado?! Eu serei condenada, mesmo inocente?!
ANCIÃO
Calma, Tani, calma. Os fatos serão analisados. Você terá um julgamento justo. E eu farei de tudo para ajudá-la.
TANI
É uma humilhação... Ser levada daquela forma, ficar nesse lugar sujo, úmido...
ANCIÃO
Peço que aguente firme, minha amiga. Não desista! Ore a Deus enquanto isso!
TANI
É só o que me restou, mesmo.
ANCIÃO
Eu trouxe comida. Vou pegar para você.
Ele vai até a porta, abre-a e pega uma porção de comida lá fora.
ANCIÃO
Não é muito, a crise ainda é grave, mas... acho que dá para passar a noite.
TANI
Obrigada.
ANCIÃO
Eu já vou indo... Orarei por você... Shalom, Tani.
TANI
Shalom, senhor...
Pesaroso, o Ancião volta, a olha uma última vez e sai. Ela, abatida, respira fundo e olha para a comida.

CENA 8: EXT. CASA DE IAGO – FRENTE – NOITE

Não há praticamente ninguém nas ruas.
Sentada no chão e abraçando as pernas, Tamires chora enquanto olha para a casa destruída.
TAMIRES
Me desculpe... minha amiga... amiga minha... Me desculpe por não poder ter feito nada... (soluça forte) Mas não se preocupe... Todos... Todos... pouco a pouco... pagarão! Tani já saiu do caminho... E em breve... Noemi e sua família... também conhecerão o alto preço...
Tamires continua a chorar...

CENA 9: EXT. DESERTO – NOITE

Ao redor de duas fogueiras, os homens da Caravana comem sentados no chão. Ao redor deles, os cavalos e, além, apenas a escuridão sem fim.
GAEL
Ao que parece, Elimeleque e a família foram mesmo para Moabe. Até aqui e ainda não fizeram desvio algum.
MONTANHA
Sim, já passamos os limites do povoado mais distante.
SEGISMUNDO
Pois então é para Moabe que nós vamos. Eles devem ter demorado muitos dias, já que estavam à pé e a carroça era só para carregar a mudança.
GAEL
Exato. Creio que, saindo antes do amanhecer e cavalgando no ritmo que fizemos, chegaremos aos campos de Moabe antes do sol a pino.
SEGISMUNDO
(mastigando) Ótimo. Não vejo a hora de ter minha revanche e colocar minhas mãos naquela pedra.
Pensativo, Gael faz que sim e continua a comer.

CENA 10: INT. CASA DE LEILA – LOJA – DIA

A noite se vai e o dia amanhece.
Noemi, Elimeleque, Malom e Quiliom vem da rua e entram na loja, onde está Leila. Rute e Orfa a ajudam na organização dos produtos e Aylla brinca com alguns bonecos de barro da loja.
NOEMI
Shalom...
ELIMELEQUE
Shalom, família...
LEILA, RUTE, ORFA, AYLLA
Shalom...
LEILA
Uma grande família!
NOEMI
E que precisa ser sempre unida...
ORFA
(olhando o noivo) No que depender de mim e do Quiliom...
QUILIOM
Não vamos nos distanciar mais que uma cidade...
ORFA
Quiliom, rum...
Eles riem.
RUTE
Não reclamando, minha amiga, mas vivi tendo apenas Orfa a vida toda... Não quero me distanciar nunca mais de vocês. Serei eternamente grata a essa família que me acolheu... Noemi, Elimeleque... E Leila, tão generosa, tão hospitaleira.
Leila sorri.
ELIMELEQUE
Quanto a vocês duas, minhas futuras noras, eu só tenho elogios a fazer. É preciso muita garra para vencer as dificuldades da vida e conquistar ouro, poder e prestígio. Mas ainda mais coragem e fibra para largar todo o conforto e luxo que tem em nome do que acredita, em nome do que é certo... Em nome do amor.
Orfa e Rute sorriem.
ELIMELEQUE
Deus há de abençoá-las muito.
LEILA
Amém.
Todos sorriem.
LEILA
Gente... Ninguém disse nada... É “amém” mesmo que se diz?
NOEMI
(rindo) Sim, Leila, é amém. Desculpe não te imitar. Amém, amém, amém! Que Rute e Orfa tenham um casamento abençoado!
Todos ali falam “Amém”.
LEILA
Bom, e vocês, para onde estão indo? Vi que já levaram tudo para a casa.
NOEMI
Sim. Agora vamos ao campo. Elimeleque quer comprar um pedaço de terra para plantarmos.
ELIMELEQUE
Nos veremos mais tarde. Shalom, Leila. Cuide bem dessa mocinha aqui.
LEILA
Pode deixar. Ela está analisando a qualidade dos meus produtos.
Elimeleque pega Aylla no colo e a abraça.
ELIMELEQUE
Cadê o meu beijo, mocinha?
Aylla beija a bochecha de Elimeleque.
ELIMELEQUE
Hum, que beijo gostoso! Menina linda!...
AYLLA
Me levanta?!...
LEILA
Agora aguente, Elimeleque...
ELIMELEQUE
Tudo bem, mas só porque ganhei esse beijo. Vamos lá?!
Elimeleque segura Aylla e a joga para o alto. Ela grita e sorri. Ele faz de novo e ela fica irradiante.
ELIMELEQUE
Agora chega, o tio Elimeleque já tá ficando velhinho e os braços doem...
Ele a coloca no chão e ela sai animada.
LEILA
Se você está velho, eu sou o quê?
Elimeleque ri.
ELIMELEQUE
Shalom, Leila.
NOEMI
Shalom a todos.
LEILA, AYLLA, RUTE, ORFA
Shalom!
Rute, Orfa, Malom e Quiliom estão juntos.
MALOM
Gente, apesar dos preparativos, ainda não definimos o local da festa...
ORFA
Sim, e eu já estava pensando em alguns...
RUTE
Ainda bem, Orfa, porque eu não pensei em nada...
QUILIOM
Assim que chegarmos, vamos falar sobre isso.
Malom beija a mão de Rute e sai. Quiliom sorri para Orfa, acaricia o rosto dela e acompanha o irmão. Rute e Orfa sorriem uma para a outra.

CENA 11: EXT. MOABE – CAMPO – DIA

A algumas centenas de metros da cidade, Noemi, Elimeleque, Malom e Quiliom caminham pelo campo guiados pelo dono daquele pedaço.
HOMEM
Fiquem à vontade para ver o campo. Depois eu retorno e a gente fecha o acordo.
ELIMELEQUE
Certo. Muito obrigado, amigo.
HOMEM
Disponham.
O homem se afasta. Noemi e Elimeleque continuam a caminhar, apreciando a paisagem. Malom e Quiliom saem conversando, levemente para outra direção. Elimeleque abraça a esposa.
ELIMELEQUE
Imagine só, bem aqui, para todo lado... Nossa plantação, nosso trigo...
NOEMI
Hum... Já consigo ver o amarelado no lugar desse verde.
ELIMELEQUE
Podemos cultivar outras coisas, também. Assim economizaremos e sobra para mais jantares na muralha...
Noemi ri.
NOEMI
Gostei da ideia. Mas, falando em trigo, eu me lembro de algumas coisas...
ELIMELEQUE
O quê?
NOEMI
Ah... Não se lembra?... Éramos recém-casados...
ELIMELEQUE
Ahh!!!
Elimeleque gargalha e Noemi ri.
NOEMI
Lembrou, não é?
ELIMELEQUE
Sim, sim! Nunca esqueci, é que eu não havia associado... Não me esqueço do semblante do senhor Rishon quando nos descobriu ali, deitados no trigal dele... O velhinho ficou uma fera! Nossa, meu amor!... Éramos inconsequentes, hein...
NOEMI
Éramos apaixonados, isso sim! Assim como hoje!
ELIMELEQUE
Assim como sempre!
Ainda caminhando abraçados, eles trocam um beijo. Quando seus lábios se separam, escutam um barulho.
ELIMELEQUE
Que isso? Parece cavalo.
Elimeleque olha para trás, para a cidade, mas nenhum cavalo está vindo. Ele olha para frente, é quando vários cavalos surgem cavalgando em sua direção. Ele e Noemi observam sem entender. Os cavaleiros se aproximam, se aproximam... Elimeleque desconfia e franze o cenho.
ELIMELEQUE
Malom! Quiliom! Venham aqui!...
Os filhos, estranhando os cavaleiros, vão até os pais.
Os cavaleiros se aproximam, se dividem em duas linhas e cercam a família. Todos de preto, todos com o rosto coberto... A Caravana da Morte alcança a família.
O cavaleiro líder olha para eles e então tira o seu pano: Segismundo sorri satisfeito.
ELIMELEQUE
Como... é possível?...
Noemi começa a se desesperar.
SEGISMUNDO
Você achou que nossa história estava terminada, Elimeleque?
Próximo dali, o dono daquele campo observa, assustado, os cavaleiros acuando os quatro. Então ele sai correndo na direção da cidade.
ELIMELEQUE
Como sabiam onde nós estávamos?
SEGISMUNDO
Quando a galinha foge, a raposa fareja.
Elimeleque um pouco à frente e ao lado de Noemi. Malom e Quiliom ao redor.
SEGISMUNDO
Vamos fazer do jeito rápido, Elimeleque: você me diz onde a pedra está. Simples assim.
ELIMELEQUE
Quê?! Do que está falando, Segismundo?! Pedra?!
SEGISMUNDO
Ah, Elimeleque, você não ouviu eu dizer para fazermos do jeito fácil? Qual é a dificuldade de entender isso? Parem com essa enrolação... Eu sei que Noemi guarda uma pedra valiosa como lembrança do pai. Apenas quero que a entreguem para mim.
NOEMI
(quase chorando de raiva) E quem foi que lhe disse isso?!
SEGISMUNDO
Sua ex-amiga: Tamires.
NOEMI
É mentira dela! Nunca fomos amigas! Ela te enganou! Tamires sempre me desprezou!
SEGISMUNDO
Eu entendo que farão de tudo para que eu não pegue a pedra, mas já estou perdendo a paciência.
ELIMELEQUE
Eu perdi a paciência com você há muito tempo!
Imediatamente Elimeleque saca sua espada, ao que Malom e Quiliom fazem o mesmo. Segismundo, do alto de seu cavalo, olha para eles com desdém.
SEGISMUNDO
Você não vê, Elimeleque, no que nós nos transformamos? Não enxerga o nível que a Caravana da Morte alcançou? Além de todos esses apetrechos, nós treinamos. Dia após dia, nós treinamos. Vocês não tem a mais ínfima das chances.
ELIMELEQUE
Se Deus quiser que seja assim, então assim será. Se não, não haverá força que será capaz de nos derrotar.
Besta Louca olha para Elimeleque com um sorriso sanguinário.
BESTA LOUCA
Senhor... Permita-me que eu o mate...
SEGISMUNDO
Não, de forma alguma. Tenho um acerto de contas com esse homem. Ele é meu.
Montanha, vendo os quatro lá embaixo, sorri empolgado.
Noemi em desespero.
ELIMELEQUE
Não temos escolha, meu amor. Vamos ter que lutar. Malom, Quiliom... Atenção.
SEGISMUNDO
Ataquem!
Os homens, ainda com o rosto coberto, descem de seus cavalos, sacam suas espadas e atacam. Malom e Quiliom duelam com alguns. Outros, entre eles Iago e Montanha, apenas assistem rindo.
Noemi fica sem saída enquanto Segismundo saca sua espada e ataca Elimeleque.
Malom e Quiliom tem extrema dificuldade com os homens, que são rápidos e fortes.
IAGO
Deixa eu participar dessa chacota. Conheço esses dois.
Iago se junta aos companheiros e golpeia os irmãos, que por muito pouco não estão sendo atingidos fatalmente.
Segismundo e Elimeleque duelam, mas o primeiro é visivelmente superior. Quase que parece estar se divertindo com Elimeleque. Esse golpeia, e Segismundo desvia. Um ataque por cima, e Segismundo se abaixa. Outro na barriga, e Segismundo desvia com sua espada.
SEGISMUNDO
Está difícil, Elimeleque?
Mais rápido, Elimeleque faz uma sequência de golpes. Segismundo bloqueia, desvia, se afasta... até que, com sua espada, trava a espada de Elimeleque próxima ao seu rosto.
SEGISMUNDO
Chegará perto, mas jamais me ferirá. Enquanto você fugia de sua terra, eu treinava com homens mais fortes do que eu!
Elimeleque desiste daquele golpe, recua e tenta outros. Nenhum chega perto de encostar em Segismundo. Esse se afasta, e Elimeleque é obrigado a segui-lo conforme tenta acertá-lo seguidamente.
Noemi percebe a dificuldade do marido. Olha para os filhos, e ambos não estão resistindo aos vários homens os atacando.
NOEMI
Ajuda... Vou buscar ajuda...
Ela corre, mas os homens que não lutam a seguram e a colocam de joelhos.
NOEMI
Aaahhh!!! Me soltem!!!
Iago, lutando com Malom e Quiliom, percebe a situação de Noemi. Então dá um chute em Malom, que cai, e sai dali. Aproxima-se dos companheiros, faz sinal para eles afastarem e ele mesmo segura Noemi no chão. Em seguida tira o pano e olha para ela.
NOEMI
Iago?!... Você?!...
IAGO
Com saudades, sardenta?
NOEMI
Iago, por favor, diga-me que está aqui infiltrado e que vai nos ajudar!
IAGO
Não... Acho que não. Vim para te perguntar qual é o sabor da morte... Ela está próxima, você já deve estar sentindo.
Noemi desiste e cai sobre o chão, aflita. Iago sorri e a segura firme.
Malom, no chão, e Quiliom, assustado com o irmão, são desarmados. Em seguida os homens os pegam e os imobilizam.
Todos ali assistem Elimeleque e Segismundo. Cada tentativa desesperada de Elimeleque é bloqueada ou desviada; ele está cansado. No segundo que para pra respirar, Segismundo lhe dá um soco no nariz e ele desequilibra para trás, se apoiando em um joelho. Noemi desesperada. Elimeleque se levanta, olha para Segismundo, respira fundo, ajeita a espada nas mãos... e tenta outro golpe. Segismundo bloqueia com facilidade e, com um movimento gracioso, desarma Elimeleque. A espada dele voa para o lado e cai na relva.
Segundos de silêncio.
Segismundo, armado, encara Elimeleque, de mãos vazias.
Silêncio...
Segismundo sorri.
Silêncio...
Segurando firme sua espada, Segismundo faz um movimento com ela.
Então a lâmina viaja no ar...
...e atravessa Elimeleque.
Elimeleque sente o baque, e por um tempo encara o nada.
Depois, olha para o céu azul. Segismundo parece saborear o momento.
Noemi, presa ao chão por Iago, arregala os olhos, quase não entendendo... Malom e Quiliom observam em início de desespero.
Segismundo então retira a lâmina ensanguentada e Elimeleque cai de joelhos. Noemi o observa ainda sem entender direito. Besta Louca, do seu lugar, observa sorrindo. Segismundo aprecia o que fez. Momentos de assombro em Malom e Quiliom. Elimeleque perde as forças e cai deitado. É quando Noemi grita! Grita! Grita com todas as suas forças!!!
Seu grito parece não terminar!!! Grita!!! Longamente, ela grita!!!
Então se solta das mãos de Iago e corre até Elimeleque, estirado no chão. Desesperada, levanta a cabeça do marido e não sabe o que fazer, onde tocar, como agir...
NOEMI
Elimeleque! Elimeleque! Elimeleque, calma! Calma, Elimeleque! Vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem!... Não se preocupe, vai ficar tudo bem! Calma, calma! Calma, Elimeleque, calma! Vai ficar tudo bem!...
Malom e Quiliom, tirando forças de onde não têm, se soltam dos homens que os seguram e correm até seus pais.
MALOM, QUILIOM
Pai!!!
Os homens intentam ir atrás deles, mas Segismundo faz um sinal para esperarem. Em pé, segurando sua espada, ele assiste satisfeito os três em volta de Elimeleque, que encara o céu azul.
NOEMI
Vai ficar tudo bem, meu amor, vai ficar tudo bem! Não se preocupe, Elimeleque! Você não vai morrer, não vai! Você é minha Promessa, nós vamos ficar juntos!
Elimeleque encara o céu quase admirado... então olha para ela.
ELIMELEQUE
Não... Eu sinto... Eu estou sentindo... É a sensação... Eu... preciso ir...
Noemi então o abraça.
NOEMI
Não, não, não, não, não, não!...
ELIMELEQUE
A Promessa...
Noemi o solta e olha para ele.
ELIMELEQUE
A Promessa... não era... sobre mim... Você precisa... descobrir... a quem a Promessa... se referia...
Noemi chora, chora, chora, e as lágrimas caem sobre Elimeleque, que então olha para os filhos.
ELIMELEQUE
Cuidem... da mãe de vocês... E ajudem Rute e Orfa... a trilhar os caminhos de Deus... Eu sei... que terei uma descendência... iluminada!... Vocês são meninos valiosos... Muito, muito mais que qualquer tesouro. Tenho muito orgulho... de ter sido... pai de vocês.
Malom e Quiliom desabam a chorar sobre o pai.
Olhando para Segismundo, Besta Louca faz um sinal de cortar a cabeça, e Segismundo sinaliza para ele esperar.
Elimeleque volta a olhar para Noemi.
ELIMELEQUE
Noemi...
NOEMI
Estou aqui, meu amor...
ELIMELEQUE
Volte para Belém... Não devíamos ter saído... de nossa terra. Abandonado... o nosso povo...
Noemi apenas chora... Elimeleque toca o rosto dela, virando suavemente para ele.
ELIMELEQUE
Não se entristeça... e nem se preocupe comigo... Eu estou feliz por ter vivido... ao lado do meu grande amor... Minha ferinha...
Em meio ao choro ininterrupto, Noemi sorri. Ele pega as mãos dela.
ELIMELEQUE
Eu... estou bem... Estou indo... para os braços... do nosso Senhor...
Ele toca o rosto dela novamente.
ELIMELEQUE
Meu eterno amor...
Noemi pega a mão dele e segura firme. Mas ela vai caindo, caindo...
A cabeça de Elimeleque vira para o lado e seus olhos se fecham tranquilamente... Um semblante de paz.
NOEMI
Elimeleque... Elimeleque... Elimeleque!... Elimeleque!!! Não, Elimeleque, não!!! Elimeleque!!! Fala comigo, Elimeleque!!! NÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOO!!!
Malom e Quiliom choram amargamente. Em total desespero, Noemi balança o corpo de Elimeleque em seus braços...
Segismundo respira fundo, olha para os lados e olha para ela.
SEGISMUNDO
Você quer que isso também aconteça com os seus filhos?
Noemi não dá a menor atenção para Segismundo, apenas chora abraçando e balançando Elimeleque em seus braços.
SEGISMUNDO
Me dê a pedra, Noemi.
QUILIOM
CALE A SUA BOCA!!!!!!
Quiliom volta a chorar sobre o pai. Segismundo faz que não e faz um sinal para Besta Louca, que se aproxima por trás de Quiliom e ergue sua espada para lhe cortar a cabeça. Um barulho, e ele para. Todos os homens da Caravana olham para o lado da cidade e veem vários soldados moabitas cavalgando em sua direção.
SEGISMUNDO
Aaahhh!!! Que inferno!!! Os moabitas estão vindo! Bater em retirada! Rápido!!!
Os homens abandonam a família de Noemi e voltam aos seus cavalos. Começam a partir. Os soldados chegam ali e interceptam os retardatários. Outros soldados cavalgam atrás dos que foram rapidamente.
Segismundo, Gael, Iago, Besta Louca, Montanha e outros tentam escapar, mas logo os cavalos moabitas ultrapassam os deles e os soldados apontam suas espadas para a Caravana, que é obrigada a parar.
SOLDADO 1
Levem todos! Serão interrogados e julgados pelo rei!
Pouco a pouco, os soldados amarram as mãos de todos os homens da Caravana e os colocam sobre os cavalos moabitas. Um soldado olha para Noemi, Malom e Quiliom sobre o corpo de Elimeleque.
SOLDADO 2
E quanto a eles?
SOLDADO 1
Levem também. Todos serão interrogados.
Malom e Quiliom são retirados à força de sobre Elimeleque e levados aos choros. Logo um soldado arranca Noemi de perto de Elimeleque e a leva.
NOEMI
NÃO!!! NÃO!!! Me deixe!...
Noemi é colocada sobre um cavalo e o cavaleiro parte. Chorando desesperada, ela olha para trás, esticando a mão para o corpo de Elimeleque, cada vez mais longe, cada vez mais distante... IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:
No próximo capítulo: O rei Zylom julga os homens da Caravana e Noemi implora por justiça.

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