A Promessa
CAPÍTULO 65
Último Capítulo
webnovela de
FELIPE LIMA BORGES
escrita por
FELIPE LIMA BORGES
livre adaptação do livro de Rute
Em memória de meus tios Carlindo e Jurandir e de meu avô Osvaldo. Cada um à sua maneira, mas todos crentes incontestáveis do Deus Único.
No capítulo anterior: O Ancião chama Neb para conversar, e esse desabafa dizendo que sentiu o desprezo do povo e que está perdido. Apesar de não crer que exista solução para si, o Ancião lhe convence do contrário, e Neb resolve ir pedir perdão às pessoas. Zylom pergunta ao Capitão se ele tem certeza que vasculhou toda a casa de Leila, e ele confirma dizendo que lá só há Leila e sua filha; Zylom manda ele ir descobrir o nome da garota. O vizinho de Leila revela que é Aylla e Zylom, ao saber, se enfurece. Neb tenta se acertar com o dono, que não acredita nele. Mercadores de escravos chegam ao pomar e tentam levar Neb, o dono, Diana e Jurandir. Josias os enfrenta e consegue salvar os dois últimos, mas Neb e o dono são carregados. Jurandir abraça Josias e desaba a chorar. Noemi executa seu plano caminhando tranquilamente pelo campo. Então a Caravana e Tamires surgem e cercam-na. Tamires se dá por vitoriosa e Segismundo tenta atacar Noemi, mas os soldados aparecem e a Caravana foge. Logo vários são pegos. Gael foge. Iago luta com soldados, vence-os e também escapa. Segismundo e Tamires invadem uma casa para se esconderem. Não aguentando, ele foge pela laje, mas os soldados nas outras casas o perseguem. Uma flecha o atinge de raspão e ele cai. Os soldados o cercam e o prendem. Ele denuncia Tamires e ambos são levados. Um exército incontável surge do horizonte e se aproxima de Moabe por todos os lados. Desesperado, Zylom ordena que o Capitão traga Aylla com a intenção de sacrificá-la aos deuses. Myra chega à loja de Leila e diz que estão vindo atrás de Aylla, que se aflige. Elas tentam fugir, mas os soldados chegam e levam Aylla embora.
FADE IN:
CENA 1: EXT. MOABE – CAMPOS – DIA
Vindo de todas as direções, o absurdamente gigantesco exército amorreu se aproxima de Moabe. Em cada homem, um escudo, uma espada apontada para o alto e um grito.
De repente, o cavaleiro à frente, o rei dos amorreus (filho do antigo rei morto por Zylom há 10 anos), para de cavalgar, faz um sinal e todo o exército, mesmo a parte do outro lado do monte de Moabe, para.
Um silêncio enlouquecedor...
Então ele fala.
REI AMORREU
Há 10 anos, o rei de Moabe, Zylom, de forma vil e covarde, atacou nossas cidades, destruiu nossos lares, matou aqueles que amávamos, e outros... levou como escravos.
Os homens prestam muita atenção.
REI AMORREU
Depois disso, não tivemos forças o suficiente para enfrentarmos nossos algozes e vencê-los. Infelizmente caímos... Infelizmente perdemos. Muitos se lembram, meu pai era o rei!
Vários soldados fazem que sim.
REI AMORREU
Mas nada como o tempo para curar as feridas. Ao longo desses 10 anos fomos obrigados a nos esconder. Mas, nos interiores das cavernas, nós nos organizamos. Ali, onde podíamos ouvir o pulsar dos corações das montanhas, pudemos nos concentrar e planejar nossa volta triunfal, nossa reconquista! Pudemos renascer e crescer, com a esperança de que seríamos incontáveis no dia em que o sol brilhasse novamente sobre nós!
Os homens estão cada vez mais motivados.
REI AMORREU
E agora, meus irmãos, esse dia finalmente chegou! Esta será a batalha de nossas vidas!
Os soldados gritam!
REI AMORREU
Chegou a hora de fazermos justiça! Chegou a hora de Zylom pagar pelos seus crimes!
Todos gritam empunhando suas espadas e balançando seus escudos; um barulho ensurdecedor.
REI AMORREU
ATACAAAAAAR!!!!!!
Então o rei cavalga pela planície, na direção do portão de Moabe. Ao redor, seu exército avança furiosamente. De cima, é uma gigantesca massa escurecendo o solo e sufocando o monte onde a cidade moabita está edificada.
CENA 2: INT. PALÁCIO – SALA DO TRONO – DIA
O Capitão entra na sala trazendo Aylla, angustiada. Ao vê-los, Zylom se levanta de seu trono e, devagar, desce as escadas conforme os dois se aproximam... Encara ela com um sorrisinho.
O Capitão e Aylla param no momento em que Zylom também para, de frente para ela. Aylla o encara num misto de medo e desprezo.
ZYLOM
Você não estava morta?
PÁH! Zylom mete uma bofetada no rosto de Aylla.
ZYLOM
Mortos não sentem dor.
Os olhos de Aylla estão marejados.
ZYLOM
(para o Capitão) Onde está Myra?
CAPITÃO
Nós a vimos na loja de Leila. Parecia estar ajudando-as.
Os músculos da face de Zylom tremem de raiva.
ZYLOM
Outra traidora!!!
Aylla respira ofegante... Zylom então olha para ela, toma-a das mãos do Capitão e sai arrastando-a. Aylla se debate desesperada...
ABERTURA
CENA 3: EXT. BELÉM – PRAÇA – DIA
Os belemitas abrem caminho para os soldados – guiados pelo Comandante - levando Segismundo, Tamires e outros membros da Caravana da Morte com os punhos amarrados. Ao lado do Ancião, Noemi observa-os. Rute vem correndo de algum lugar até Noemi.
RUTE
Senhora! Senhora!... Está tudo bem?!
NOEMI
(acalmando-a) Sim, Rute, não se preocupe. Estou bem.
RUTE
Fiquei muito preocupada quando soube que a senhora estava lá, correndo perigo, por um plano...
NOEMI
Eu mesma apresentei esse plano ao Ancião, Rute. Sabia que Tamires me observava, me perseguia... Era muito óbvio o que ela faria.
Aliviada, Rute abraça Noemi.
Então a solta.
NOEMI
Me desculpe, eu não podia lhe contar, Rute. Sei que não aprovaria.
RUTE
Não mesmo!
Noemi sorri.
NOEMI
Mas graças a Deus deu tudo certo.
Rute faz que sim e elas observam a movimentação. O Ancião aguarda a chegada de todos.
CENA 4: INT. PALÁCIO – QUARTO DO REI – DIA
A porta se abre e Zylom, com Aylla presa em seus braços, entra e fecha a porta.
AYLLA
Me solta! Socorro! Me larga!!! Por que me trouxe aqui?!
ZYLOM
Farei o sacrifício aqui mesmo, é mais alto! Estarei seguro caso essas baratas malditas cheguem!
AYLLA
Me solta!!! Me solta, me deixe em paz!!!
ZYLOM
Não adianta, Aylla. Seu destino é esse. Gritar não servirá de nada!
Zylom a segura firme em seus braços.
CENA 5: EXT. DESERTO – DIA
Agachado na margem de um riacho, Iago enche seu odre. Alguém vem correndo... Iago olha, é Gael, que chega ali e para ofegante.
GAEL
Iago! Ah!... É um alívio encontrar você!... Por muito pouco não fomos pegos...
Iago sorri para Gael cansado, põe-se de pé e bebe do odre.
Depois eles se encaram.
IAGO
Na verdade foi eu que o encontrei.
Gael, estranhando, franze o cenho.
IAGO
Não viu minhas vestes jogadas lá em cima? Meus pertences espalhados naquele lado?
Gale permanece confuso.
IAGO
Eu só o guiei até aqui. Pensou que me encontraria, e encontrou. Só não esperava encontrar também o Assassino, não é?
Iago então pega um tecido escuro entre seus pertences ali no chão e se cobre de qualquer jeito. Pega um máscara de metal e cobre o rosto com ela: a máscara com um semblante de desdém gravado... a máscara do Assassino. Ele a tira da frente do rosto e encara Gael com o mesmo semblante de sua máscara.
De repente, um punhal cai de dentro da manga de Gael para sua mão e ele ataca Iago. Esse rapidamente bloqueia o golpe, segura o braço de Gael e toma o punhal. Gael olha assustado e Iago mete-lhe um soco, fazendo-o cair.
IAGO
Eu esperei muito por isso, Gael. Mas foi um período bom.
Iago, de pé, observa Gael caído.
IAGO
Ver o medo estampado em seus rostos a cada nova vítima que eu fazia. Observar vocês desesperados por seu grupo maldito estar desmoronando pouco a pouco, sem fazerem ideia de onde vinha o golpe.
GAEL
Por quê?...
IAGO
Eu me lembrei de tudo, Gael. (semblante vai mudando) Você matou Maya. (lágrimas brotando) E ela sofreu... morreu sofrendo... sofrendo muito... sendo queimada... E, além de tudo, amarrada... Sem poder nem se mexer...
Gael, caído e aflito, não ousa levantar com Iago de pé sobre ele.
IAGO
Mas com você será um pouco diferente, Gael. Vai sentir seus braços completamente livres, vai poder se mexer... mas será em vão. (pequena pausa) Nada adiantará. E, eu garanto, isso será muito mais sofrido.
GAEL
Estamos cercados! Há vários de nossa Caravana em posição nas árvores ao redor! Dezenas de flechas apontadas para a sua cabeça!
Iago ri.
IAGO
Você é patético. Passou anos fingindo ser meu amigo, mentindo! Podia ao menos morrer com uma verdade.
GAEL
Segismundo!... Foi Segismundo quem mandou!...
Iago sorri minimamente. De repente, mete um soco em Gael e o levanta do chão. Arrasta-o até o riacho, segura a parte de trás de sua cabeça e a enfia na água com toda a sua força. Desesperado, Gael leva suas mãos à perna de Iago e a aperta fortemente. Iago sente a dor, mas resiste enquanto pressiona e mantém a cabeça de Gael dentro da água. Ele se debate, aperta e arranha a perna de Iago, mas em vão; esse continua afogando-o.
Pouco a pouco, seus movimentos diminuem e suas mãos afrouxam na perna de Iago, que o mantém ali até os braços caírem e o corpo ficar mole e completamente imóvel.
Depois, Iago o retira da água, pega sua espada e corta a cabeça.
Satisfeito, observa a cena...
Então pega a máscara do Assassino, encara-a por uns instantes... e a joga ao lado do corpo; vai embora.
CENA 6: EXT. MOABE – MURALHA – DIA
O Capitão caminha pela muralha, passa por seus soldados. Todos observam, um tanto temerosos, o exército colossal se aproximando. Estão prontos para lutarem.
CAPITÃO
Guardem os muros!
De repente, uma nuvem de flechas se levanta da massa escura de amorreus e voa na direção de Moabe. Alguns se abaixam, mas vários soldados moabitas são atingidos e caem mortos.
Os soldados chegam à muralha jogando grandes escadas e subindo por elas. Os primeiros são jogados ou atingidos por flechas moabitas, mas logo muitos outros veem e invadem a muralha.
Homem contra homem, espada contra espada. Os amorreus são muitos, e passam com facilidade pelos soldados na muralha. Logo a batalha se estende para as ruas da cidade.
O exército moabita, espalhado, tenta conter a fúria dos amorreus, mas falha e homem a homem vai morrendo à espada.
CENA 7: INT. CASA DE LEILA – LOJA – DIA
Parada na entrada da loja, Leila vê a batalha se aproximando de sua rua.
LEILA
Me ajude a fechar a loja, Myra!
Myra se aproxima.
MYRA
Espere! Deixe-me sair.
LEILA
Onde você vai?!
MYRA
Salvar Orfa!
LEILA
Myra, é perigoso!
MYRA
Eu posso abrir as celas. Ainda não deve ter se espalhado sobre minha traição.
LEILA
(desesperada) Myra, por favor! Se possível, salve Aylla!
MYRA
(angustiada) Isso é mais difícil... Ela está nas mãos de Zylom...
Leila chora aflita.
MYRA
Ore, Leila! Ore!!! Rogue ao Senhor! Por Aylla, por todos nós!
Imediatamente Myra sai correndo pela rua. Leila rapidamente fecha a loja e se ajoelha para orar.
CENA 8: EXT. MOABE – RUAS – DIA
Parte do exército avança por uma larga rua. O rei amorreu os lidera.
REI AMORREU
Não façam mal à população! Mas acabem com todos os soldados!
Soldados moabitas se aproximam e eles lutam. Os movimentos dos amorreus são rápidos e ágeis, e não têm muita dificuldade para matar os moabitas e continuarem.
CENA 8: INT. PALÁCIO – QUARTO DO REI – DIA
Claramente com medo, Zylom observa as ruas da cidade pela janela de seu quarto. Aylla, do outro lado do cômodo, o olha com os olhos marejados.
AYLLA
Esse é o seu fim...
Ele treme de raiva... Vira para ela.
ZYLOM
Não! (apontando o dedo) Mas o seu, certamente!
Zylom avança contra ela, prende-a em seus braços e, sem soltá-la, começa a acender velas em um pequeno altar que há ali. Aylla grita e tenta se soltar, mas ele a segura com força.
CENA 9: EXT. BELÉM – CAMPO – DIA
Iago, escondido atrás de uma árvore, observa um soldado conduzindo um membro da Caravana para a cidade. Espera ele passar e então avança. Chega devagar por trás, tampa a boca do homem e finca-lhe a espada na costa; cai morto. O membro da Caravana, ao notar Iago, fica feliz, mas ele faz sinal para ele não fazer barulho.
IAGO
Eu tenho um plano. Vou até Belém e resgatarei Segismundo e todos os outros companheiros. Mas preciso da sua ajuda.
MEMBRO
Claro, claro!
IAGO
Cuide o entorno.
Iago então despe o morto e assume a roupa de soldado. Por fim coloca o capacete.
MEMBRO
Ele estava me levando para junto de um grupo de soldados que há ali na frente.
IAGO
Pois vamos para lá.
Iago então segura o homem como se fosse leva-lo preso e vão.
CENA 10: INT. PALÁCIO – PRISÃO – DIA
Os feiticeiros das celas estão num intenso falatório sobre o que está acontecendo na cidade.
MAGO
...uma invasão!
ASTRÓLOGO
Ouvi sobre uma batalha!
BRUXA
Posso ouvir o barulho das espadas daqui!
FEITICEIRA
Se for mesmo uma invasão seguida de batalha, nós estamos correndo perigo! Vocês todos sabem o que fazem com os prisioneiros do reino invadido!...
ASTRÓLOGO
Matam a todos...
FEITICEIRA
Exatamente.
BRUXA
Vamos todos rogar aos nossos deuses que nos protejam! Não percamos tempo, rápido!
Eles começam a se ajoelhar.
ORFA
Não adiantará de nada.
Eles a ignoram e começam a falar com seus deuses. Ela, no entanto, franze o cenho, parece se lembrar de algo...
CENA 11: FLASHBACK: EXT. TEMPLO – PÁTIO – NOITE
Estamos de volta ao segundo encontro de Rute e Malom, e Orfa e Quiliom. Esses dois, sentados, conversam.
ORFA
Quiliom, mesmo estando aqui, em Moabe... Vocês conseguem orar ao seu Deus? Ele pode ouvi-los?
QUILIOM
Não há nada que nosso Senhor não possa fazer, Orfa. E não há um ser humano nesse mundo que Ele não possa ouvir. Basta que a pessoa incline seu coração... com pureza e sinceridade. Não importa se ela está aqui, ou ali, ou longe... Na escuridão das profundezas ou na glória das alturas... Fale com Ele, e Ele te ouvirá. Peça com humildade e sinceridade... e Ele te atenderá.
Orfa escuta atenta... Parece um tanto admirada.
CENA 12: INT. PALÁCIO – PRISÃO – DIA
Um brilho de esperança parece passar pelo rosto pálido de Orfa, e ela sorri. Imediatamente põe-se de joelho, estende as mãos para o alto e fecha os olhos.
ORFA
Senhor Deus de Israel! Único e inigualável! Criador dos céus e da Terra! Todo-poderoso, regente de tudo o que há!
A voz de Orfa sobrepõe às de todos os outros e, pouco a pouco, eles param de orar aos seus deuses e olham para ela, cujos olhos lacrimejam muito.
ORFA
Deus dos hebreus!... Eu não sei falar Contigo!... Mas... nesse lamaçal de angústia... tive o desejo enorme de tentar!
Todos nas outras celas a olham curiosos.
ORFA
Eu sei que por muito tempo tive incontáveis oportunidades de me aproximar de Ti, por meio de Quiliom, por meio de Noemi, e até de Rute!... Mas nunca fiz, eu sei... Porém!... (chora) Porém eu vejo agora o quanto estava errada em não agir!... O quanto eu perdi!... Senhor Deus, eu suplico!: salve-me! (chora) Salve-nos a todos! Eu sei que só Tu podes nos livrar agora...
Orfa abaixa as mãos, abre os olhos e, de joelhos, chora. Todos ali se entreolham curiosos e admirados.
CENA 13: INT. PALÁCIO – CORREDOR – DIA
Myra vem correndo lá de fora. Dá uma última olhada para a barulheira e, apressada, fecha a porta e corre pelo corredor vazio.
CENA 14: INT. PALÁCIO – PRISÃO – DIA
Myra chega à porta da prisão, onde um soldado guarda a entrada, e para quase derrapando. O homem a olha com estranheza e ela tenta assumir a postura de Sumo Sacerdotisa.
GUARDA
Senhora Myra?...
MYRA
Abra.
O homem então vira para a porta para destrancá-la. Myra aproveita para, nesse instante, desembainhar a espada dele e bater em sua cabeça com o cabo. O guarda imediatamente cai desmaiado. Ela, um tanto assustada, abre a porta, pega o molho de chaves e entra.
Ao vê-la, Orfa sorri emocionada. Os outros não entendem. Myra vai até a cela de Orfa e começa a abrir.
ORFA
(emocionada) Eu sabia! Pedi a Deus por isso!
MYRA
Deus me protegeu, Orfa. As ruas estão um caos. O exército dos amorreus é tão grande que quase todos ainda estão do lado de fora da cidade.
Myra abre e elas se abraçam.
FEITICEIRA
Liberte-nos! Por favor!
ASTRÓLOGO
Nos tire daqui!
BRUXA
Eles nos matarão!
Todos eles pedem sem parar para que Myra os solte. Orfa então toma a frente e fala com todos.
ORFA
Vocês acabaram de ver que há Deus em Israel. Um Deus verdadeiro. O único!
FEITICEIRA
Se eu sobreviver hoje, nunca mais servirei a qualquer outro deus.
FEITICEIRA 2
Faço das suas as minhas palavras.
FEITICEIRA 3
Dedicarei minha vida ao Deus Jeová!
BRUXA
Estou com vocês nessa.
ASTRÓLOGO
E eu também!
Praticamente todos ali falam apoiando a ideia. Orfa e Myra sorriem, e essa começa a abrir as celas.
FEITICEIRA
(contente) Finalmente poderei voltar a morar em Hebrom, e não nos arredores!
Todas as celas são abertas e todos saem e ficam ali, felizes e ansiosos.
FEITICEIRA 2
E agora?
BRUXA
Para onde vamos?
FEITICEIRA 3
Como vamos sair daqui?
MYRA
Eu os levarei para a loja de uma amiga. O problema é que é longe daqui... e teremos que passar pela batalha.
Alguns parecem receosos.
ORFA
Mas Deus há de nos proteger, meus amigos!
O ânimo volta e Myra então sai. Todos a seguem rapidamente.
CENA 15: EXT. PALÁCIO – ENTRADA – DIA
O rei amorreu e diversos soldados derrubam moabitas e se aproximam do palácio. Os guardas tentam impedi-los, mas também são derrotados. Os amorreus então se aproximam da porta, onde os dois guardas apontam suas lanças e avançam. Um soldado amorreu vem correndo lá de trás, pula em um escudo segurado estrategicamente por outro, e salta no ar. Ao cair, quebra as duas lanças. Nisso, os outros homens avançam e os matam. Então abrem o portão do palácio e invadem correndo e gritando. O Capitão, que estava ali dentro, não desvia a tempo e é atropelado pela multidão de amorreus.
CENA 16: INT. PALÁCIO – QUARTO DO REI – DIA
Ainda segurando Aylla em seus braços, Zylom termina de preparar as coisas para o sacrifício. Ela, desesperada, começa a orar alto.
AYLLA
Senhor Deus, por favor, me livre desse mal! Salve a minha vida, Senhor! Me ajude, por favor!!!
ZYLOM
Cale a boca!!! Cale a boca, sua maldita!!!
AYLLA
Por favor!!! Salve-me, Senhor!!! Salve-me!!!
Zylom então a vira de frente para ele e mete-lhe uma bofetada no rosto, fazendo-a cair no chão.
ZYLOM
Cale a boca, sua vagabunda!!! Como ousa falar com outro deus diante de mim???!!! Diante dos deuses!!!
AYLLA
(caída) Pode me machucar... Pode me ferir... e até me matar. Mas jamais vai tirar a fé que há em meu coração!
ZYLOM
Ah, é?!
Zylom a agarra, a levanta e aperta seus braços.
ZYLOM
Pois então grite!!! GRITE!!! GRITA, SUA VAGABUNDA!!!
Zylom dá outra bofetada nela.
ZYLOM
GRITA MAIS ALTO!!! VAMOS!!! ALTO!!! FALE COM O SEU DEUS, SUA MALDITA!!!
Outra bofetada.
ZYLOM
GRITA BEM ALTO!!! EU QUERO VER SE O SEU DEUS VAI TE LIVRAR DAS MINHAS MÃOS!!!
PÁH!!! Zylom se assusta. A porta de seu quarto é arrebentada subitamente e vários soldados, liderados pelo rei amorreu, entram ali. Rapidamente Zylom pega uma espada e a coloca no pescoço de Aylla, de novo presa em seus braços. O rei amorreu entra no quarto apontando a espada para Zylom.
REI AMORREU
Solte a garota!
Assustado, Zylom o encara.
CENA 17: EXT. BELÉM – PRAÇA – DIA
Segismundo, Tamires e outros membros, além de Abimael, aguardam ali, cercados pelos soldados. Novos capturados chegam, e Segismundo parece estranhar algo. Olha bem para um dos soldados... Franze o cenho... Percebe que é Iago.
Iago, ao notar Segismundo olhando para ele, pisca com cumplicidade, e Segismundo sorri satisfeito.
O Comandante se aproxima do Ancião.
COMANDANTE
Agora faltam poucos. Alguns conseguiram ir longe... Mas já foram pegos.
ANCIÃO
Ótimo.
Discretamente, Segismundo observa Iago disfarçado de soldado.
CENA 18: EXT. MOABE – RUAS – DIA
A batalha é intensa! Golpes, cortes, gritos, violência, sangue! Caos para todos os lados!
Em uma das ruas, Myra, Orfa e os feiticeiros correm por entre os soldados moabitas e amorreus. Desviam o tempo todo de grupos de conflitos, de duelos e tudo o mais que há ali. Alguém é obrigado a se abaixar por causa de uma flecha. No entanto, nada acontece a nenhum deles, que continuam a correr.
CENA 19: INT. PALÁCIO – QUARTO DO REI – DIA
O rei amorreu e outros soldados apontam as espadas para Zylom, que mantém Aylla como refém.
REI AMORREU
Você está cercado, Zylom! Solte a garota!
Percebendo que não tem saída, Zylom grita! Grita, berra de raiva! Afrouxa as mãos e Aylla aproveita pra se desvencilhar dele. Os soldados rapidamente a protegem, e outros avançam e prendem Zylom. O rei amorreu olha para Aylla.
REI AMORREU
Quem é você?
AYLLA
(assustada) Apenas uma plebeia... Ele queria me sacrificar...
O rei olha para Zylom, contido pelos soldados.
REI AMORREU
Vamos.
Os soldados levam Zylom, que deixa um último olhar em Aylla.
REI AMORREU
Ele pagará por seus crimes.
CENA 20: EXT. CASA DE LEILA – FRENTE – DIA
Myra, Orfa e os outros vêm correndo pela rua e param na entrada da loja.
FEITICEIRA
A batalha... Parece que acabou...
ORFA
Viram, meus amigos?! Viram só?! Passamos por tudo isso e nenhum mal nos aconteceu!
Todos eles fazem que sim sorrindo maravilhados.
FEITICEIRA 2
Ainda mal consigo acreditar que estamos vivos...
Myra bate na porta da loja de Leila.
MYRA
Leila! Leila! Abre, por favor! Somos nós!
A porta então se abre e Leila sai para fora.
LEILA
Graças a Deus vocês estão bem!
Leila e Orfa se abraçam.
LEILA
Senti tanto sua falta, Orfa...
Orfa sorri.
LEILA
E quem são eles?
ORFA
Feiticeiros, magos e astrólogos que descobriram o poder do Deus de Israel!
Leila sorri.
LEILA
Mas uma angústia ainda aperta o meu peito... Aylla...
Eles todos ficam ali por um tempo... até que, lá de cima, uma figura vem correndo a toda velocidade: Aylla. Leila sorri de orelha a orelha e abraça a filha com toda sua força.
LEILA
Minha filha! Graças a Deus, graças a Deus!
AYLLA
O Senhor nos salvou, mãe!
Leila beija o rosto da filha várias vezes.
FEITICEIRA
Vamos aproveitar essa aparente calmaria para cada um voltar à sua terra...
Orfa, Myra, Leila e Aylla olham para eles.
FEITICEIRA 3
Nunca mais deixaremos de apregoar a bondade do Senhor Deus!
ASTRÓLOGO
Todo o meu povo saberá que há Deus em Israel!
TODOS
Adeus!
Rapidamente, todos ali correm na direção da saída da cidade.
ORFA
Esperem! Ao menos diga-nos o nome de vocês!
No entanto, na ânsia de irem embora, eles se distanciam rapidamente, a não ser duas feiticeiras, que param e olham para elas.
FEITICEIRA 2
Eu sou Riane.
FEITICEIRA 3
E eu Rielle.
RIANE
Somos irmãs.
RIELLE
Da terra de Edom! Nunca ouviu falar de nós?
MYRA
Infelizmente não.
ORFA
Mas agora jamais as esqueceremos.
RIANE
Temos um irmão chamado Diego.
MYRA
Esperem! Diego, o leitor?!
RIELLE
Ele mesmo!
RIANE
Não há uma obra de nosso reino que Diego não leu!
MYRA
Eu sei quem é Diego! Conhecido por comentar todas as obras aos respectivos autores...
RIELLE
Os autores de nosso reino o amam por isso.
MYRA
Mandem minhas saudações ao irmão de vocês, Riane e Rielle.
RIELLE
Mandaremos.
RIANE
Pode deixar.
RIANE, RIELLE
Adeus!
MYRA, ORFA, LEILA, AYLLA
Shalom!
RIANE, RIELLE
Shalom!
As duas viram e saem correndo. Myra, Orfa, Leila e Aylla ficam ali, contentes.
Mais tarde...
O rei amorreu e os soldados passam por ali conduzindo Zylom com os punhos amarrados. Ele deixa um olhar de rancor para Myra e Aylla, que o encaram sérias.
CENA 21: EXT. MOABE – DESERTO – DIA
Vários soldados estão ao redor do rei amorreu e de Zylom, ainda preso, ambos à beira de uma ribanceira.
REI AMORREU
Você destruiu minha família e meus amigos... de uma forma que rei algum faz.
ZYLOM
Você não sabe de nada.
REI AMORREU
Sei que você foi julgado e condenado.
Zylom então faz barulho com o nariz em ar de zombaria.
ZYLOM
Você acha que uma forca é capaz de me matar?
Imediatamente o rei amorreu empurra Zylom, que cai pela ribanceira e rola batendo nas pedras e levantando poeira. Ele só para lá embaixo, machucado, de barriga para cima e olhando para o rei e os soldados.
Um homem entrega um arco e uma flecha para o rei amorreu, que ajeita e mira em Zylom, cujos olhos arregalam um pouco.
REI AMORREU
Covarde!
E solta a flecha, que viaja e crava certeiramente na barriga de Zylom.
Dali de cima, todos o observam agonizar e morrer.
CENA 22: EXT. DESERTO – DIA
No meio do deserto, um grupo de mercadores aguarda ao lado de uma fileira de escravos, unidos por uma corda que amarra suas mãos e segue para o próximo atrás. A maioria homens, cansados, machucados, fracos...
As carroças dos outros mercadores, que levam Neb e o dono, chegam ali e eles os descem.
MERCADOR 1
Junte-os aos outros!
Os mercadores seguram firmes seus chicotes. Dois deles puxam Neb e o dono e amarram suas mãos com a corda da fileira.
NEB
Senhor, por favor, tenha piedade desse homem! Olhe a idade dele--
Neb é interrompido com um soco no rosto e cai para trás. O mercador o levanta com rispidez.
MERCADOR 2
Cala a boca, seu imbecil!
E mete-lhe três chicotadas na costa. E depois também no dono, que cai de joelhos.
MERCADOR 1
Vamos!
A fila começa a andar, mas o dono não se levanta a tempo e é arrastado.
NEB
Deixe-me ajuda-lo, senhor. Precisamos levantar!
Mas um deles percebe e se aproxima com o chicote.
MERCADOR 2
Vai fazer corpo mole, velhote?!
Uma e outra chicotada.
NEB
Calma, senhor! Calma, eu ajudarei meu companheiro! (para o dono) Vamos, senhor, segure no meu braço.
Com dificuldade, o dono segura o braço de Neb e se levanta.
MERCADOR 1
Vamos!!! Andando!!!
E a fileira de escravos é levada.
CENA 23: EXT. BELÉM – PRAÇA – DIA
Enquanto os soldados e os membros da Caravana aguardam na praça, os belemitas ao redor também esperam pela resolução. Entre eles, Jurandir e Diana estão de frente para Josias.
JURANDIR
Eu... agradeço por ter aceitado falar comigo, Josias.
Josias faz que sim.
JURANDIR
Eu fui um tolo. Um completo tolo. Apesar da minha idade, não aprendi nada.
Josias mantém os olhos em Jurandir, que se esforça para falar.
JURANDIR
Eu o julguei por meio de preconceitos... Mas agora vejo o quão tolo fui.
Diana parece muito contente e aliviada pela atitude do pai que, de repente, ajoelha diante de Josias, que fica confuso.
JURANDIR
Obrigado! Obrigado, Josias, por ter salvo minha vida e a de minha filha! Obrigado!
JOSIAS
Senhor...
JURANDIR
E peço encarecidamente que me perdoe! Perdão, Josias, perdão! Sou um velho tolo, nem pedir perdão eu sei...
JOSIAS
(tocado) Levante-se, senhor Jurandir...
Jurandir se levanta. Josias, fitando-o nos olhos, sorri e o abraça. Diana também sorri e limpa uma lágrima.
JOSIAS
Eu te perdoo.
Emocionado, Jurandir derrama lágrimas...
Então se soltam.
JOSIAS
Agora nossas famílias podem acabar com o conflito.
Jurandir faz que sim energicamente.
JURANDIR
Pois então que seja por meio de uma união!
Diana, interessadíssima, se aproxima mais.
DIANA
Meu pai... o senhor está dizendo... de meu casamento com Josias?
JURANDIR
Sim... Sim.
Diana sorri para Josias de orelha a orelha.
JURANDIR
Não quero ser um entrave. Vocês têm minha autorização, minha bênção... seu direito. Que casem no amor do Senhor e sejam felizes.
Tremendamente contentes, Josias e Diana se abraçam fortemente enquanto Jurandir limpa as lágrimas de seu rosto.
DIANA
Eu nem acredito que isso está mesmo acontecendo!
JOSIAS
Vejam, o Ancião vai falar...
Então, juntos, eles se aproximam de onde estão Noemi, Rute, Boaz e Tani, que olha simpática para Diana e Josias, mas com olhar feio para Jurandir.
DIANA
(para Tani) Você vai querer falar com o meu pai depois.
Tani estranha, dá uma olhada para Jurandir, olha para Diana sorridente e de volta para o Ancião.
ANCIÃO
Povo de Belém!!!
A praça silencia.
ANCIÃO
Como podem ver, finalmente capturamos o chefe do grupo criminoso foragido há 10 anos! Eis aqui Segismundo!
O povo vaia...
ANCIÃO
Agora!... Agora todos os capturados serão encaminhados a Hebrom para serem julgados. Conhecedor das leis que sou, acredito que, pela gravidade dos crimes que cometeram, serão condenados ao apedrejamento ou à prisão perpétua.
Burburinho entre o povo.
ANCIÃO
As carroças que os levarão já estão na porta da cidade. Agradeço pelas orações e pelo empenho de todo o povo! Graças ao bom Deus, finalmente o pesadelo chegou ao fim. Agora, que os soldados os encaminhem às carroças. Um de cada vez, por razões de segurança.
Então um soldado pega um homem da Caravana e o leva dali. Depois de um espaço de tempo, vai outro. Depois, Tamires é pega. Ao passar pelo povo, ela sorri para Noemi.
TANI
Que mulherzinha...
E vai. Então um soldado se mexe intentando se aproximar de Segismundo, mas Iago, disfarçado, é mais rápido e entra na frente. Finge ficar confuso, mas o Ancião faz sinal.
ANCIÃO
(para Iago) Vá você mesmo, está mais perto.
Iago então se aproxima de Segismundo e o guia para fora da praça. O povo olha para Segismundo com raiva e desprezo. Eles caminham, caminham, se distanciando da praça...
SEGISMUNDO
(sussurrando) Ideia genial a sua, Iago! Vou recompensá-lo por isso! Agora vamos... Lá fora a gente foge, sem os outros, mesmo. Só precisamos encontrar Gael... Estou preocupado com ele.
IAGO
Gael está morto.
Por uns instantes, Segismundo caminha em silêncio.
IAGO
O Assassino o matou. (pequena pausa) Eu o matei.
Segismundo dá uma olhada confusa para Iago.
SEGISMUNDO
Do que está falando?!
IAGO
Eu me lembrei de tudo. Descobri a verdade sobre Maya e então decidi acabar com a Caravana. Foi um prazer imenso fazer isso aos poucos, com o terror aumentando em vocês a cada novo ataque.
Segismundo, apesar de continuar a caminhar, está preocupadíssimo.
IAGO
Gael me contou que foi você o mandante, isso pouco antes de eu sentir o maior prazer da minha vida ao mata-lo.
Sem escolha, Segismundo continua sendo levado pelo soldado Iago.
SEGISMUNDO
Lá fora cuidarei de você.
IAGO
Não haverá “lá fora” para você.
De repente, Iago saca seu punhal e o finca com toda sua força em Segismundo, cujos olhos, fixos em Iago, se arregalam.
IAGO
(raivoso) Isso... foi por Maya.
Na praça, todos estranham eles pararem.
ANCIÃO
Por que pararam?... Estão de frente... Conversando?!
Então Iago arranca o punhal cravado, segura-o ainda mais firme e enfia de novo nas entranhas de Segismundo, que, de tanta dor, abre a boca mas não emite som.
IAGO
E isso é pelo meu filho!
Iago torce o punhal cravado em Segismundo, que então berra de dor.
COMANDANTE
Retaliação!... Detenham aquele soldado!!!
Dois arqueiros imediatamente miram em Iago que, a tempo, vira o corpo de Segismundo para se proteger com ele. Uma, duas, três flechas cravam na costa de Segismundo, que desaba pesadamente na rua. Desprotegido, Iago olha para a praça quando uma flecha o atinge no peito. Ele desequilibra e cai.
Expira... e morre.
Ao lado, Segismundo, cuspindo sangue, encara Iago morto... Ele tosse, agoniza... Percebe os soldados se aproximando ao redor e os cercando...
Então morre.
O povo ao redor está agitado e aflito...
CENA 24: EXT. DESERTO – DIA
Os mercadores continuam levando a fileira de escravos pela imensidão do deserto. Chicotadas, gritos...
Neb percebe que o dono está fraco.
NEB
(para um mercador) Senhor! Senhor!... Por favor, imploro que dê um pouco de água para ele... Está fraco, não poderá continuar assim!...
Os mercadores gargalham do pedido de Neb.
MERCADOR 2
Querem água, é?
Ele pega um odre cheio de água.
NEB
Por favor... Dê um pouco que seja a ele...
O mercador então vira o odre em sua boca e bebe, bebe muito. Depois levanta o recipiente e deixa a água cair em seu rosto. Refresca-se com ela.
MERCADOR 2
Delícia!
Neb o observa. O mercador vira o odre para o chão e derrama toda a água que restava. O dono e outros escravos se abaixam rapidamente para tentar beber o líquido antes que infiltre. O mercador então pega seu chicote e começa a bater na costa de todos eles.
MERCADOR 2
Malditos!!! De pé, de pé, de pé!!!
Neb ajuda o dono e alguns outros a se levantarem para seguirem.
MERCADOR 2
Andando, agora!!! Não vai ter água para ninguém não!!! Rápido, andando!!!
Neb, exausto pelo esforço físico e pelo sol sobre suas cabeças, continua junto aos outros.
CENA 25: EXT. BELÉM – RUA – DIA
Soldados impedem que os belemitas se aproximam. Ali, o Ancião e o Comandante observam Segismundo e Iago, vestido como soldado, mortos.
COMANDANTE
É mesmo Iago, um dos foragidos da Caravana.
ANCIÃO
(com pesar) Eu me lembro dele. Conheço-o desde jovem.
COMANDANTE
Vou mandar que preparem tudo para serem sepultados.
ANCIÃO
Não são dignos das honrarias de um sepultamento comum. Mas façam o que for preciso.
O Comandante faz que sim e o Ancião se encaminha para a entrada da cidade, para onde Noemi, Rute e Boaz estão indo.
CENA 26: EXT. BELÉM – ENTRADA – DIA
O Ancião alcança os três.
ANCIÃO
Noemi... O que está fazendo aqui?
Noemi olha para as carroças paradas lá fora, cercadas de soldados. Mais precisamente para a carroça onde está Tamires.
NOEMI
Senhor... Apenas um momento. Só isso que eu preciso.
O Ancião olha para Tamires e respira fundo.
BOAZ
Noemi... Você tem certeza? Pode ser perigoso.
RUTE
A senhora já se arriscou muito com aquele seu plano.
NOEMI
Eu preciso.
ANCIÃO
Tudo bem. Os soldados ficarão atentos.
O Ancião então abre caminho e Noemi, sob os olhares preocupados de Boaz e Rute, se aproxima da carroça e para, no lado de fora, olhando para Tamires. Os soldados ficam ao redor.
Noemi então sobe na carroça, se senta ao lado de Tamires e fica olhando para frente.
TAMIRES
Sabe qual foi um dos dias mais felizes da minha vida, Noemi?
Noemi olha para ela.
TAMIRES
Foi o dia em que você voltou para Belém, e eu descobri que, além de viúva, você havia perdido seus dois filhos.
Noemi tenta disfarçar seu choque diante de tanta frieza e maldade.
NOEMI
Aonde foi que o seu preconceito, essa sua raiva, sua revolta te levaram, hein, Tamires?
TAMIRES
Me levaram à conquista de grandes coisas. Mais do que você jamais teve!
NOEMI
Você está acabada.
Tamires a fita nos olhos.
NOEMI
Daqui a poucos dias você estará morta por apedrejamento ou presa em uma cela pelo resto de sua vida, e isso não é bom, Tamires!
TAMIRES
Rum, até parece que ficarei lá.
Noemi a olha com o cenho franzido.
TAMIRES
De uma forma ou de outra, vou sair. Ficarei livre novamente.
Noemi respira fundo.
NOEMI
Você matou Elimeleque, meu marido. Tentou matar meus filhos... (se ajeita, mais próxima) Mas você não vai me matar.
Tamires olha fixamente para ela.
NOEMI
(um tanto emocionada) Sabe por quê? Depois de tudo pelo que passei, toda a dor, todo o sofrimento... Deus reservou agora um tempo de prosperidade na minha vida. Tempo de alento. Eu tenho Rute, a bênção que qualquer mãe gostaria de ter, e eu a amo muito! Em breve terei um neto... Estou na minha cidade... com o meu povo...
Tamires permanece quieta.
NOEMI
Até nunca mais, Tamires. Shalom.
Noemi então desce da carroça e Tamires, sozinha, fala.
TAMIRES
Shalom.
Noemi volta para junto de Rute, Boaz, Ancião e agora Tani. Essa abraça sua amiga.
Mais tarde, todos os membros da Caravana são colocados nas carroças, e essas saem da cidade rumo aos campos. Nisso, Jurandir olha para Tani e sorri. Josias e Diana ficam de mãos dadas. Boaz abraça Rute ao seu lado.
RUTE
(para Noemi) Agora está tudo bem, mãe.
Noemi não entende e parece sentir um baque...
NOEMI
O que foi que disse?... “Mãe”?...
RUTE
(sorrindo) Mãe.
Emocionada, Noemi tampa a boca e limpa uma lágrima.
NOEMI
Desculpe-me, Rute, é que... Há muito tempo não ouço isso.
Também emocionada, Rute abraça Noemi, e todos ficam ali, parados na entrada de Belém.
CENA 27: EXT. MOABE – PALÁCIO – ENTRADA – DIA
A população moabita está de frente para a entrada do palácio onde, montado em seu cavalo, o rei amorreu, com seus líderes ao redor, fala com eles.
REI AMORREU
Acaba aqui a era de injustiça, de desprezo, de descaso, de autoritarismo! Agora Moabe é território amorreu! Agora!... terão um governo de verdade! Calcado em lutas justas e honradas! Com aproximação maior entre eu e vocês! E terão liberdade para praticarem seus cultos religiosos conforme queiram, seja lá a que deus sirvam!
O povo parece satisfeito e alegre.
REI AMORREU
Acaba aqui a era da miséria! E começa a era da prosperidade! Viva Moabe!!!
POVO
Viva!!!
O povo grita em comemoração. Leila, Aylla, Myra e Orfa se entreolham alegres.
CENA 28: EXT. CASA DE NOEMI – FRENTE – DIA
Os dias se passam...
Boaz trouxe uma carta para Noemi, que a leu.
NOEMI
(contente) É de Leila.
BOAZ
Como ela está?
NOEMI
Ela diz aqui que vão esperar um tempo para ver como será esse novo governo, mas estão pensando seriamente em se mudarem para Israel, mesmo com as coisas tendo melhorado em Moabe.
BOAZ
Ela virem para cá? Isso é muito bom.
NOEMI
Ela diz que o novo rei é bondoso, gentil e é mais receptivo aos estrangeiros. Minha nora Orfa e a Aylla estão se recuperando de tudo o que aconteceu por lá... mas estão se dando bem. Leila sente que, com Orfa, ganhou uma nova filha.
BOAZ
Pra quem, até pouco tempo, não tinha nenhuma...
NOEMI
(sorrindo) Pois é. E Myra está preparando seu projeto relacionado às crianças. Quer fazer o melhor possível.
BOAZ
Que maravilha. Elas estão todas bem, então.
NOEMI
(sorrindo) O Senhor está com elas.
Boaz faz que sim.
NOEMI
Agora, Boaz, não perca mais tempo, ahn? Vá, vá se preparar! Logo mais é o seu casamento, homem! E nem pense em entrar! Rute, Diana e Tani estão se arrumando! Você só poderá ver Rute na festa, rum.
Boaz ri.
BOAZ
Tudo bem, eu vou indo, então. Nós homens levamos menos da metade do tempo que vocês levam, mas ainda assim é trabalhoso. Shalom!
NOEMI
Shalom, Boaz.
Boaz sai animado e Noemi, contente com a carta, entra em casa.
CENA 29: EXT. DESERTO – DIA
Todos os escravos estão sentados na areia, com as mãos ainda amarradas. Comem uma pequena porção grudenta que os mercadores lhes distribuíram.
Neb, ao lado do dono, respira cansado e fala baixo.
NEB
O que vamos fazer?...
DONO
Não tem o que fazer, Neb... Não somos nada... nada contra eles. Aceite... Nosso destino está selado.
NEB
Não, não, não!... Isso não está certo, não pode ser assim! O povo de Deus não nasceu para ser escravizado!
O dono está fraco demais para discutir.
NEB
Éramos escravos no Egito e Deus nos tirou de lá. Não será agora que voltaremos a ser!
DONO
E o que pretende fazer?
Neb respira fundo, olha para os mercadores (alguns comem, outros cuidam os escravos) e olha para o dono.
NEB
O senhor confia em Deus?
DONO
(dando de ombros) É o nosso Deus.
NEB
Mas o senhor confia verdadeiramente, de coração, e não apenas por costume?
O dono parece pensar...
DONO
Nesses últimos dias, nessas condições... eu tenho buscado mais a Ele.
NEB
Ótimo! Pois então clame!
DONO
Clamar? Por quê?...
NEB
Apenas clame, senhor.
Sem entender direito, o dono pensa um pouco e fecha os olhos. Neb olha para os mercadores, as carroças em volta, para seus punhos amarrados... E se lembra de algo.
CENA 30: FLASHBACK: INT. BELÉM – TEMPLO – PÁTIO – DIA
Neb e o Ancião conversam ali no pátio do templo.
ANCIÃO
Neb, mas preste atenção: não desista desse propósito! Se você tiver fé, nada lhe será impossível, tudo poderá alcançar. Mas precisa ter essa fé guardada no coração. E aí... até os montes poderá transportar.
CENA 31: EXT. DESERTO – DIA
Neb sorri minimamente. Mas então se concentra, fecha os olhos, e faz força para romper as grossas cordas que apertam seus pulsos...
NEB
Senhor, me dê forças para salvar meus irmãos e fazer justiça! Honre o teu servo!
O dono então olha para Neb, que esforça as mãos, esforça, esforça!...
Um mercador percebe e chama outro, que chama os outros. Todos assistem e gargalham. Apontam Neb com zombaria.
MERCADOR 1
Homens 3 vezes maiores que você já tentaram romper essas cordas, e só o que ganharam foi chicotada e falta de água!
Eles gargalham enquanto Neb usa toda a sua força para romper as cordas ao mesmo tempo em que clama ao Senhor balbuciando.
MERCADOR 2
Chega de brincadeira! Vou dar uma lição nesse vagabundo!
Então o mercador pega seu chicote e vai na direção de Neb... Mas CRÁC! Os olhos de Neb abrem arregalados. O mercador paralisa.
Tela escura.
Tela escura...
FADE IN:
O céu... O tranquilo azul do céu...
De repente, lá em cima, um homem cruza o céu azul gritando desesperado. Foi arremessado pelos ares...
Cai pesadamente na areia lá na frente. Assustados, todos os mercadores olham para quem o jogou: Neb, de pé e com as cordas arrebentadas. O dono e os outros escravos sorriem maravilhados. Furiosos, três mercadores avançam contra ele; Neb os encara.
NEB
Pelo Deus de Israel!
Sem muito esforço, Neb faz um voar longe com um soco, arremessa outro com um empurrão e chuta o terceiro no peito, que voa para trás, bate na carroça e cai desacordado.
Impressionado, ele olha para as próprias mãos, e sorri.
Mais mercadores se aproximam para linchá-lo, mas ele é imune aos socos! Agarra uns e os atira para longe, e outros joga-os no chão e os chuta, fazendo-os rolar na areia.
Os escravos estão maravilhados. Vendo que mais mercadores estão vindo, e outros se levantando para ataca-lo novamente, Neb vai até uma carroça, arranca uma tora de madeira como se fosse de papel, e a segura pronto para usá-la. Os homens se aproximam, e ele bate neles com a tora: três voam para trás. Outros quatro vêm, mas vão parar a metros dali com o golpe da tora.
DONO
Louvado seja o Senhor!
NEB
Cuidado, fiquem abaixados!
Os mercadores restantes e outros que se levantam se ajuntam e olham para ele com ódio mortal. São muitos. Neb então caminha vagarosamente para trás de uma carroça lotada de coisas. Os mercadores não desconfiam. Então eles gritam com toda sua força e vêm correndo, a toda velocidade! Neb coloca suas mãos na carroça e... com um forte impulso, arremessa o veículo pesadíssimo! Ela sai arrastando pela areia a toda velocidade e pega aqueles homens em cheio. Todos são atropelados e interrompidos.
Os escravos, quase não crendo no que presenciam, se levantam felizes! Nenhum mercador ali está de pé.
DONO
Neb! Mas o que é isso?! Que força é essa???!!!
NEB
É a força de Deus! (para todos) É a força de Deus!!! Pela fé!!!
DONO
Empurre essa outra!
Neb põe a mão em outra carroça e tenta empurrá-la da mesma forma... nada. Nem se mexe.
NEB
Só serviu para aquele momento! Deus não correria o risco de entregar tanto poder a mim! Serviu, e agora estamos livres! Todos vocês estão livres!
Neb sai desamarrando a todos, que se abraçam felizes.
DONO
E agora?
Neb pega nos ombros do dono.
NEB
(sorrindo) É hora de voltarmos para casa!
O dono sorri satisfeito e eles se juntam aos outros.
CENA 31: EXT. BELÉM – ARREDORES – NOITE
Todo o povo de Belém está reunido ali, de frente para a tenda onde o Ancião discursa para os três casais: Tani e Jurandir, Diana e Josias, e Rute e Boaz. Cada noiva com um penteado diferente e vestes belíssimas! Na fileira da frente do povo, Noemi sorri irradiante.
Depois do vinho e das palavras proferidas, Tani dá as sete voltas ao redor de Jurandir. Após, o Ancião os declara casados. Os dois trocam um suave beijo e o povo grita em comemoração.
Depois, Diana e Josias terminam de beber o cálice e ela o rodeia por sete vezes. Por fim, o Ancião os casa. Ambos sorriem um para o outro e se beijam. Todos aplaudem e gritam.
Então o Ancião olha para Rute e Boaz e entrega o cálice a ele.
BOAZ
(olhando Rute com doçura) De acordo com as leis de Moisés e Israel, você é consagrada a mim.
E toma o vinho. Então Rute pega a taça.
RUTE
(fitando-o apaixonada e emocionada) Eu pertenço ao meu amado, e o meu amado me pertence.
Rute bebe o vinho e entrega para o Ancião. Então ela dá as sete voltas ao redor de Boaz. A cada volta seus olhares se cruzam e um sorriso escapa. Então Rute para de frente para o Ancião.
ANCIÃO
Se nem o vento pode decidir para onde a semente vai seguir, também não pode o homem traçar seu destino com absoluto controle. Poderia Rute, em seus tempos de moabita, imaginar que um dia estaria aqui, se casando?
Rute sorri, emocionada.
ANCIÃO
Povo de Belém! Eu declaro Boaz e Rute, marido e mulher. Os noivos podem se beijar.
Boaz e Rute se aproximam e trocam um delicado beijo. Noemi puxa o coro de gritos e palmas!
Então os três casais olham para o povo e se aproximam levantando os braços em comemoração. Flores e cereais são jogados neles e colorem o ar, mas não ofuscam os semblantes de pura felicidade dos recém-casados.
CENA 32: EXT. BELÉM – PLANTAÇÃO DE BOAZ – PÔR DO SOL
Em outro dia, Rute e Boaz caminham de mãos dadas. Suas mãos livres passam sentindo a plantação de trigo e cevada. Os dois se olham apaixonados e felizes. Então param e, abraçados, observam o sol sumindo no horizonte.
CENA 33: EXT. PENHASCO – DIA
Dias depois, Noemi caminha tranquilamente pelo mesmo penhasco onde, 35 anos atrás, o anjo apareceu, lhe salvou e lhe fez a Promessa.
NOEMI
Onde tudo começou...
Próxima da borda onde havia escorregado, ela para e observa o local. Então se ajoelha e fecha os olhos.
NOEMI
Meu Senhor... Por muito tempo pensei que jamais encontraria paz novamente. Mas agora... eu sei que estás comigo. Sempre esteve. (sorri) Sou muito grata pelo conforto... Por ter curado o meu coração com paciência. Foi paciente comigo... até eu entender o porquê de tudo.
Alguns metros atrás de Noemi, sem ela notar, uma figura de luz desce do céu e toca o chão com os pés.
NOEMI
Agora eu estou em paz. Sei que, no tempo certo, reencontrarei Elimeleque, Malom e Quiliom. (pequena pausa) Estou em paz.
Contente, Noemi se levanta olhando para o céu, sorri e respira fundo.
Então vira para ir embora... Paralisa! Sua boca se abre ao ver o anjo, e imediatamente ela se prostra e cola a testa no chão. De repente, o anjo já está bem à sua frente.
ANJO
Por meio da criança que nascerá, alcançarás ainda mais alegria que a de agora. Esta será uma linhagem abençoada.
NOEMI
(chorosa) Obrigada, obrigada, obrigada!!!
O anjo então começa a subir devagar pelo ar, de volta ao céu. Nesse momento, Rute, à procura de Noemi, chega por ali. Ao ver o anjo, ela paralisa impressionada! Ainda no ar e subindo, o anjo vira um pouco na direção de Rute e aponta a palma da mão para ela. Um vento a atinge e seus cabelos balançam bastante. Sorrindo emocionada, ela se inclina diante dele.
E o anjo some.
Rute olha... Extasiada, se levanta e corre até Noemi.
RUTE
Mãe!!! Mãe! Eu o vi, mãe! Eu vi o anjo!!!
Tremendamente alegres e emocionadas, Noemi e Rute se abraçam e seus olhos lacrimejam.
CENA 34: INT. CASA DE BOAZ – SALA – DIA
O tempo passa...
E Rute engravida. Ela e Boaz ficam ansiosos e felizes durante a gestação.
CENA 35: INT. CASA DE BOAZ – QUARTO DE RUTE E BOAZ – DIA
Deitada e suada, Rute se esforça para parir seu filho. Várias parteiras em volta. Noemi segura sua mão e Tani segura a outra.
Boaz, do lado de fora, aguarda aflito.
Rute faz tremenda força... até que, finalmente, as parteiras tiram o bebê.
PARTEIRA
É um menino!
RUTE
Ele não está chorando! Ele não está chorando!!!
NOEMI
Calma, Rute, fique calma!
RUTE
Meu filho!!! Chore, meu filho!!!
Então o bebê finalmente chora.
PARTEIRA
Pronto...
RUTE
Não chore, meu filho! A mamãe está aqui...
Noemi ri e Rute pega seu filho.
NOEMI
Vai ficar tudo bem, Rute.
Mais tarde, Noemi, Tani, Jurandir, Diana, Josias e outras vizinhas de Noemi e de Rute já estão ali no quarto, ao redor de Rute com o bebê.
TANI
(para Noemi) Bendito seja o Senhor, que não deixou de te dar mais essa bênção!
NOEMI
Amém!
TANI
Que o nome desse menino seja famoso em Israel!
DIANA
Qual será o nome dele?
RUTE
Bom, Boaz e eu... não pensamos...
BOAZ
Não conseguimos decidir nenhum.
JOSIAS
É bom pensarem em um logo.
JURANDIR
Vamos dar algumas ideias.
Boaz pega o filho no colo. Tani olha para Noemi, que observa emocionada o seu neto.
TANI
Noemi...
Noemi olha para ela.
TANI
Esse menino será um consolo para a sua alma, e conservará a sua velhice... quando essa chegar.
Elas riem.
TANI
E eu tenho certeza disso porque ele é filho de Rute, sua nora que tanto te ama. E, para ser sincera, ela é melhor para você do que sete filhos.
Noemi levanta as sobrancelhas e faz que sim devagar.
NOEMI
Você tem razão, Tani.
Elas olham para Rute, que ainda tenta decidir o nome do filho com Boaz. Nesse instante, uma vizinha surda abre caminho e entra no quarto.
VIZINHA
Que que está acontecendo aqui?
MULHER
A Noemi—-
VIZINHA
(interrompendo) Quê???!!!
MULHER
A Noemi nasceu um filho!
VIZINHA
Ah! E qual é o nome do menino?!
RUTE
Ainda não decidimos...
VIZINHA
Como não decidiram?! No meu tempo as mães davam o nome assim que descobriam que estavam grávidas! Essas moças de hoje em dia, hein...
BOAZ
(sorrindo) Agradecemos sugestões, minha senhora.
VIZINHA
Quem falou?!
BOAZ
Aqui, eu! Se a senhora quiser sugerir um nome, fique à vontade!
VIZINHA
Mas que sugerir o quê! Vou é dar um nome a ele.
Diana e Josias tentam conter o riso.
VIZINHA
Coloquem o nome de Obede!
RUTE
Obede...
BOAZ
Obede...
RUTE
Eu gostei!
Todos ali se alegram.
NOEMI
Obede... Meu neto amado.
JURANDIR
A velha tem bom gosto...
VIZINHA
Eu ouvi! Eu ouço tudo, viu?! Velho é você!!!
Todos riem.
Boaz entrega Obede para Rute e fica ao lado dela. Sorridentes, os dois admiram o filho... sorriem um para o outro e trocam um beijo.
CENA 36: INT. CASA DE BOAZ – SALA – DIA
Conforme os dias passam, Noemi passa bastante tempo com Obede. Brinca com ele em seu colo, cantarola...
Em determinado dia, enquanto Rute faz a comida, Boaz chega em casa.
BOAZ
Amor... Shalom!
RUTE
Shalom, meu amor!
Eles se beijam.
BOAZ
E Obede?
RUTE
Noemi levou ele para passear.
CENA 37: EXT. BELÉM – RUA – DIA
Rute e Boaz caminham pela rua quando avistam Noemi toda feliz segurando Obede. Sorridente, ela fala com ele em seu colo, que já sorri para ela.
Rute e Boaz, contentes, se abraçam e ficam observando-a, até que ela os nota.
NOEMI
Veja, Obede! Olha lá! Mamãe e papai chegaram! Ahn?! Vamos lá?! Vamos ver a mamãe! Será que o papai trouxe algum presente?! Hum?!
E ela volta na direção deles.
CENA 38: EXT. HEBROM – TEMPLO – FRENTE – DIA
Em outro dia, na capital de Israel, Hebrom, o julgamento dos membros da Caravana da Morte acontece de frente para a entrada do templo, que fica na grande praça central.
Chega a vez da sentença de Tamires.
JUIZ
Tamires, na condição de autora intelectual do grupo, mandante de 28 assassinatos e cúmplice de 114, é condenada à prisão perpétua.
Os guardas a levam dali.
CENA 39: INT. HEBROM – PRISÃO – DIA
Dois guardas levam Tamires pelo corredor. Há celas com presos dos dois lados.
TAMIRES
Saúdam-me! Atentem-se, pois Tamires, sua senhora, chegou!
E gargalha.
Ao chegar à cela, eles a abrem.
TAMIRES
É nisso aqui que eu vou ficar?! Nesse lugar sujo e úmido?! Isso aqui está fedendo!
Os soldados a empurram de leve e ela entra ali. Logo uma mulher alta e corpulenta passa por eles e também entra na cela. Estranhando, Tamires olha para ela.
TAMIRES
Quem é você?
MULHER
Pode me chamar de Flor. Sou a comandante responsável pela prisão.
TAMIRES
Bom pra você.
FLOR
Meus pais foram mortos pela Caravana da Morte há alguns anos.
Tamires a encara.
FLOR
Quando eu soube que a criadora de tudo viria para minha prisão...
Aproxima-se de Tamires.
FLOR
...pensei em matá-la.
Tamires engole em seco.
FLOR
Mas eu consegui superar isso, e não vou me rebaixar ao seu nível.
Tamires respira um pouco mais aliviada. Flor se afasta e circula pela cela.
FLOR
No entanto, as coisas aqui serão um pouco diferentes do que você pode estar esperando. Como disse, eu sou a comandante. A chefe. E, apesar de não matar, posso fazer com que você durma por uns... sei lá... 7 dias com as costelas ardendo.
Tamires fica acuada. Flor volta para perto dela e a encara.
FLOR
Portanto, quando for andar por esses corredores, é nariz para baixo e boca fechada. Quando os guardas vierem aqui, é nariz para baixo e boca fechada. Quando tiver que ir em qualquer lugar, para fazer seja lá o que for, como deve ser?
Tamires não responde nada.
FLOR
Não ouvi!!!
TAMIRES
Nariz para baixo... e boca fechada.
Flor sorri.
FLOR
Ótimo, Tamires, ótimo! Muito bem. Teremos o resto da vida para sermos grandes amigas. (sorrindo) Shalom!
Flor sai da cela e os guardas fecham e trancam a porta. Tamires vai para o canto e senta no chão. Está acabada...
FADE OUT:
3 ANOS DEPOIS
FADE IN:
CENA 40: EXT. BELÉM – CAMPO - DIA
Ao pé de um pequeno monte verde, há um grande campo relvado e cheio de árvores. Diversas famílias estão reunidas por ali brincando, comendo sentados no chão ou apenas conversando.
Rute, Boaz, Diana, Josias, Tani e Jurandir estão com Leila, Aylla, Myra, Orfa e o marido dessa. Noemi está brincando com OBEDE (3 anos) um pouco afastada, mas ouvindo a conversa.
RUTE
Por que vocês não vêm para Belém?
LEILA
Ah, Myra já está com seu projeto consolidado lá em Hebrom.
MYRA
(animada) Já consegui vários músicos voluntários para ensinar as crianças mais pobres a tocarem.
LEILA
E eu encontrei um ponto ainda melhor para a minha loja. Aylla também está bem animada, não é, filha?
AYLLA
Eu amo Hebrom! Nunca pensei que iria gostar tanto de uma cidade.
ORFA
Talvez parte dessa alegria seja porque tem um certo alguém por lá a rodeando... Só talvez.
Aylla fica enrubescida e eles riem.
AYLLA
Rum!
RUTE
E você, Orfa? Como está, minha amiga?
ORFA
Comigo foi um pouco difícil, mas... No fim das contas eu consegui encontrar Deus de verdade. (olhando o marido) Há 2 anos nós nos conhecemos... (a mão na barriga) e mais alguns meses e o fruto do nosso amor nascerá.
NOEMI
(brincando com Obede) Orfa, você está grávida?!
RUTE
Que incrível, minha amiga!
Rute e Orfa se abraçam felizes.
RUTE
Amei saber! E, realmente, já dá para ver a barriguinha!... Ai, que lindo...
NOEMI
E Myra? Não lhe apareceu nenhum pretendente, minha amiga?
MYRA
Eu... não acho que mereço, vide o meu passado... Quero apenas me dedicar às crianças.
Noemi, preocupada, se aproxima. Rute pega o filho no colo e Noemi vira para Myra.
NOEMI
Myra, quando nós nos arrependemos de verdade e vamos para o Senhor, todos os nossos erros de antes são apagados, e Ele não se lembra mais deles.
Myra a escuta.
NOEMI
Dê uma chance a si mesma. Abra o coração para que possa perdoar a si mesma.
Myra sorri.
MYRA
Obrigada, Noemi.
NOEMI
Bom, vocês todos... podem ficar à vontade. Esse lugar aqui é maravilhoso para se passar o dia de folga, então... Divirtam-se!
Eles sorriem e se espalham. Tani e Jurandir passeiam sobre as árvores. Ele pega uma flor e coloca na orelha dela, que sorri para ele. Diana e Josias se sentam e observam as famílias. Trocam um beijo. Leila, Aylla, Myra, Orfa e seu marido se sentam para comer.
Noemi olha para o pequeno monte ali do lado e de volta para Rute e Boaz.
NOEMI
Eu vou subir ali e me sentar um pouco... Gosto da visão.
RUTE
Eu vou junto. Boaz, fique com o Obede...
BOAZ
Tudo bem.
RUTE
Vai com o papai, meu amor. Dá um beijo na mamãe.
Obede beija o rosto de Rute.
RUTE
Eu te amo, meu filho.
OBEDE
Também te amo, mamãe!
Noemi pigarreia.
OBEDE
Eu te amo, vovó!
Noemi sorri e pisca para ele. Rute e Boaz trocam um beijo e ele sai correndo com o menino. Ela e Noemi se olham, sorriem, e sobem o monte.
Lá em cima, de braços entrelaçados, elas caminham tranquilamente em direção à borda, de onde pode se enxergar todo aquele campo e além.
NOEMI
Dizem que quando encontramos e cumprimos o propósito de nossas vidas, todos os caminhos que nos levaram até ali... passam por nossa mente.
Elas chegam à borda do monte e observam com alegria os belemitas se divertindo pelo campo. Lá pelo meio, Boaz corre com Obede. Rute sorri.
Então elas se sentam ali.
RUTE
Qual seria esse propósito da sua vida, mãe?
Noemi parece pensar por um breve instante.
NOEMI
Acredito que entender o significado da Promessa... e alcança-la.
Rute faz que sim e Noemi olha para ela sorrindo.
NOEMI
Minha Promessa.
RUTE
(sorrindo) Que privilégio, mãe.
Então olham lá para baixo, onde Boaz e Obede acenam para elas, que retribuem.
RUTE
Eu não tenho certeza se já alcancei o meu propósito... mas me sinto realizada, de todas as formas que alguém pode se sentir realizada. De qualquer forma... a vida é isso. Sempre em frente.
NOEMI
Exatamente, minha filha. Sempre em frente. Somos todos filhos e servos do Deus vivo. Cada um de nós tem uma promessa... uma promessa de amor e salvação.
RUTE
(sorrindo) Então vou continuar caminhando.
NOEMI
E eu me recuso a não continuar.
Rute ri. Então estende sua mão para Noemi.
RUTE
Pois então vamos juntas?
Noemi pega a mão de Rute.
NOEMI
Juntas.
Elas sorriem.
Muitos anos depois, o filho de Rute e Boaz, Obede, se casou e teve um filho chamado Jessé, que por sua vez teve um filho chamado Davi, o famoso rei Davi! Ao longo das centenas de anos mais tarde, os filhos dos filhos de Davi continuaram a linhagem, até que nasceu um homem chamado José, que se casou com uma mulher chamada Maria, que teve um filho cujo nome era Jesus, que salvou a humanidade, cumprindo assim diversas profecias e também o sonho do Ancião. Sim, tanto Raabe quanto Rute, mulheres estrangeiras, foram lembradas como parte da linhagem de Cristo.
Mas tudo isso foi muito tempo depois. Ali, naquela tarde em que Rute deitou no ombro de Noemi, é como se o tempo tivesse parado, e elas apreciassem aquele momento agradável sem nenhuma preocupação.
Rute e Noemi... Filha e mãe...
Juntas.
FIM
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Ufa... E não é que acabou?! Bom, então vamos à saideira.
Gostaria de agradecer primeiramente a Deus, pela vida e inspiração; na verdade, a Ele, dou minha eterna gratidão.
À equipe do RanableWebs agradeço pelo espaço cedido para que eu contasse essa história tão linda e que há muito gostaria de fazer. Com vocês, alcancei pessoas que não poderia ter alcançado normalmente.
E, claro, não poderia deixar de agradecer a você, leitor, que acompanhou a saga de Noemi até o fim. Foi um prazer caminhar esse trecho de nossas vidas juntos.
A todos que, de uma forma ou de outra, ajudaram essa obra a ser o que é, meu muito obrigado!
E recomendo a todos que leiam a obra original, o livro de Rute, único, insubstituível e inigualável. Seu tamanho é inversamente proporcional à sua importância e beleza – romântica e espiritual. E depois digam-me o que acharam, hein!
Até breve!
Obrigado pelo seu comentário!